Na beira do gramado ele é agitado, joga junto com o time. Longe das quatro linhas, é calmo, de fala pausada e explicativa. Luan Carlos vem da nova geração de treinadores do futebol brasileiro. Perto de completar 30 anos, no dia 21 de maio, ele chamou atenção com a campanha do Camboriú neste Campeonato Catarinense, mas já acumula um vice-Campeonato Goiano, com a Goianésia, e três participações na Série D.
Em 2020, Luan foi o treinador mais jovem das quatro divisões do futebol nacional. Ele nunca jogou profissionalmente. A sua formação é acadêmica. Todo atacante tem um garçom para marcar gols. O camisa 10 de Luan é a literatura. O jovem treinador é um grande apreciador de livros, tem diversas obras na sua estante, como "Pep Guardiola - A Revelação" e "Código Mourinho".
Na vida, o "O Pequeno Príncipe", do escritor francês Antoine de Saint-Exupéry, é uma das suas filosofias do cotidiano. O livro infantil não é apenas para crianças. Conforme palavras do próprio técnico, "é filosofia de ponta a ponta". As páginas históricas refletem desde 1943 o fato das pessoas deixarem de dar valor as pequenas coisas da vida conforme vão crescendo. Em 2020, no Goianésia, o treinador deu um exemplar do livro para os jogadores antes da final contra o Atlético-GO, como uma forma de motivação. Leitor voraz, ele carrega como doutrina de vida uma frase do filósofo português Manuel Sérgio:
— Futebol antes de uma atividade física é uma atividade humana.
Na classificação para semifinal do Catarinense, Luan comemorou junto com a torcida do Camboriú nas arquibancadas do Estádio das Nações. Ele usa sempre uma camiseta em homenagem uma tia que faleceu de câncer de mama. Marta Custódio foi uma das principais incentivadoras na carreira do treinador. Foi a responsável em proporcionar o primeiro emprego em Educação Física, em uma escola onde dava aula. Luan morava com a tia, a mãe e a avó. Ele conheceu o pai apenas com 17 anos na faculdade, com quem mantém uma relação de amizade.
CARREIRA NO FUTEBOL
Natural de Ipamerí-GO, entrou na universidade com apenas 16 anos. Formado em Educação Física com especializações em fisiologia e psicologia, o futebol ingressou na sua vida ainda jovem. Com 14 anos foi auxiliar de rouparia no Novo Horizonte, time da sua cidade. Na agremiação, também trabalhou nas categorias de base e chegou a comandar a equipe de forma interina, em 2015, quando tinha 23 anos. Para o jovem técnico, não pode faltar em um profissional a capacidade de aprender.
Luan tem experiência na Série D. Pelo Atlético-CE fez sua estreia na Quarta Divisão nacional, em 2019, caindo na segunda fase. No ano seguinte, pelo Goianésia foi mais longe, caindo nas oitavas de final para o Marcílio Dias-SC. Por fim, ainda trabalhou no Brasiliense, no ano passado, mas não saiu da segunda fase. No torneiro nacional, o seu aproveitamento é de 54,4%.
Quando o assunto são os estaduais, Luan foi vice-campeão goiano de 2020, pelo Goianésia. Ele assumiu o clube em março de 2020, pouco antes da pandemia paralisar os campeonatos regionais. No clube, comandou a equipe em cinco jogos e perdeu a final da competição nos pênaltis para o Atlético-GO. Ainda assim, possui um histórico maior no Campeonato Cearense. Em 2018, pelo Uniclinic, caiu na semifinal. No ano seguinte, com o Atlético-CE, eliminado na segunda fase, e em 2020 acabou caindo de divisão com o Floresta.
No Camboriú, a idade não foi um problema para lidar com medalhões. O técnico tem no elenco o meia-atacante Jorge Henrique, 39 anos, Campeão do Mundo com o Corinthians. O atleta vê em Luan um perfil muito similar ao de Tite, com quem trabalhou na equipe paulista.
O Caxias busca um treinador com perfil diferente. A direção quer um modelo de jogo propositivo. Luan afirma gostar do jogo ofensivo com agressividade e posse de bola. Ele classifica o padrão como "ofensivo com responsabilidade".