A primeira Festa da Uva em Caxias do Sul aconteceu em 1931 com o objetivo de promover a exposição de uvas e a troca de experiências entre os produtores da região. Depois de uma pausa devido à Segunda Guerra Mundial, retomou em 1950 com toda a força, enaltecendo a cultura italiana, o progresso da comunidade e a ligação com a terra, costumes e tradições. A Festa tornou-se um dos maiores eventos temáticos do Brasil. Além disso, marcou momentos inéditos no país, como a primeira transmissão em cores da tevê brasileira em 1972.
Em 1974, o evento ganhou um espaço exclusivo: o Parque de Eventos Mário Bernardino Ramos, ou os Pavilhões, local que, em 2008, foi ampliado e hoje conta com 60 mil metros quadrados de área coberta e mais de 359 mil metros quadrados de área total.
A partir de 1994, a Festa fixou-se a cada dois anos devido seu grande investimento, que conta com verbas federais, estaduais, municipais e de empresas privadas. No entanto, a partir de 2016, a organização passou por dificuldades, quando apresentou um prejuízo de mais de R$ 1,2 milhão. Em 2018, a Festa foi adiada para 2019 por decisão do governo, justificando falta de dinheiro e, quando foi realizada naquele ano, divulgou um lucro de R$ 70 mil, porém, o valor é contestado até hoje. A edição seguinte também foi transferida, agora por causa da pandemia, mas, quando foi feita, em 2022, apresentou um prejuízo de R$ 3,1 milhões. A justificativa para o resultado negativo foi de que não houve os aportes do governo federal e, com isso, a própria festa, com recursos municipais e estaduais, precisou bancar as atrações.
Já na Festa de 2024, foi apresentado um lucro de R$ 1,5 milhão, contudo, o valor não foi o suficiente para o pagamento das dívidas anteriores que, com os juros, chegavam a R$ 4 milhões. A questão dos Pavilhões também foi se tornando um problema com os anos devido a sua inatividade. Mesmo com eventos, shows e outras programações fora da Festa da Uva, o espaço se torna um "elefante-branco" na cidade.
Desta forma, o Pioneiro conversou com especialistas que elencaram o que pode ser aprimorado para as próximas edições da Festa e o que pode ser feito no parque. Os quatro candidatos à prefeitura também foram ouvidos.
O que dizem os especialistas
Para o Analista de Articulações do Sebrae da Serra Gaúcha, focado na área do turismo, Emerson Monteiro, a Festa da Uva precisa ser vendida como um destino turístico, principalmente envolvendo o interior.
— Os eventos, de uma forma geral, eles alavancam de forma natural o turismo, ainda mais com eventos que reforçam a identidade do destino, de uma cidade, como é a Festa da Uva. E eu acho que Caxias tem como uma das suas características ser perto do interior, que tem cenários incríveis, e a Festa da Uva divulga isso. Ela é um canal para quem visita aqui, mas isso pode ser melhor reforçado durante as festas, com a possibilidade de o turista vivenciar aquela experiência diretamente nos locais como Galópolis, Vale Trentino e outros. Acho que essa proximidade pode ser melhor explorada — explicou.
Sobre o Parque de Eventos, Emerson sugeriu o desenvolvimento do espaço como um ponto turístico.
— Eu conheço alguns projetos ali em andamento como a retomada, por exemplo, do Memorial Atelier Zambelli. Eu acho que é uma grande iniciativa, também tem um projeto já em andamento para se instalar um café. E a vista que se tem da cidade a partir daquele ponto ali é algo realmente fantástico, então, se o parque começar a proporcionar atividades que sejam perenes, eu acho que é a grande contribuição do equipamento para o turismo e para a cidade. As possibilidades são muito grandes através de parcerias público-privadas — salientou.
A consultora em Turismo, palestrante, especialista em planejamento turístico e em enoturismo, Ivane Fávero enfatiza que a Festa da Uva precisa ser trabalhada 365 dias no ano e não somente nas épocas do evento.
— A Festa da Uva é a principal marca turística de Caxias do Sul. Mesmo que nas últimas edições se teve lá seus questionamentos com a perda de identidade, perda de foco, etc, ela continua firme no imaginário dos moradores e dos turistas. Então, eu acho que é preciso investir na promoção de Caxias como um destino turístico completo, ou seja, a Festa tem que servir não só durante a programação, mas sim ser lembrada 365 dias do ano, é preciso reforçar esta associação da oferta turística permanente. É preciso pensar talvez a Festa da Uva como uma autarquia, como é o Natal Luz em Gramado — frisou a consultora.
Além disso, sugeriu o investimento no enoturismo e, para o parque, levantar a bandeira do turismo de negócios.
— A Festa da Uva tem que levantar a sua bandeira como evento mais antigo de enoturismo do Brasil e trabalhar forte esse posicionamento, impulsionando a economia local e regional, fortalecendo a oferta permanente de enoturismo de Caxias do Sul e região. E sobre a questão do parque de eventos, é preciso ter um centro de convenções, trabalhar no turismo de negócios. Com toda a tecnologia que nós temos hoje é possível trazer grandes e pequenas convenções, trabalhando ininterruptamente, mas também qualificar a própria arquitetura dos pavilhões, modernizando-a — explicou.
O que dizem os candidatos
Adiló Didomenico (PSDB)
"Quando assumimos, nossa missão era resgatar a credibilidade da Festa da Uva, o sentimento de pertencimento da comunidade perante a Festa e a retomada do seu protagonismo cultural e econômico. Assim o fizemos. Realizamos duas edições grandiosas, uma delas em meio à incerteza da pandemia. Resgatamos a participação dos distritos, o sucesso dos jogos coloniais e a consolidação da praça das cidades, que incentiva o turismo de todo o Estado. Em março de 2025, temos a Festa das Colheitas, com leis de incentivo estadual e federal já aprovadas. O planejamento financeiro é importante para viabilizar a Festa e é uma oportunidade para a participação das empresas que sabem dos benefícios que esses eventos trazem para a economia. Seguiremos investindo na Festa, pois há retorno para a comunidade, gerando desenvolvimento econômico, emprego e renda. O Parque da Festa da Uva será ainda mais explorado, e permanecemos com a proposta de uma parceria público-privada ou concessão do espaço para fomentar ainda mais o turismo."
Denise Pessôa (PT)
"A Festa da Uva é um símbolo histórico e cultural representando o legado dos imigrantes italianos e a identidade de Caxias. Vamos fortalecer a nossa Festa, em constante diálogo com a comunidade, para garantir a evolução do evento. Entre as iniciativas, destacamos a transformação do Parque de Eventos em um espaço multiúso, um centro de eventos completo, e essa mudança será por meio de uma parceria público-privada (PPP) que ofereça atividades ao longo do ano e atraia grandes eventos nacionais e internacionais. Isso também contribuirá para a divulgação constante da Festa. Também vamos criar um novo evento, em parceria com as comunidades dos distritos e fazedores de cultura, que será realizado nos anos ímpares, intercalando com as edições da Festa, valorizando ainda mais a cultura regional. Essa estratégia otimiza o uso do parque, gera receita para o município e amplia a visibilidade de Caxias do Sul, promovendo o desenvolvimento cultural e econômico da cidade, sem perder suas raízes."
Felipe Gremelmaier (MDB)
"O parque da Festa da Uva e a Festa da Uva estão no nosso plano de governo para desenvolvimento do turismo e geração de emprego e renda. O parque tem 359.135 m² disponíveis para locação conjunta ou de espaços individuais, mas é muito mal utilizado. Primeiro, realizaremos um estudo de viabilidade econômico-financeira, com levantamento do potencial para grandes feiras, shows, outros eventos, e para uso de lazer pela comunidade. Avaliaremos a possibilidade de PPP, com concessão da área a empresa especializada com expertise em administração e operação em espaços turísticos. O parque precisa oferecer eventos contínuos e, inclusive, simultâneos, porque tem espaço. E não ficar obsoleto na maior parte do ano, o que prejudica a arrecadação de recursos para manutenção. Olimpíadas Coloniais, espetáculo Som & Luz, visitação ao Museu (Memorial) Zambelli, hoje fechado, e à Réplica de Caxias do Sul devem estar em agenda permanente para receber turistas, e não apenas na Festa da Uva. A Festa da Uva e a Festa das Colheitas devem ser fortalecidas e resgatadas, promovendo pertencimento comunitário para divulgá-las."
Maurício Scalco (PL)
"A Festa Nacional da Uva é um ícone de Caxias do Sul, refletindo nossa cultura e identidade. Para revitalizá-la e preservar suas tradições centenárias, é essencial reinventar o evento com respeito ao seu legado. A efetivação de parceria público-privada (PPP) para o Parque de Exposições, o Centro de Eventos e a Réplica, prometida pela atual administração e ainda não cumprida, é crucial para tornar esses espaços mais acolhedores, funcionais e oferecer uma programação diversificada ao longo do ano. A Festa deve fortalecer a conexão com a comunidade e celebrar a riqueza cultural de nossos antepassados. A programação precisa refletir os valores locais e manter as tradições que fazem da Festa um marco. A sustentabilidade financeira é fundamental para sua realização, evitando a dependência de recursos públicos, que são escassos em áreas essenciais como saúde, educação e segurança. Revitalizar a Festa Nacional da Uva exige inovação, respeito à tradição, engajamento comunitário e gestão eficiente, garantindo que continue sendo um orgulho para Caxias do Sul e uma celebração memorável."