A Comissão Comunitária da Festa da Uva divulgou o balanço com dados financeiros do evento, realizado entre os dias 18 de fevereiro e 6 de março deste ano em Caxias do Sul. A 33ª edição não contou com aportes da Lei de Incentivo à Cultura (LIC), enviados tradicionalmente pelo governo federal e, com isso, a estrutura de shows e de apresentações artísticas precisou ser custeada pela própria festa e com recursos municipais e estaduais, o que gerou atraso do anúncio da programação e ajustes para readequar ao orçamento. Segundo a comissão, esse também foi o principal motivo de a Festa ter tido prejuízo de R$ 3,1 milhões.
— A LIC federal não teve tempo de ser publicada. Sem tempo, não conseguimos fazer a captação dela. Havíamos previsto estes quase R$ 3 milhões (o valor do projeto era de cerca de R$ 2,8 milhões), mas ela não chegou a ser captada porque não foi publicada a tempo — disse Luciano Pereira, diretor-executivo da comissão, durante apresentação no final da manhã dessa sexta-feira.
As receitas da Festa somaram R$ 12 milhões e vieram de patrocínios (mais de R$ 8,6 milhões), incluindo convênios, aportes diretos e lei de incentivo (estadual R$ 989 mil e municipal R$ 139.999); da venda de espaços (R$ 1,4 milhão) e de ingressos (R$ 2 milhões), sendo maior fatia da entrada nos Pavilhões (R$ 1,7 milhão), já que os convites para os shows representaram apenas R$ 270 mil de arrecadação.
— O valor do setorial não passou de R$ 1 milhão porque precisava compensar o valor pago pelas empresas em 2020, quando foi entregue 1/3 da festa (das Colheitas) proposta pela pandemia — explicou Pereira, referindo-se a troca negociada entre os expositores do evento de 2020, que acabaram sendo prejudicados pela pandemia e puderam expor na 33ª Festa da Uva, compensando a não devolução do dinheiro pela organização.
Ao final, os gastos chegaram a R$ 15,2 milhões, ou seja, um saldo negativo de R$ 3,1 milhões. Segundo a comissão, caso o recurso da LIC federal tivesse sido captado (R$ 2,8 milhões) e não houvesse o valor a ser compensado (R$ 405,6 mil) a edição desse ano teria tido resultado positivo de R$ 131,7 mil.
Ainda no ano passado, o Executivo havia anunciado que a realização da Festa poderia chegar a R$ 25 milhões, mas que o planejamento era de orçar em R$ 16 milhões. À época, a organização buscava viabilizar a execução com R$ 14 milhões, através de patrocínios, parcerias, venda de espaços de comércio e gastronomia e a bilheteria.
Logo após a realização do evento este ano, em coletiva de imprensa, a secretária de Cultura, Aline Zilli, havia informado que a administração municipal colocou em prática um 'plano B' e que a prefeitura já acompanhava as diversas reformulações do fomento de governo federal, uma das causas da demora na avaliação e resposta dos processos. O reajuste feito pela organização, em 2021, já era visando a maior redução de gastos possível para minimizar o impacto da falta do recurso federal.
— Sabíamos desde a resolução por realizar a festa que enfrentaríamos dificuldades nesta aprovação em função do tempo, que por si só já seria curto em ano normal. A gente já estava considerando que a programação pudesse não ter esse aporte dada essas dificuldades, e que não são novidades para quem trabalha com os mecanismos de incentivo — disse em encontro com a imprensa realizado no dia 11 de março de 2022.
No início de fevereiro, dias antes de iniciar a Festa da Uva, Bertotto também havia informado à reportagem do Pioneiro que a não vinda do incentivo federal não causaria prejuízo.
— Montamos o projeto sem a previsão de receber essa receita. Se viesse, ajudaria, mas não impacta em nada daquilo que nós havíamos planejado — disse na época.
Para quitar as contas, a prefeitura prevê tomada de empréstimo e busca por patrocínios para a Festa das Colheitas 2023 e Festa da Uva de 2024. Pereira comentou que o prejuízo não era esperado, que a organização contava com um público maior e que o valor da LIC federal entrasse em tempo, o que acabou não ocorrendo.
— Estamos trabalhando para resolver e já estamos pensando no futuro, para acertar essa conta e fazer os próximos eventos zerados. Estamos tratando com o governo federal para conseguir a LIC federal na Festa das Colheitas. Não perdemos ela, estamos vendo o melhor jeito para ser investida — declarou Pereira.
O prefeito de Caxias, Adiló Didomenico, reiterou que a decisão de manter a Festa mesmo sem os recursos federais foi acertada e parabenizou o trabalho da comissão:
— Faríamos a festa de novo pela grandeza que ela foi. Se nós cancelarmos a Festa da Uva, nós iríamos simplesmente sepultar o maior evento da nossa região porque seria o segundo cancelamento. Agora, o que a gente pode tranquilizar, movimentos que já fizemos, é conseguir a confirmação dessa LIC, apenas precisa ser renovada, para que possamos rapidamente habilitar ela para a Festa das Colheitas porque são recursos que nos garantem para saldar essas contas. Aqui, não está se colocando a culpa em ninguém pelo atraso da LIC, foi pela covid. Quando estourou a ômicron, em janeiro, nada mais andou. São consequências, riscos, mas quero agradecer a comissão pela aposta de extremo risco.
Adiló disse que está em análise em quatro bancos o crédito para conseguir empréstimo para pagar os fornecedores. Dessa forma, a Festa quita os compromissos e passa a ficar em dívida com os bancos.