Caberá aos comandados do técnico caxiense Paulo André Cazarotto darem o pontapé inicial na representação do país nas Surdolímpiadas de Verão. Pela primeira vez, os Jogos serão realizados na América Latina, e Caxias do Sul foi escolhida para esse momento histórico. A seleção brasileira masculina de futebol de surdos iniciará sua trajetória na competição no dia 30 de abril, véspera da abertura oficial do evento.
O jogo diante de Camarões será às 10h, mas ainda não tem o estádio definido. Vale ressaltar aos torcedores que não haverá cobrança de ingressos para todas as partidas do futebol, assim como nas demais modalidades.
Entretanto, antes de a bola rolar para a seleção, o caminho para chegar às Surdolimpíadas não foi fácil. O técnico, por exemplo, não vai poder contar com quatro jogadores, sendo três titulares. O motivo é que algumas empresas não liberaram seus profissionais para os Jogos.
— Em fevereiro, saiu a convocação. Aí alguns atletas desistiram, outros quatro foram barrados por suas empresas, sendo que eram essenciais para a seleção. Depois, a gente tem os suplentes, que foram sendo chamados e fechamos os 22 atletas. Mas perdi um zagueiro, dois meias e um atacante. Dos quatro, três seriam titulares mas, infelizmente, a mentalidade ou a burocracia das empresas barraram os surdoatletas — comentou o treinador, em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra.
Cazarotto acompanha as dificuldades do futebol masculino de surdos desde 2011, quando assumiu o comando técnico da Seleção. Hoje, não existe um campeonato nacional com calendário cheio. Geralmente, o Brasileirão de Surdos é realizado em um final de semana. Ele diz que a situação não é precária na modalidade, mas limitada. Para as Surdolimpíadas, o treinador conseguiu com o Caxias o empréstimo de um quadro tático, bolsas térmicas e caixa d’água.
— Desde 2011, todos os atletas pagavam suas viagens, seus alojamentos, suas refeições. Por exemplo, em um Pan-Americano na Venezuela, em 2012, foram R$ 3,5 mil. Cada um pagou o seu. Isso aconteceu até o final do ano passado. Neste ano surdolímpico, conseguiram uma verba e patrocínios. Eles só têm um custo, que é uma taxa de U$ 60, que é a que a competição pede. Mas a CBDS conseguiu apoio para viagens, alimentação e hotel — explicou o comandante da Seleção Brasileira de Surdos.
O último amistoso da seleção foi em 12 de dezembro, quando enfrentou o time máster do Juventude, no Estádio das Castanheiras. Na ocasião, derrota por 2 a 1, mas muitos jogadores que participaram não foram convocados, pois o elenco era composto por atletas de uma seletiva. Cazarotto detalha como foi essa preparação:
— A partir do final de 2020, nós começamos treinos online, nas terças e quintas-feiras. Depois, em 2021, foram terças, quintas e domingos. Só que online não é igual ao presencial. No online, a gente está vendo a parte física deles, mas não vemos a qualidade técnica. Então, a partir do segundo semestre de 2021, começaram os treinos presenciais, uma vez por mês, em São Paulo. Aí, nós viajávamos, nos reuníamos e treinávamos lá. Só que é aquela história, cada atleta pagava o seu.
COMUNICAÇÃO
Não há diferença nas regras do futebol para a modalidade nas Surdolimpíadas. A única mudança é que o árbitro usa uma bandeira, além do apito. Assim como os auxiliares, o instrumento serve para orientar os jogadores sobre faltas e de quem é a posse de bola. Para o treinador, a comunicação não é um adversário. A comissão técnica possui uma intérprete fixa, mas ele possuiu um entrosamento com o seu elenco na hora de passar as orientações
— A comunicação é visual. Eles levantam a mão. Não tem como pedir a bola, não adianta. Alguns até ouvem um pouco, mas 90% da equipe não. Na hora em que o árbitro levanta a bandeira, os bandeirinhas também têm que levantar. Tenho um combinado com o capitão, com o goleiro e com o atacante. Quando acabou a jogada, tanto de ataque, quanto de defesa, eles têm que olhar para mim. Fora que eu tenho um atleta que ouve um pouco. Eu o chamo e ele vira para mim. É o Júlio Santos, que é o nosso aqui do Rio Grande do Sul — afirma Cazarotto.
ADVERSÁRIOS
Depois da estreia no dia 30, a seleção entra em campo novamente em 2 de maio, às 14h, para enfrentar a Itália. No dia 4, às 14h, tem Brasil e Holanda. Já no dia 6, às 10h, fecha a tabela da primeira fase contra o Irã. Praticamente, o time terá apenas um dia de descanso entre as partidas. Do grupo de cinco seleções, passam os dois primeiros avançam. Cazarotto analisa quem são as potências no futebol surdo:
- Ucrânia e Turquia. As duas são parelhas. Se nós passarmos de fase, e penso que vamos passar, provavelmente pegaremos a Ucrânia. Aí já é valendo vaga em uma semifinal, que vale medalha. Então, a nossa ideia é classificar e já pensar na Ucrânia. O pessoal pode pensar que o Irã é mais fraco, mas não. O Irã é o atual bicampeão mundial de futsal, e a base deles vem do futsal. Eles têm torneios somente para surdos lá. A Holanda e uma parte da Itália jogam em competições nacionais que são só para surdos.
Os convocados da seleção brasileira começam a se apresentar já no próximo sábado (23) em Caxias do Sul. A Confederação Brasileira de Desportos para Surdos (CBDS) reservou hotel a partir do dia 28, em Bento Gonçalves. Entretanto, a comissão técnica da seleção conseguiu fechar uma parceria com a Rede Murialdo, que emprestou o campo, alojamento e a quadra de futsal para antecipar a preparação. O Esporte Clube São Luiz, da 6ª Légua, também colocou seu campo à disposição para treinos.
MODELO DE JOGO DIFERENTE
Quem for acompanhar os jogos do Brasil não vai observar os modernos esquemas táticos 4-1-4-1 ou 4-2-3-1. Conforme Cazarotto, esse é um ponto muito importante. Não há espaços para invenções. A parte motora é levada em consideração devido à falta de audição. O meio-campo não conta com os tradicionais homens de contenção. Os volantes dão lugar aos meias —são seis no total.
— Se eu tivesse o plantel com os quatro atletas (que não foram liberados pelos empregados), seria um esquema simples, ou é o 4-4-2 ou 4-3-3. Por causa da audição, a parte motora é deficitária. Então, não posso inventar moda de querer jogar. Gosto de povoar o meio-campo, mas sem volantes. Jogo com meias. São três zagueiro, seis meias que sabem marcar e sair jogando. Na frente, um atacante. Dois meias jogam pelos lados, outros dois centralizados e dois que chegam na área, mas eles vão rodando sem posição fixa — especificou o treinador da Seleção Brasileira de Futebol de Surdos.
O técnico chama a atenção para dois atletas do time: o centroavante Alan de Oliveira Santos e o meia Vitor Figueiroa. O último joga profissionalmente e atua na terceira divisão do futebol de Minas Gerais.
GRUPOS
FUTEBOL - MASCULINO
GRUPO A: Argentina, Egito, França, Ucrânia e Coréia do Sul
GRUPO B: Brasil, Holanda, Camarões, Itália e Irã.
GRUPO C: Mali, Estados Unidos, Iraque, Alemanha (atual campeã) e Turquia
GRUPO D: Senegal, Grécia, México, Uzbequistão e Polônia.
JOGOS
Dia 30 de Abril
10h - Brasil x Camarões - Local a definir
Dia 2 de Maio
14h - Brasil x Itália - Local a definir
Dia 4 de Maio
14 - Holanda x Brasil - Local a definir
Dia 6 de Maio
10h - Irã x Brasil - Local a definir
Dia 14 de Maio
10h - Disputa pelo bronze
Dia 15 de Maio
Final do Futebol
14h - Disputa pelo ouro