O cheiro de churrasco na brasa marca o início das comemorações da Semana Farroupilha. A uma semana da data oficial, tradicionalistas de Caxias do Sul já se preparam para as comemorações comprando carnes. Para o consumidor, ainda há mais um incentivo: o preço médio da carne bovina no Rio Grande do Sul acumula queda de 12,02% em um ano, comparando setembro de 2024 com o mesmo mês do ano passado.
O dado faz parte de índice apurado pelo Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Maior oferta do produto e consumo interno que não acompanha esse salto estão entre os principais pontos que explicam cortes mais em conta.
Em Caxias do Sul, de acordo com dados levantados pelo Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes) do Centro de Ciências Econômicas e Sociais da UCS, os cortes que tiveram maior recuo em um ano foram a carne moída de segunda (-8,59%), a picanha (-7,34%) e o coxão de dentro (-4,45%). A comparação é entre os meses de agosto de 2023 e agosto de 2024.
De acordo com o presidente da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas), Antônio Cesa Longo, o açougue é o principal setor dos supermercados atualmente e, no mês de setembro, historicamente, as vendas de carnes são incrementadas.
— No mês de setembro, as vendas se intensificam. Qualquer queda de preço faz as vendas aumentarem. Se a queda reduz em 12% o valor, a venda física aumenta 12%. Se aumenta o preço, diminui a venda. Então, neste momento, é bem positivo em benefício do consumidor — explica.
Em geral, segundo Longo, o corte mais vendido é o mais barato. Atualmente, é a carne dianteira, com osso. Já no mês de setembro, a costela é a líder de vendas, principalmente para os tradicionalistas que buscam carnes para churrasco.
Costela e picanha são os cortes mais procurados
Com as comemorações da Semana Farroupilha se aproximando, açougues em Caxias do Sul já percebem o movimento aumentar. Clientes buscam cortes para churrasco, como a costela e a picanha, campeãs de vendas neste período.
Luiz Baréa, proprietário do açougue Bareinha, no bairro Panazzolo, afirma que o mês de setembro, historicamente, registra aumento na procura e venda de carnes para churrasco:
— Existe uma oferta muito grande em termos de costela, a um preço bem diferenciado. Então, é meio difícil de concorrer. Mas no mês de setembro, mesmo sendo que o preço é maior do que em outros lugares, tem uma procura uma procura maior. Geralmente, é o costelão que sai mais. Aqui, o outro corte que mais sai é o entrecôte — explica Baréa.
O cliente Carlos Boamar é um dos que buscavam carne para churrasco nesta semana. De Vacaria, ele conta que, sempre que está em Caxias do Sul, garante cortes para o churrasco de almoço no final de semana.
— Sempre levo costela, picanha. Levo para o churrasco no fim de semana. Acho que o preço está aceitável. Só que, claro, busco uma carne mais diferenciada, de melhor qualidade, então pago mais — comenta o vacariense.
Em outro estabelecimento, no bairro Cruzeiro, o proprietário Fernando Fabro avalia que o movimento deve ficar ainda mais intenso durante a próxima semana.
— A costela é o corte que é mais procurado agora. Lá pela quinta (19), o pessoal dos acampamentos começa o movimento. Eles não vêm com muita antecedência, o cara já vem aqui, leva e já vai lá pro fogo. A maminha, costela e picanha são os três cortes que nós mais vendemos nesta época — analisa.
Localizado mais próximo do acampamento farroupilha nos pavilhões da Festa da Uva, o Atacadão das Carnes, no bairro Santa Catarina, já percebeu o movimento aumentar. Além da costela, tradicionalistas buscam charque, linguiça campeira e picanha, de acordo com a sócia Gabriele Atarão.
— Aumenta nossas vendas, com certeza. A gente está esperando até que as vendas aumentem mais do que já estão. Principalmente para carne pra churrasco, a gente vê que é um pessoal diferente dos nossos clientes habituais — destaca.
Variação no preço da carne em Caxias do Sul
De acordo com o Centro de Pesquisas Econômicas e Sociais (Ipes) e do Centro de Ciências Econômicas e Sociais da UCS, cortes como a chuleta (5,88%), carne moída de primeira (4,43%) e a paleta (4,49%) tiveram aumento de preço na comparação com agosto do ano passado.
Carnes de frango e porco, que também são utilizadas no churrasco, como o coração de frango (25,48%) e o lombinho suíno (16,89%) registraram as maiores altas na comparação. Já a coxa de frango (-14,03%) e o pernil suíno (-9,67%) tiveram queda no preço.
O professor Mosár Ness, coordenador do estudo, analisa que a carne é um produto agrícola, regido pela lei da oferta da demanda. Por isso, o preço é definido pela quantidade ofertada e quanto será demandada.
— Como ela é uma commodity de exportação também, sofre pressão internacional quando a demanda externa se intensifica sobre a nossa oferta. Então, se a gente tiver uma oferta pequena e houver uma pressão de demanda vinda da China, por exemplo, é lógico que os preços tendem a variar. A carne tem o seu custo de produção cotado em dólar. Então, a variação dos preços pode ser reflexo também da procura que ocorre externamente — explica.