Mais de 4 mil participantes vivenciaram por 15 dias um sonho, de estar em uma Surdolimpíada. Caxias do Sul e a Serra Gaúcha abraçaram os surdoatletas de 77 nações. A chama olímpica aqueceu as tardes frias e acendeu a luz sobre a inclusão social. Para o presidente do Comitê Internacional de Esportes para Surdos (ICSD), Gustavo Perazzolo, não há preço ver o sorriso de cada atleta.
— Corresponde ao sonho deles, o resultado do sonho, e isso me deixa orgulhoso. Quero agradecer a participação de todos, mesmo as delegações que perderam ou ganharam. Todos são ouro. Eu quero desejar um bom retorno a suas casas e países. Para comunidade de Caxias, quero que se torne um momento de mudança e de continuar com a visibilidade ao esporte surdo — comentou o presidente.
Não foi a maior Surdolimpíada em número de participantes. Conforme Perazzolo, a guerra na Ucrânia e a pandemia reduziram o quantitativo. A Rússia foi excluída dos jogos devido à invasão ao país do leste europeu. Contudo, ele celebrou a grande presença feminina e de países da América Latina e da África.
- Na realidade, ela não é a maior. A gente teve uma redução de participantes com a pandemia e a guerra na Ucrânia. Perdemos cerca de 800 atletas que eram esperados. Mesmo assim, tivemos uma participação muito grande, mas não conseguimos ter o maior número de atletas participantes de uma Surdolimpíada. Nas competições femininas, tivemos o maior número de participantes. Também tivemos o maior número de países da África e da América latina que vieram ao Brasil — destacou o presidente do ICSD.
A próxima Surdolimpíada ainda não está definida. O evento ocorrerá em 2025. O Japão desponta como favorito, mas os reflexos da pandemia podem mudar de rumo a realização dos Jogos. O presidente adota cautela, pois há tempo para escolher a futura sede. Caxiense, o presidente do Comitê também comentou sobre os pontos positivos e o que poderia ter sido melhor nessa edição durante entrevista ao Pioneiro.
DESAFIOS
— O desafio principal foi o clima, não esperávamos um clima chuvoso, frio, eles não esperavam. Foi um desafio para nós. Uma semana de chuva comprometeu os campos (para o futebol). Para a competição foi um desafio, tivemos que reorganizar e isso de fato não foi fácil. Além disso, tivemos que reorganizar as tabelas com todos os horários. Tivemos alguns problemas de transporte, que precisou ser readaptado também nos horários de chegadas dos atletas aos locais de competição. Mesmo com esse desafio, a gente conseguiu reorganizar e a competição seguiu — avaliou Gustavo Perazzolo
PÚBLICO
— Tem três coisas que podemos destacar. A primeira delas, os locais estavam bonitos, preparados para receber os atletas. Segundo, o clima e o frio atrapalhou um pouco, mas tivemos uma participação importante do público, muitas escolas foram, tivemos espaços lotados. Isso emocionou os atletas e as delegações. Essa interação com as crianças para entenderem o que significa o esporte. Foi um espaço de inclusão social e visibilidade para as pessoas surdas. Adoro uma frase que uma criança surda falou: "Nossa, quantas estão aqui conhecendo sobre os surdos". Ela estava feliz por isso — revelou Perazzolo.
PRAÇA SURDOLÍMPICA
— Foi um espaço familiar, para troca de ideias, conversar, um ponto de encontro para todos os países e culturas diferentes. Isso foi um momento de recuperação do período de isolamento da pandemia. Foi um momento de felicidade. Os atletas relataram que gostaram da ideia de disponibilizar um chip de celular para todos, para que pudessem conversar e o espaço aqui nos Pavilhões que nunca ocorreu na história da Surdolimpíadas, um espaço de convivência. Tinha tudo, lojas, restaurante, lavanderia e saída dos ônibus — avaliou o presidente do ICSD.
LEGADO
— Acho que deixamos um legado para as crianças que assistiram os jogos. Elas terão essa lembrança para sempre. A participação de tantos atletas e delegações, isso marca a cidade. Tivemos a participação de mais de 100 mil pessoas em todas as competições. É uma visibilidade muito grande para Caxias do Sul e milhões acompanhando em todo o mundo. Hoje, o mundo inteiro sabe onde fica Caxias do Sul —concluiu o presidente.