Ele chegou com a fama de xerifão da nova zaga grená. Aos 34 anos, o experiente zagueiro Dirceu, com passagens por Portugal, Tailândia e com destaque no futebol paranaense, revela momentos únicos de sua carreira. Cidadão de Ibaiti-PR, o jogador quase abandonou a profissão, há pouco mais de um ano, mas hoje sonha com o acesso pelo Caxias, em 2023.
Quando subiu das categorias de base do Coritiba, Dirceu atuava como volante, destacando-se pelo bom passe. Por isso, ele pode vir a ser peça fundamental no esquema do técnico Thiago Carvalho pela saída de bola qualificada na transição para o meio de campo. Depois de três semanas intensas de trabalhos físicos, o jogador concedeu entrevista ao Show dos Esportes, da Gaúcha Serra, e falou o que pensa sobre o ano que vem no Estádio Centenário.
Recuperar imagem ruim do Coritiba
No Coxa, Dirceu realizou o sonho de ter o primeiro contrato como atleta de futebol assinado, aos 16 anos, mass depois de dedicar-se ao máximo pelo clube, não saiu da forma planejada.
— Saí pela porta dos fundos como se fosse um qualquer. Precisava de uma oportunidade para provar que eu não era aquilo que falavam de mim. Olhava minha mãe e as pessoas ao meu redor sofrendo, até que abriu-se a oportunidade para ir ao Londrina, em 2013. Fiquei quatro anos, naquele que talvez tenha sido meu melhor momento na carreira. Tivemos acessos em nível nacional, conquistamos a Primeira Liga, e ali tive uma valorização muito grande no estado do Paraná. Chegou ao ponto de torcedores e diretoria do Coritiba cogitarem meu retorno num cenário completamente diferente - destacou.
Dirceu também carrega na bagagem passagens pelo futebol internacional. Na Ucrânia, por questões políticas que viriam a prejudicar inclusive o pagamento de seus salários, o atleta ficou poucos meses. Contudo, os dois anos em Portugal, atuando pelo Marítimo e pela Vilafranquense, somados aos seis meses na Tailândia agregaram muito à vida do experiente jogador.
— Isso ninguém nos tira. Hoje tenho uma filha de oito anos que aprendeu a falar o português de lá. Na Tailânia, o futebol é uma loucura. Tecnicamente o jogador vai bem, mas taticamente está bem abaixo, começa o jogo organizado, mas depois de 15 minutos vira uma bagunça. No final, o zagueiro vai pra área, só dá chutão, vira uma correria. Quem tem perna pra aguentar até o fim vai ser feliz - brincou Dirceu.
Em Portugal, o zagueiro sentiu a diferença tática dos treinadores que, anos depois, viriam a conquistar a preferência de muitos clubes brasileiros.
— Confesso que nos primeiros seis meses, 90% dos gols que sofremos foram nas minhas costas. Lá é totalmente diferente, desde o posicionamento corporal até o passe. Os portugueses falam que no Brasil existe muito jogo de pelada. A intensidade em Portugal é muito grande. O zagueiro é obrigado a forçar o passe por dentro, tamanha a qualidade deles e o entendimento, o jogo meio robotizado, mas eficiente. Taticamente evolui bastante lá - afirmou.
Centenário virou lar
Mesmo já tendo escolhido o apartamento em que vai morar com a família em Caxias do Sul, Dirceu ainda vive no Estádio Centenário e elogia a estrutura do clube.
— A estrutura é muito boa. É fundamental estar ali, ter essa ligação, um relacionamento. Estou há quinze dias sem contato direto com minha família. Convivo mais com os colegas de clube, com a Tia Diana que faz o café e cozinha pra nós, com seu Itacir que cuida do campo, e não deixa a gente atravessar o gramado para não prejudicar a qualidade (risos). Ter contato com essas pessoas que estão diretamente ligadas ao clube, mas que não aparecem, vai criando uma identidade, uma energia positiva que no final faz diferença. É por estas pessoas, num momento de fraqueza, que temos que lutar, porque merecem - admitiu.
No Paraná, Dirceu e os atletas que por lá passaram, sentiram na pele o peso de carregar alguns rebaixamentos do clube, tanto no regional como nos campeonatos brasileiros, uma vez que o tricolor hoje está sem divisão nacional, depois de disputar a série A em 2018. No Caxias, o peso do acesso à série C também não é dele, mas o zagueiro sabe da responsabilidade que todos têm.
— O clube é muito bem falado e reconhecido. A única coisa que falta é esse próximo passo, o acesso. O torcedor ainda está com a ferida aberta. Mas o futebol é assim, foi dolorida a eliminação para o América-RN, mas a página virou e chegamos com muita vontade. Palavras bonitas não adiantam em nada. Essa confiança vem conforme os resultados aparecerem. Precisamos do apoio, porque o grupo está sendo formado para somar objetivos desde o gauchão - garantiu.
Dirceu nunca jogou um campeonato gaúcho, apesar da família da esposa ser de Passo Fundo e do pai ser criado em São Leopoldo, onde o os primos jogam semanalmente e convidam o zagueiro para assisti-los. O rótulo de xerifão, Dirceu deixa o torcedor à vontade para definir.
— Pelo meu perfil, aprendi que o zagueiro tem que falar muito, sou um cara chato dentro de campo com meus companheiros. Pra mim não faz diferença ser rotulado ou não. Vou tentar ajudar - explicou.
Há pouco mais de um ano, Dirceu tinha optado por parar de jogar futebol. A decisão ocorreu depois da disputa do Paulistão, pelo São Bento, quando o atleta ficou quatro meses sem receber convites de outros clubes.
— Falei com minha esposa e disse que ia parar. Daí alguns amigos empresários compraram o clube São Joseense, da segunda divisão do Paraná, e decidir ir. Subimos e fomos campeões. Depois fizemos uma boa primeira divisão, daí veio a ascensão no Paraná, Operário e agora estou no Caxias. E de fôlego renovado, sonhando mesmo aos 34 anos, com o futebol. Não sei o que virá daqui pra frente, só sei que todos os dias acordo com ânimo, com muita vontade de fazer acontecer.
Dirceu tem a mesma idade que o técnico Thiago, a quem admite ter enfrentado e ter se revelado um zagueiro de qualidade. Hoje, como treinador, Thiago dá conselhos e corrige posicionamentos que Dirceu diz ser importantes, mesmo na etapa final de sua carreira. Ansioso, o jogador vai começar a mostrar toda sua dedicação no primeiro jogo teste do Caxias que acontece contra o Sindicato dos Atletas no sábado (10) às 11h da manhã, com portões fechados.