Caxias do Sul conta os dias para a chegada das delegações das Surdolimpíadas de Verão. Será a primeira vez que a América Latina receberá o evento esportivo, entre 1º e 15 de maio. A cidade aguarda por cerca de 5.300 mil atletas e membros de delegações, e durante o período a Serra Gaúcha será aquecida pela chama olímpica.
Para acolher todos os profissionais, a rede hoteleira projeta uma taxa de ocupação de 100% durante os dias de Jogos. Em Caxias do Sul, são 11 hotéis credenciados. Entre eles está o Blue Tree Towers, que vai receber cinco delegações. Os competidores da Eslováquia, Bélgica, Hungria, Áustria e Suíça ficarão hospedados no hotel, totalizando cerca de 100 pessoas.
Segundo a gerente geral, Roberta Albuquerque, a administração vem recebendo um suporte do comitê organizador local para os últimos detalhes antes da chegada dos surdoatletas. O hotel trabalha com os protocolos do comitê organizador e os seus próprios.
— Temos os nossos protocolos internos de rotina, como higienização de caixa d'água, laudo e qualidade da água, o que para a gente é comum. Todo o cuidado é necessário. São atletas e têm a questão da alimentação e armazenamento de alimentos — explicou.
O hotel começará a receber os primeiros hospedes no dia 25 de abril. Alguns deverão ficar até 17 de maio. Para o setor, será um momento único e a experiência adquirida servirá como um cartão de visitas para outros eventos desta magnitude.
— É uma experiência única. É um grande teste para toda cidade receber um evento deste tamanho. É um cartão de visitas para outros eventos. A nossa ocupação está praticamente cheia para o período, não temos muita margem — contou Roberta Albuquerque.
CULTURAS DIFERENTES
O Hotel Swan também está credenciado e vai receber uma grande delegação. A Coreia do Sul ficará hospedada com 142 membros. Segundo explica o gerente operacional, Gabriel Bertelli, os primeiros hóspedes chegam no dia 23 de abril. O país ocupará 95% dos leitos durante o período. Um dos cuidados é a alimentação. Bertelli detalha que não foi solicitado algo específico.
— Estamos preparados para receber eles com uma demanda grande de produtos mais proteicos, como queijo. O pão de queijo é muito admirado por eles. Pediram só para abrir o café mais cedo, mas estará dentro da nossa janela normal, às 6h — disse o gerente do Swan.
Além da alimentação, pequenos detalhes são importantes. Um deles é referente aos plugs das tomadas. O hotel comprou adaptadores, pois as entradas são diferentes das utilizadas na Coreia do Sul.
— Foi feito todo um estudo no que tange a questão da energia elétrica. Eles também solicitaram se poderiam deixar uma bandeira da Coreia do Sul aqui na recepção, e fizeram uma visita técnica no mês de fevereiro, onde olharam nossos quartos, área de lazer, academia e solicitaram mais uma sala de eventos para fazer reuniões e a preleção. Também teremos uma sala médica especifica — contou Bertelli.
O Hotel Blue Tree Towers vai receber uma gama maior de delegações vindas da Europa, todas com culturas diferentes. A gerente geral explica que o estabelecimento já tem como padrão realizar um estudo do perfil dos seus hóspedes, principalmente quando veem em grupos. O café da manhã, por exemplo, seguirá o modelo de buffet. Porém, a ideia é incrementar alguns alimentos que se aproximem da cultura das delegações.
— Temos o restaurante, e eles trabalham com café da manhã buffet, com uma grande variedade. Não são todos os dias os mesmos itens, mas têm alguns de padrão internacional. A cada dia se incrementa e faz algum item diferente — relatou Roberta.
Para manter um padrão nas refeições, o comitê organizador conta com o trabalho da nutricionista Josiane Camazzola. Ela enfatiza que o mais importante é garantir a segurança alimentar dos atletas, pois qualquer situação adversa pode inviabilizar a participação em uma prova:
— Equalizamos o cardápio de todos os atletas. Eles precisam ingerir carboidratos, proteínas e lipídeos. Mas não queremos que o atleta do hotel A tenha diferença no hotel C. Então, precisamos minimizar qualquer tipo de problema. Precisamos manter uma alimentação padrão.
Como responsável pela área, Josiane conta ter orientado os hotéis sobre uma série de ações. A Vigilância Sanitária também auxilia para reforçar as boas práticas de manipulação. Foi realizado um levantamento com todos os empreendimentos quanto ao certificado de higienização de caixa d'água, pragas e vetores para garantir a segurança.
Os hotéis ficarão responsáveis pelo café da manhã. O almoço será concentrado na Praça Surdolimpíada, montada nos Pavilhões da Festa da Uva. Cerca de 80% das refeições serão realizadas no espaço. Alguns restaurantes também foram credenciados.
Alguns países têm restrições alimentares. Entre os motivos, a religião. Josiane revela que fez um estudo para respeitar as peculiaridades de cada país. Algumas delegações fizeram pedidos específicos, mas ela admite ser difícil atender todas as solicitações, pois são mais de 5 mil participantes.
— Padronizei o cardápio, mas nas questões religiosas há um respeito. Temos alguns indianos, e para eles não vou ofertar carne de vaca. São esses detalhes que estou me preocupando. Tive pedido de tâmaras, carne de cordeiro para o pessoal que está saindo do ramadã. Todos pediram muitos, mais muitos ovos, pela quantidade de proteína que esses atletas precisam estar consumindo — explicou a nutricionista do comitê organizador local.
COMUNICAÇÃO
A comunicação é elencada como o principal desafio. Tendo em vista esse ponto, as redes estão engajadas para não a transformar em uma barreira. O foco está na comunicação visual em inglês. Praticamente todos os hotéis já adotam esse modelo. No Blue Tree Towers, funcionários de diversos setores estão fazendo o curso da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
— Os colaboradores estão fazendo o curso de libras e linguagem internacional. São de vários departamentos, para receber os atletas. Isso é uma marca do hotel em receber bem. Temos colaboradores da recepção, governança, comercial, financeiro — conta Roberta Albuquerque.
Roberta diz que os Jogos Surdolímpicos trazem a peculiaridade da língua de sinais, para a qual é necessário um processo de aprendizagem contínuo. Contudo, ela reforça que a tecnologia também ajuda na hora de se comunicar:
— Ninguém aprende tudo da noite para o dia, mas pelo menos a questão básica. Já tivemos visitas de alguns atletas e foi uma experiência interessante. A comunicação até se deu muito pelo celular, de mostrar e a pessoa responder. Foi interessante. Claro que com a especialização vai ajudar.
No Hotel Swan, dois funcionários realizam o curso. Durante uma visita técnica, a comunicação foi uma dificuldade encontrada, pois as delegações de fora usam a língua internacional de sinais. Libras é uma língua específica brasileira.
— A organização nos passou que teremos dois intérpretes. Estamos fazendo o curso de 100 horas aulas com dois recepcionistas. São quase 40 horas de sinais internacionais, mas é uma linguagem muito abrangente, então há uma dificuldade — justificou Gabriel Bertelli, gerente operacional do Swan.
SETOR COMEMORA
Após dois anos de muitas dificuldades com as limitações impostas pela pandemia, o setor vê na Surdolimpíada o renascimento. Com as cinco delegações, a gerente do Blue Tree estima uma ocupação de 50% acima da média para o mês de maio. Roberta ainda lembra da importância da Festa da Uva, que reaqueceu o setor após um mês de janeiro de baixa temporada com as férias. Comparado com o ano de 2021, o crescimento nas receitas será de 160%
— Maio é um mês bom, diferente de janeiro com as férias. Teremos com as Surdolimpíadas, falando de antes da pandemia (em 2019) e comparado com 2022, um incremento de 25% de receitas. Se pegarmos o ano passado, é um incremento de 160% — pontuou a gerente geral.
Gabriel Bertelli do Hotel Swan também celebra o momento. Segundo ele, será um recurso importante no faturamento, ainda mais pelo pagamento ser em dólar:
— Vai ser um período bom de faturamento. A diária média é muito atrativa, pois o pagamento foi feito em dólar. E vem em um mês de baixa na parte coorporativa. Março e abril é um período de volta de férias dos clientes. Em junho volta com turismo de inverno. Então vem a calhar esse faturamento, e será um alívio nas contas do ano de 2022.