Em 2020, o zagueiro Yan Victor retornou ao Brasil depois de passar cinco anos em Portugal, onde conheceu uma escola diferente de técnicos e atletas. Em entrevista ao programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha Serra, ele projetou a nova fase no Caxias e explicou uma das diferenças percebidas no modelo de gestão do futebol no país do Velho Continente: a garantia de continuidade no trabalho.
— A diferença do técnico português para o brasileiro é a garantia que os próprios clubes lá de fora dão para eles trabalharem, no sentido do tempo. Eles têm garantia do tempo de trabalho lá fora. Por isso, um futebol mais vistoso, mais ofensivo. Eu aprendi muito com alguns treinadores na questão da confiança de oferecer ao time aquilo que você tem de técnica. É um tipo de jogo mais apoiado, leve, não com tanta burocracia. Eles sabem que têm tempo de montar um modelo de jogo, uma estratégia — explicou.
O retorno ao Brasil veio após um convite do Botafogo de Ribeirão Preto, em São Paulo. O defensor de 26 anos tinha o desejo de voltar ao país, pois deixou o futebol brasileiro ainda jovem. Segundo ele, um dos objetivos era jogar profissionalmente em seu país e ser reconhecido. Yan classifica a readaptação como desafiadora, pois há diferenças entre os futebol praticado aqui e na Europa. A pré-temporada grená tem sido uma aliada importante nessa readaptação.
— A pré-temporada é um momento importante, diria até crucial para consolidar uma base de ajuste, entrosamento e parte física. Tem agregado bastante. Nós jogadores estamos adaptados às ideias do técnico Rogério, são ótimas ideias de jogo. É um momento em que o grupo está bastante confiante para a estreia contra o Grêmio. Sabemos das dificuldades, mas vamos fazer o melhor para buscar os três pontos — comentou o zagueiro grená.
Durante a pré-temporada, o Caxias realizou quatro amistosos. O time empatou três jogos e perdeu o último para o Ypiranga por 1 a 0. Apesar de não ter vencido nas partidas preparatórias, Yan Victor diz que a base do time está encaminhada. Depois da consolidação defensiva, os ajustes deverão passar por outros setores.
— Obviamente que o resultado é o ponto chave para qualquer jogo, mas ficou um pouco de lado, porque estamos em um momento de ajustes, as peças estão se ajustando taticamente, na ideia do jogo. Não havíamos sofrido gol, a base está aí. É se consolidar defensivamente para depois ajustar os outros setores. Mas eu acho que estamos em um bom caminho de preparação — declarou o zagueiro do Caxias.
DIFICULDADES NA INFÂNCIA
Natural de Salvador, na Bahia, Yan Victor começou a carreira como volante. Ele passou pelas categorias de base dos dois gigantes da cidade, Vitória e Bahia. Paralelo ao sonho de se transformar em jogador profissional, o atleta também enfrentou as dificuldades da vida. Quando olha na televisão os noticiários recentes e o sofrimento de muitas famílias com as enchentes na sua terra natal, o atleta volta no tempo e recorda os momentos difíceis que passou. Entretanto, quando entrou no futebol, ele fez um juramento.
— O futebol me deu e proporcionou uma dignidade. A um tempo atrás, a Bahia estava passando por um tempo complicado com enchentes, famílias perdendo móveis, casas e eu passei por situação semelhante. Não cheguei a perder como as pessoas que perderam tudo. Mas foi bastante delicada situação. Quando eu tinha meu 10 anos de idade passei por algo semelhante. Quando eu vi aquele cenário da minha família, fiz um juramento que através do futebol, do meu talento, eu ia mudar o cenário da minha família e parentes — revela Yan Victor.
A casa da família de Yan ficava perto de um rio em Salvador. Quando chovia demais, o rio transbordava e a água tomava conta das residências próximas, entre elas a que ele morava com seus pais.
— A casa ficava atrás de um rio, sem saneamento básico. Quando o rio enchia, não tinha para onde a água correr e ia parar dentro das casas. Inundava tudo e a gente não tinha muito o que fazer. Tínhamos que aguardar aquela chuva passar para não alagar mais. É um assunto delicado, não tenho vergonha nenhuma de falar. Foi uma dificuldade que eu e minha família passou. Vencemos e saímos daquele cenário. Hoje posso dizer que aquele cenário não existe mais e tudo mudou com muito trabalho — conta com alívio o atleta.