O Brasil sediará pela primeira vez na história uma Surdolimpíada e Caxias do Sul será a sede do megaevento. Com projeção de mais de cinco mil atletas e quase 100 países na Serra Gaúcha entre 1º e 15 de maio, os jogos também lançam luz sobre a importância do esporte para a comunidade surda.
O país possui sua Surdolimpíada Nacional. A última foi realizada em 2021, no mês de dezembro, na cidade de São José dos Campos-SP. A competição reuniu 740 atletas de todo o Brasil e foi o ponto de partida para uma iniciativa inédita promovida pela Secretaria Nacional de Paradesporto (SNPAR) da Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania: o Diagnóstico do Surdoatleta no Brasil.
Ao todo, 670 brasileiros, de 23 estados, responderam ao questionário. O estudo frisa que todos são surdos ou com deficiência auditiva e praticantes de esportes. Conforme o governo, 80% de quem respondeu as perguntas disputou os Jogos. Os outros 20% são praticantes de esporte para surdos que tiveram acesso à pesquisa por meio de parceria da SNPAR com a Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS).
GEOGRAFIA
O estudo apontou uma concentração dos atletas no Sudeste. O diagnóstico indica que 35,7% dos entrevistados vivem na região, sendo que a maior parte deles mora no estado de São Paulo, 108. Na sequência, aparecem as regiões Sul (29,2% do total), Nordeste (20,5%), Centro-Oeste (10%) e Norte (4,7%). O Rio Grande do Sul é o terceiro estado com maior número de atletas participantes da última competição nacional. Foram 72 gaúchos nas disputas, um a menos que Minas Gerais, com 73. Nenhum atleta dos estados de Roraima, Acre, Tocantins e Sergipe respondeu ao questionário.
MODALIDADES
O vôlei é o esporte que mais concentra os atletas surdos no Brasil. No total, 155 responderam praticar a modalidade. Na sequência, outros dois esportes coletivos foram os mais citados: handebol (138) e basquete (52). Depois, aparece o atletismo, com 51 praticantes no grupo de entrevistados. O secretário nacional de Paradesporto, José Agtônio Guedes Dantas diz ser importante esse levantamento para o desenvolvimento de políticas públicas.
— Tivemos um número expressivo de participantes de todas as regiões e praticamente de todos os estados. Os dados nos permitirão promover políticas públicas mais eficientes para o surdoatleta brasileiro— pontuou Guedes.
A presidente da Confederação Brasileira de Desportos Surdos (CBDS) revela ser a primeira vez em que o Governo Federal faz um levantamento detalhado. Diana Kyosen estima que o país tenha quase 10 milhões de surdos.
—É uma triagem que demostra a diversidade das pessoas surdas, pois fazemos parte de quase 10 milhões de surdos no Brasil — declarou a presidente do CBDS.
PERFIL SOCIOECONÔMICO
Graças ao diagnóstico também foi possível ter um perfil acadêmico e socioeconômico dos atletas surdos entrevistados. Em relação ao nível de escolaridade, 33,7% (226) têm o ensino médio completo, enquanto 21,7% (146) concluíram o ensino superior.
Mais da metade dos competidores estão no mercado de trabalho formal: 460 entrevistados, ou 68,6% do total. A renda mensal varia, mas a ampla maioria, 70%, disse sobreviver com até R$ 3.636,00 ou três salários mínimos. Outros 23,1% (155) recebem rendimentos entre 3 e 10 salários mínimos. Apenas 16 pessoas (2,3%) disseram ganhar entre 10 e 20 salários mínimos e 4,3% afirmaram ganhar mais de 20 salários mínimos.
Quase 300 atletas responderam trabalhar com uma carga horária entre 40 e 44 horas semanais. E 302 responderam ainda morar com os pais ou outros parentes, enquanto 256 com esposa ou esposo.
— Esse diagnóstico é importante, pois preenche uma lacuna histórica em relação ao perfil do surdoatleta. A partir de agora, temos um retrato mais preciso deste público, que está fora do arcabouço dos Jogos Paralímpicos, mas que tem um movimento muito forte no país —afirmou a diretora do Departamento de Paradesporto da Secretaria Nacional de Paradesporto, Giselle Chirolli.
MAIS DADOS
:: Dos 670 entrevistados: 69,4% nasceram surdos.
Os demais ficaram surdos ou com deficiência auditiva ao longo da vida.
:: 268 disseram praticar esporte há mais de cinco anos.
Deste total, 178 adquiriu o hábito há menos de um ano.
:: 160 praticam esporte três vezes por semana, por uma ou duas horas.
:: 218 atletas responderam praticar em clubes. Outros 163 usam estruturas oferecidas por prefeituras e 21 responderam que era na universidade.
:: 415 dos 670 entrevistados (61,9%) pratica esporte orientado por um treinador.
:: A maioria deles, 625 (93,2%) não recebe auxílio financeiro voltado para a prática esportiva.