O assalto que culminou com um pai baleado enquanto buscava o filho na Escola Estadual Evaristo de Antoni, no bairro São José, na tarde de terça-feira, acabou por revelar o clima de apreensão vivido por quem mora ou trabalha na região.
Os criminosos se mostram despreocupados: atacam até mais de uma vez por dia e em horários de bastante movimento. Entre os suspeitos, estão jovens na faixa dos 16 aos 25 anos, que não agem sozinhos.
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Na tarde de quarta-feira, Tales da Silva Pereira, 32 anos, atingido por um tiro na perna direita quando chegava à escola para pegar o filho, conversou com o Pioneiro. Ele estava internado na emergência do Hospital Pompéia, recuperando-se do ferimento:
- Eu não tive nem tempo de expressar alguma reação. Ele (o assaltante) chegou ao lado do meu carro e já passou a faca na minha mão. Falou que era para eu entregar tudo que tinha, pois ele não estava brincando. Desci do carro com as mãos para cima. Nessa hora, ele deu três disparos em direção às minhas pernas. Nisso, dois comparsas que estavam dando apoio saíram correndo e ele fugiu com o meu carro. Nunca imaginei que em plena luz do dia e em frente a uma escola eu seria assaltado desta forma. A nossa vida não tem valor algum para os bandidos - desabafa Pereira, que mora no loteamento Parque Oásis.
Após ficar oito meses desempregado, Pereira voltaria ao trabalho na quarta-feira. Traumatizado com o assalto, ele já pensa em ir embora da cidade com a família.
- É uma sensação de impotência e insegurança total. Por sorte não estava com o meu filho menor no carro. Sempre levo ele junto, mas ontem (terça-feira) deixei em casa. Eu preciso zelar pela vida deles (os filhos) - afirma Pereira, que é pai de dois meninos, de dois e nove anos.
A diretora da Evaristo de Antoni, Heloísa Elisabeth Medeiros, relata que os assaltos são diários no bairro:
- Não temos segurança alguma. Vivemos como prisioneiros dentro da escola. Os bandidos não escolhem hora. Dia e noite estão circulando por aqui atrás de uma nova vítima. E o que a gente pode fazer? Nada. Estamos nas mãos deles - afirma Heloísa.
Na quarta-feira, uma loja localizada a duas quadras do colégio, na Rua Moreira César, também foi assaltada. Por volta das 9h, três homens armados entraram no estabelecimento e renderam os funcionários. Eles chegaram em duas motocicletas e não tiraram os capacetes para atacar. Os criminosos levaram dinheiro e alguns produtos. A ação durou poucos minutos.
- Tenho medo. Não estamos seguros aqui. Todo dia assaltam uma loja ou duas no quarteirão. Estou apavorado - diz Marlon Josué Martins, 22, funcionário do estabelecimento.
Policiamento
Os assaltos são mais frequentes na área comercial do bairro São José. Segundo Laura da Rosa, 56, gerente de uma farmácia na Rua Moreira César, nem mesmo o segurança particular, contratado por conta dos assaltos, consegue coibir a ação dos criminosos.
- Estamos sempre preparados. Já perdi as contas de quantas vezes fomos assaltados nos últimos cinco meses. O prejuízo material é grande, mas o pavor que os bandidos deixam é bem maior. Raramente vejo policiais rondando pela região - reclama Laura.
O depoimento da gerente é confirmado pelo proprietário de uma borracharia na Rua Evaristo de Antoni. Pablo da Costa Martins, 33, só escutou falar do policiamento comunitário, mas nunca viu ação dos policiais.
- A polícia só aparece depois que já aconteceu. Enquanto isso, vivemos com medo - diz Martins.
De acordo com o comandante da 2ª Companhia da Brigada Militar de Caxias, capitão Marcelo Segala Constante, diariamente a corporação faz rondas pelo bairro.
- Estamos empenhados em acabar com a criminalidade. Nos últimos meses, os casos aumentaram, mas o São José ainda não demanda um maior efetivo. Não temos como ter um policial 24 horas em um bairro só. Já estamos trabalhando para identificar e prender os criminosos. O bairro não está desassistido - garante Constante.
Apesar de não relatar números, a BM afirma que outros bairros de Caxias possuem índices mais altos de assaltos. Um deles é o Pio X, onde um homem foi preso na manhã de quarta-feira.
- Hoje (quarta-feira) mesmo prendemos um indivíduo que praticava assaltos em estabelecimentos comerciais. Até quando ele ficará preso é o problema. O nosso trabalho é feito, mas não podemos garantir que um dia a criminalidade será banida - diz o capitão.