Como ainda não existe número suficiente de atletas para times apenas com meninas, elas realizam as mesmas atividades que os guris, e sem qualquer distinção. Inclusive, com a possibilidade de participar das mesmas competições na base.
– A Evellyn, que é goleira, faz o treinamento com o preparador específico da função, como os colegas – explica o coordenador das categorias de base e da escolinha de futebol do Caxias, Lairton Zandonai, referindo-se à Evellyn Maciel Machado, que treina com a equipe sub-11 grená há cerca de um mês.
Com 10 anos, ela começou a se interessar pelo futebol quando o irmão, Erick Maciel Machado, entrou nas escolinhas do Caxias.
– Sempre gostei de ser goleira. Quando meu irmão começou a jogar no clube pedi aos meus pais para vir também. Agora, a gente vem junto participar dos treinamentos, aos sábados – explica a menina.
No Juventude, a situação não é diferente. Boa parte das meninas que fazem parte das escolinhas já participaram de amistosos e fazem questão de relatar a emoção envolvida em cada uma das disputas.
– Gosto de todas as atividades que realizamos nos treinos, mas os amistosos são mais legais. Quando entrei no Ju, já gostava de futebol, mas agora gosto ainda mais – fala Júlia Moreira Molon, 12, que treina no clube há um ano.
Visibilidade do Mundial
A Copa do Mundo de futebol feminino está em sua oitava edição e, pela primeira vez na história, todos os jogos da Seleção estão com transmissão para os brasileiros em TV aberta. Por conta disso, os responsáveis pela modalidade em Caxias do Sul mostram otimismo para o fato de os olhares se voltarem às meninas.
– Com o crescimento do futebol feminino é perceptível a valorização deste mercado, e isso se deve ao Mundial que está bem forte nesta edição – destaca Jonas Rosa.
– Eu torço para que a Seleção tenha os melhores resultados e desperte em autoridades e grupos familiares a atenção contra o preconceito, que nem é mais referente ao “mulher não sabe jogar”. Vejo que a Copa do Mundo, pelo que a mídia está proporcionando, vai abrir o mercado – complementa Vladimir Duarte, treinador do Caxias.
A pequena Caroline Turella, 14, ingressou nas escolinhas do Juventude nesta semana. Entretanto, já jogava futebol no Grêmio de Ana Rech. Ela não perde um jogo da Seleção Feminina na Copa do Mundo e inspira-se nas estrelas brasileiras para projetar o próprio futuro.
– Quando eu crescer quero jogar no Juventude, depois no Grêmio, no Barcelona e no Real Madrid, até chegar no Lyon, que tem o melhor futebol feminino do mundo. Mas também penso em jogar no Orlando Pride, porque a Marta pode se aposentar e virar técnica do time feminino – explica a menina.
De olho no futuro
O Brasileirão de futebol feminino, no atual formato, existe há seis anos. Entretanto, a dupla Ca-Ju nunca participou da competição. Por outro lado, como os clubes que disputam a Série A do Brasileirão e as competições da Conmebol tem a obrigação de contar com equipes nos dois naipes, uma nova realidade pode ser vivenciada em breve.
Como o objetivo de Caxias e de Juventude é voltar a disputar competições nacionais de nível superior, ambos precisam começar a se preocupar com isso. Em relação ao clube grená, ainda não há planejamento físico, mas já houveram discussões sobre o tema.
– O Caxias nunca teve time feminino adulto. Mas, se subir de divisão, com as novas exigências da CBF, no futuro vamos precisar ter essa equipe para atender a exigência. No papel, não temos nenhum projeto ainda, mas já estamos falando sobre o assunto e conscientes de que precisaremos – explica Lairton Zandonai.
O Juventude, por sua vez, não participa de campeonatos femininos adultos há 11 anos, mas já tem um projeto bem encaminhado para voltar com força para as disputas.
– A nossa ideia é ter duas categorias de futebol feminino no próximo ano, participando de competições. Queremos que elas se formem ao longo do tempo, para que quando chegue à idade adulta tenhamos uma equipe formada em casa. Afinal, um clube que pensa em Série A precisa pensar e acreditar num projeto. Sendo assim, não tenho dúvidas que teremos um time feminino em breve – explica Jonas Rosa, coordenador das escolinhas do Juventude.
Tricampeão gaúcho
A equipe grená nunca participou de competições adultas de futebol feminino. Por outro lado, o alviverde já disputou o Gauchão Feminino, o Campeonato Brasileiro, o Sul-Brasileiro e a Copa do Brasil. O clube acumula três títulos gaúchos, um vice-campeonato estadual e a conquista do Sul-Brasileiro. Porém, o departamento está fechado há 11 anos.
– Na época, tínhamos o Volmar e a Sônia, que foram os precursores e puxaram o futebol feminino. Entretanto, não houve uma renovação daquele trabalho. Vejo que o maior problema foi a falta de pessoas engajadas com o esporte. Agora, os clubes e as pessoas estão olhando mais para essa modalidade – defende Jonas Rosa, coordenador das escolinhas do Juventude há 30 anos.
Volmar Sganzerla, treinador da equipe feminina do Ju entre 1999 e 2008, lembra que à época mesmo sem muitos recursos disponíveis, contava com o auxílio do clube e buscava patrocínios. Com isso, era possível manter uma equipe de alto nível.
– Na época, tínhamos categorias de base também, escolinhas dos sete aos 12 anos, sub-15, sub-17 e sub-20, além do time profissional, tudo nos mesmos padrões do masculino, com preparador físico e de goleiros, médico e massagista – relembra Sganzerla.
No lado grená, para o feito se repetir, o professor Vladimir Duarte defende que a estrutura precisa passar por melhorias.
– Penso que fazer de qualquer jeito não é o ideal. Então, tudo está transcorrendo de uma forma que vamos preparar uma estrutura para desenvolver o futebol feminino. Mas não é tão simples, porque passa por investimento, por questão estrutural. Acredito que seja uma tendência – relata Duarte.
Como jogar na dupla
Quem tiver interesse em integrar as categorias de base de Caxias ou Juventude deve entrar em contato com os clubes pelos telefones: (54) 3536-7999, no Caxias, e (54) 3027-8700, no Juventude.