A Serra comporta o maior sítio histórico do cooperativismo no mundo. O conjunto está localizado na Linha Imperial, interior de Nova Petrópolis. Um dos itens integrantes é uma pedra alusiva ao discurso usado pelo Padre Theodor Amstad para convencer moradores daquela região a iniciarem a primeira instituição financeira cooperativa da América Latina, fundada no ano de 1902. O religioso, um visionário da época, disse à comunidade que movimentar uma rocha seria talvez impossível se o serviço fosse feito apenas por uma pessoa, mas que a união de várias poderia tornar essa mudança viável.
A analogia parece ter sido eficiente. Foi assim que começou uma das mais fortes cooperativas de crédito do Estado, a Sicredi Pioneira. Outros negócios no modelo do cooperativismo já existiam, mas tem sido cada vez mais perceptível a presença deles na região. É que, além de exercerem uma função específica dentro da área de atuação, esses estabelecimentos costumam ter como pilar o envolvimento com a comunidade.
A cooperativa, além de gerar resultado, gera desenvolvimento social e sustentável
DARCI PEDRO HARTMANN
Presidente do Sistema Sescoop Ocergs/RS
— As cooperativas constroem um mundo melhor e, na sua comunidade, a cooperativa, além de gerar resultado, gera desenvolvimento social e sustentável. Esse é o grande desafio. Temos que buscar cada vez mais a sustentabilidade, temos que avançar nessa proposta de ESG (sigla em inglês para Environmental, Social and Governance, que destaca os eixos ambiental, social e de governança), temos que olhar essas questões ambientais, para que realmente possamos cada vez mais construir um mundo mais justo, mais igualitário, mas acima de tudo um mundo mais cooperativo — disse Darci Pedro Hartmann, presidente do Sistema Sescoop Ocergs/RS, que representa as cooperativas no Estado, durante coletiva de imprensa em que foi apresentado o documento Expressões do Cooperativismo Gaúcho 2022, na última terça-feira (28). Sescoop é o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo do RS e Ocergs é a Organização Cooperativa do RS, órgão de registro, cadastro e certificação das cooperativas gaúchas.
A apresentação de dados sobre esse modelo de negócios no Rio Grande do Sul é uma ação em lembrança ao Dia Mundial do Cooperativismo, comemorado no sábado (2). O levantamento mostrou que o faturamento das organizações aumentou 36,8% em 2021 sobre o ano anterior, chegando a R$ 71,2 bilhões.
Cooperativismo na Serra
Na Serra, as cooperativas tiveram um crescimento de 16% e faturaram R$ 5,3 bilhões no ano passado. O desempenho do ramo agropecuário teve papel de destaque nesse cenário: foi responsável por 67% do faturamento das cooperativas da região, o que representa uma expansão de 15% em relação a 2020.
As sobras, que são repartidas entre os associados, cresceram 3% no índice geral e, com isso, chegaram a R$ 376 milhões. No total, a região contempla 35 cooperativas registradas junto à Ocergs. Elas estão localizadas em Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Garibaldi, Farroupilha, Guaporé, Protásio Alves, Antônio Prado, Serafina Corrêa, Flores da Cunha, São Marcos, Carlos Barbosa, Santa Tereza e Nova Prata.
Outro dado que mostra a importância do cooperativismo na Serra é o saldo de empregos. Houve um salto de 16,6% no número de contratações com carteira assinada por parte dessas organizações no ano passado. O crescimento dos postos de trabalho no setor na região, que em 2021 registrou mais de 7,4 mil empregos diretos, representa 18,4% das novas vagas geradas em cooperativas no Rio Grande do Sul. Com a expansão, a região amplia a participação na geração de postos de trabalho e passa a concentrar mais de 10% dos empregos diretos em cooperativas do Estado.
Abertura de postos de trabalho na Serra por segmento de cooperativas
- Saúde: 836 postos de trabalho (+ 42,6%)
- Crédito: 831 (+ 14%)
- Agropecuário: 3.835 (+ 6,65%)
Fonte: Sistema Ocergs Sescoop/RS
É celebração pela marca dos 120 anos
A Sicredi Pioneira, a primeira instituição financeira cooperativa da América Latina, tem um 2022 em clima de comemoração. Completa nesse ano 120 anos de fundação, um movimento liderado pelo Padre Amstad, que reuniu outros 20 associados no interior de Nova Petrópolis com o objetivo de garantir o acesso ao dinheiro necessário para comprar ferramentas de trabalho para o setor primário. Hoje, a Sicredi Pioneira reúne 198 mil associados em 21 municípios.
A cidade com maior número de sócios é Caxias do Sul: 54 mil. O presidente da Sicredi Pioneira, Tiago Luiz Schmidt, evidencia que o município da Serra é uma demonstração de que o cooperativismo, normalmente mais associado a pequenas cidades, dá certo também em grandes centros urbanos. O presidente aponta que há índices demonstrando maior desenvolvimento social e econômico em cidades onde existem cooperativas.
— O nosso esforço é justamente para ampliar esse movimento para os centros urbanos, porque, se nas pequenas cidades, é possível fazer e a gente consegue medir os impactos disso, imagina nas grandes cidades o que pode acontecer.
São 120 anos de história em que, com certeza, a cooperativa já passou por várias dificuldades, mas conseguiu perpassar todos esses momentos e se adaptar a cada um desses períodos da história
TIAGO LUIZ SCHMIDT
Presidente da Sicredi Pioneira
Outros dados demonstram a força do cooperativismo de crédito na região. Para se ter uma ideia, 25% do crédito fornecido na região parte da Sicredi Pioneira. A cooperativa concentra 19% dos depósitos.
— A gente está em um momento muito especial em todos os sentidos. Primeiro pelo fato de estar celebrando 120 anos. São 120 anos de história em que, com certeza, a cooperativa já passou por várias dificuldades, mas conseguiu perpassar todos esses momentos e se adaptar a cada um desses períodos da história. E sempre estando muito próxima à comunidade e atuando na comunidade de que ela faz parte. Olhando para o lado de impacto econômico e social na vida dos associados, a gente também está bastante feliz, porque nos últimos anos a gente conseguiu ter um incremento bastante significativo tanto no share (fatia de mercado) de operações de crédito, quanto no share de depósitos e especialmente no share de associados. Ou seja, cada vez mais pessoas estão se dando conta do impacto que as cooperativas têm nas regiões onde atuam e estão vindo participar desse movimento.
É proximidade com a comunidade
Mas, afinal, o que diferencia uma cooperativa de crédito de um banco tradicional? Os produtos e serviços são rigorosamente os mesmos, porém, mais uma vez, a proximidade do cooperativismo com a comunidade traz um benefício para os associados
— Por atuar em regiões, nós temos a possibilidade de moldar os produtos conforme a realidade ou necessidade daquelas regiões. Por exemplo, durante a pandemia, nós abrimos linhas de crédito específicas para o turismo, que é o segmento que mais sofreu na nossa região. Então, a gente consegue organizar os produtos de acordo com o perfil da nossa comunidade.
Além disso, os sócios obtêm distribuição das sobras. Na área da Sicredi Pioneira, foram R$ 22 milhões distribuídos neste ano. Schmidt salienta ainda que um cálculo do Banco Central mostrou que, se os associados da cooperativa tivessem feito as mesmas operações em bancos convencionais, teriam gasto R$ 24,85 milhões a mais só em Caxias. Isso significa que o recurso ficou disponível para uso próprio ou foi injetado na economia local.
Outro aspecto levantado pelo presidente é o modelo de aproximação com o associado, diferente dos demais bancos que vêm fechando agências. Para se ter uma ideia, a Sicredi Pioneira pretende abrir seis novas agências em 2022.
— Nós entendemos que o nosso modelo de negócio é muito relacional, muito pessoal. Então, a gente tem o que a gente chama de "fisital", que é a soma do físico e do digital. Os associados têm à disposição ferramentas tecnológicas modernas, conseguem fazer todas as transações que fariam em qualquer outra instituição, mas, à medida que querem fazer um investimento de porte na empresa, uma reforma na casa, trocar de carro, uma previdência privada, um consórcio, e nunca tiveram acesso a esse tipo de produto e querem tirar dúvida, a gente entende que o meio digital ainda não é o melhor caminho. O melhor caminho é a troca de informações, é a consultoria. Por isso que as nossas agências estão sendo muito mais espaços de relacionamento, de consultoria, inclusive para as comunidades fazerem reuniões, do que uma agência bancária convencional que as pessoas têm na memória.
É preservação histórica
A mais antiga instituição financeira do país ainda em funcionamento está envolvida com a preservação da própria história e da comunidade em que se instalou. Em 2012, a Sicredi Pioneira comprou o prédio que foi a primeira sede própria da cooperativa, então chamada de Caixa Rural, na Linha Imperial. Parte do prédio de dois pisos hoje abriga uma agência e outra parte está em restauro. É onde vai ser instalado um memorial interativo e um espaço imersivo do cooperativismo.
— É em 2012 que começa a se "profissionalizar" a preservação histórica. É quando o prédio da Caixa Rural, que estava em mãos privadas, volta para a Sicredi — comenta Paulo César Soares, gestor executivo da Casa Cooperativa de Nova Petrópolis, que gerencia o sítio histórico.
Próximo desse prédio, os turistas ainda encontram uma praça e uma igreja, onde ficam estátuas do Padre Amstad, e a casa em que o religioso morou.
— É um pilar nosso não esquecer a essência, a nossa origem. Preservar isso aqui é uma forma de manter nossa história e das pessoas tão importantes para o cooperativismo que viveram aqui — descreve Eduarda Langhammer Neves, assessora de comunicação e marketing da Sicredi Pioneira.
A celebração dos 120 busca o engajamento e deixar um legado à comunidade. Entre as ações, estão o lançamento de um jogo de tabuleiro que valoriza os pontos turísticos da região, de um livro digital sobre a cooperativa e até de um curta metragem inscrito no Festival de Cinema de Gramado.
É lançar ideias e expandir
A Cervejaria Edelbrau, em Nova Petrópolis, conta com o cooperativismo desde o nascimento. Quando os sócios Fernando Maldaner e Samuel Zang voltaram da Irlanda com a ideia de criar o produto artesanal, encontraram na Sicredi Pioneira um apoiador. Desde 2011, quando foi fundada, a empresa já contou com o aporte de aproximadamente R$ 1,5 milhão em empréstimos por parte da cooperativa.
— Para pegar empréstimo, os bancos pedem um ano de empresa constituída, o que a gente não tinha. A Sicredi, conhecendo o projeto e nos conhecendo, fez a aposta. A Sicredi, com esse olhar voltado ao entorno, teve essa contribuição, que para nós foi importante. A gente sempre contou com o apoio da Sicredi, com linhas especiais, o que torna o acesso ao crédito mais viável — conta Maldaner.
A empresa obteve apoio, por exemplo, para a instalação de 251 placas solares, o que a torna a primeira cervejaria do país a ter geração de 100% de energia por esse método. São cerca de 9 mil quilowatts gerados por mês. Outro investimento foi na criação de um espaço interativo, aberto em janeiro do ano passado, que já recebeu mais de 7 mil visitantes. O local conta a história da empresa e mostra como é a produção de cerveja _ é uma experiência baseada nos museus da Guinness e da Heineken na Europa. O turista pode degustar as cervejas no local ou criar virtualmente a própria bebida, por exemplo.
Com 12 cervejas em linha, a Edelbrau, apesar de ser uma empresa privada tradicional, tem um pé no cooperativismo.
— Eu sou fã da Sicredi — ressalta Maldaner.
É forma de incentivo ao trabalho
Há um ano, a Associação dos Recicladores Belo Horizonte, em Caxias do Sul, deixou de existir para dar lugar à Cooperativa de Trabalho Paz e Bem. O novo formato passou a ser utilizado com o incentivo de órgãos públicos e entidades sociais, além de ter contado com o apoio de outras cooperativas e associações para a elaboração da documentação e formato de trabalho.
A cooperativa conta com cerca de 65 associados, a maior parte com baixa escolaridade. Eles residem, principalmente, em bairros das zonas norte e oeste de Caxias do Sul. São responsáveis por processar 30% dos resíduos seletivos da cidade, o que significa a triagem de 35 toneladas por dia.
A gente procura dar valor a todo mundo
TIAGO PAVLESKI
Presidente da Cooperativa Paz e Bem
— Esse serviço é importante não só para o meio ambiente, ele salva vidas — afirma o presidente da cooperativa, Tiago Pavleski.
O modelo adotado em junho do ano passado, segundo ele, permite mais dignidade e incentiva o esforço no trabalho. É que, além da cota que hoje está em torno de R$ 1,3 mil por mês, os cooperativados recebem bônus pelo cumprimento de metas. Estão contemplados ainda com plano de carreira, que garante uma remuneração melhor conforme o avanço nas funções, e o pagamento de benefícios sociais.
— A gente procura dar valor a todo mundo. Todo mundo tem voz, todo mundo tem vez — resume o presidente.
A gestão democrática é um dos aspectos valorizados no cooperativismo. Outro é a sustentabilidade. Nesse pilar, a cooperativa tem o maior investimento feito até hoje: R$ 170 mil aplicados para a compra de 63 placas de energia solar, que reduziram a conta de energia elétrica em 90%. A reciclagem mantém ainda projetos sociais, como a coleta de cartelas de remédios no estacionamento da Igreja dos Capuchinhos com a renda revertida para a construção do Recanto da Compaixão, um abrigo para idosos. A parceria com escolas também permitirá que os alunos levem resíduos para a reciclagem, e o valor obtido será revertido para fundo próprio da instituição.
O planejamento estratégico da reciclagem envolve crescimento. Pavleski pontua que a ideia é que, em dois anos, possa ser construída uma usina de reciclagem, com novas medidas de cuidado com o meio ambiente, como biodigestores, e capacidade para gerar até 100 empregos diretos. O custo para a instalação está previsto em R$ 2,5 milhões, e o impacto ambiental seria gigantesco: possibilidade de poupar o aterro sanitário em 20 a 30 anos, segundo o presidente da cooperativa.
É acesso a mercados maiores
O agricultor Breno Bortolini é o associado de número 5 da Cooperativa de Produtores Ecologistas de Garibaldi (Coopeg). Depois de ter saído da colônia ainda na adolescência para trabalhar em uma fábrica de móveis e de ter atuado como motorista de caminhão, ele decidiu voltar para o trabalho rural há cerca de 15 anos. Conta que, na época, foi convencido por Antoninho Ceratti a entrar na cooperativa que vende orgânicos.
Para isso, reativou o uso familiar das terras da família. São 20 hectares localizados na Linha Vitória, em Carlos Barbosa. Antes arrendada para terceiros, a propriedade hoje tem o cultivo principalmente de hortaliças.
— O mercado estava deficiente de produtos, porque 15 anos atrás, praticamente não tinha hortaliças orgânicas — lembra.
A cooperativa, que começou com 31 associados em 2001, hoje tem 57. O faturamento é de R$ 5,5 milhões anuais. Os cooperativados atendem redes supermercadistas, inclusive do sudeste do país, além de feiras e escolas.
— A gente é uma cooperativa diferente da maioria, porque não temos funcionários. O produtor faz tudo. Ele produz, por exemplo, a hortaliça na propriedade, vai até a cooperativa e industrializa — explica o presidente da Coopeg, Damian Paulo Chiesa.
A gente é uma cooperativa diferente da maioria, porque não temos funcionários. O produtor faz tudo
DAMIAN PAULO CHIESA
Presidente da Coopeg
Além de Garibaldi, a empresa reúne produtores de Carlos Barbosa, Barão, Boa Vista do Sul, Imigrante, Roca Sales e Santa Tereza. Cerca de 90% da produção é vendida in natura, mas também há uma parte que vira geleia e sucos.
A Coopeg prepara uma novidade para o mercado. No mês que vem, vai lançar uma loja virtual no próprio site, o que vai permitir que o consumidor adquira cestas de orgânicos diretamente do produtor.
— Nosso objetivo é ter menos atravessadores (na relação do produtor com o consumidor). Então, a gente vai cada vez mais ter ferramentas para vender diretamente ao consumidor — explica Chiesa.
O novo serviço vai atender moradores de Garibaldi, Carlos Barbosa, Bento Gonçalves, Farroupilha e Caxias do Sul.
É mais rentabilidade e promoção da harmonia
Uma das mais tradicionais cooperativas da Serra quer se tornar, até 2023, referência em espumantes. A Cooperativa Garibaldi, que processa 30 milhões de quilos de uva por ano, aposta no produto como uma forma de garantir mais rentabilidade aos 450 associados, até porque outro aspecto que direciona a empresa é a geração de valor. Isso junto com experiências marcantes ao consumidor. No fim das contas, a Garibaldi resume o próprio propósito em "promover a vida em harmonia".
Fundada em 1931 por 73 associados, a empresa mantém um forte vínculo com a comunidade. Em mais de nove décadas, claro, não foram poucos os desafios. Mas o momento é de garantir o fortalecimento da marca por meio do principal ativo de uma cooperativa: o trabalho do associado. O presidente da Garibaldi, Oscar Ló, conta que a decisão por investir no mercado de espumantes está fortemente ligada à vontade de manter e atrair agricultores para o campo:
As cooperativas têm um papel fundamental, principalmente aqui na região, onde predomina a pequena propriedade, agricultura familiar. O produtor, individualmente, tem mais dificuldade de vender seu produto
OSCAR LÓ
Presidente da Cooperativa Garibaldi
— A cooperativa tinha volumes grandes, mas pouca rentabilidade, e ela tinha dificuldade em manter o agricultor no campo. Então, foi feito todo um replanejamento da cooperativa para que ela agregasse valor, para que ela pudesse rentabilizar melhor o associado, para ele se sentir feliz na atividade. Hoje, com orgulho, a gente fala que temos muitos filhos de associados que saíram da propriedade, foram trabalhar em empresas na cidade e hoje, graças a esse planejamento da cooperativa, estão de volta com os pais na propriedade. Eu acho que, dentro das cooperativas, e com esse planejamento, a gente conseguiu resgatar o orgulho do jovem que era agricultor. Hoje ele fala com orgulho que é agricultor, porque ele está sendo valorizado.
Para este ano, a cooperativa trabalha com a expectativa de faturamento de R$ 300 milhões até o fim do ano, um aumento de 30% em relação ao ano passado. O volume de produção deve crescer 20%. São dados que comprovam a preocupação com a saúde financeira das cooperativas, que vêm passando por um processo de profissionalização da gestão e dos associados ao longo das últimas duas décadas. A Garibaldi oferece aos agricultores, por exemplo, orientação técnica sobre as etapas produtivas, fornece mudas para os novos vinhedos de acordo com as características da área em que ele planta e até faz parcerias para a formação do produtor em relação ao gerenciamento da propriedade rural.
— As cooperativas têm um papel fundamental, principalmente aqui na região, onde predomina a pequena propriedade, agricultura familiar. O produtor, individualmente, tem mais dificuldade de vender seu produto. A cooperativa acaba juntando um monte de pequenos e se tornando mais forte. Para o próprio produtor, é uma segurança, porque ele tem uma segurança de que a produção dele vai ter mercado.
O presidente conta que a vinícola valoriza a relação com a comunidade e também a intercooperação, que é a relação com outras cooperativas da cidade. A Garibaldi gera ainda 200 empregos diretos. Em uma ação na quarta-feira (29/6), feriado de São Pedro na cidade, a empresa reuniu os familiares dos funcionários para conhecer as instalações no centro da cidade. Esse contingente, diz o presidente, junto com associados forma uma grande família:
— Numa empresa privada, a participação é pelo capital que cada um tem. Em uma cooperativa, a participação é pelo trabalho. Então, o associado não é mais um número. Pelo contrário, ele é remunerado conforme a sua participação na cooperativa. Então, as cooperativas valorizam muito o trabalho, não o capital.
É preocupação com o meio ambiente
A Garibaldi tem uma preocupação especial com a sustentabilidade ambiental. Mantém ações junto aos agricultores como o incentivo à preservação das áreas de preservação permanente (APPs) e utilização mínima de insumos agrícolas. Além disso, compra energia elétrica de fontes renováveis, mantém um parque de energia solar, usa caldeiras a gás natural e reaproveita a água usada na produção.
A cooperativa, que foi pioneira na produção orgânica na região, também tem uma linha de produtos biodinâmicos. Possui o Selo Demeter, uma certificação internacional que garante que uma série de regras são seguidas pelos agricultores na hora de cuidar da propriedade rural de onde sai a matéria-prima para os produtos biodinâmicos.
A agrônoma Lara Silvestrin, consultora da Garibaldi e especialista em agricultura biodinâmica, explica que o primeiro passo é que a produção seja orgânica. Depois, entram outros elementos, como o uso de preparados específicos, feitos à base de plantas, quartzo, esterco de gado, chifre de vaca e órgãos animais. O processo também envolve o calendário astronômico, que é o que baliza os períodos de aplicação desses preparos e outros processos, como podas e roçadas.
Hoje, são cinco associados da Garibaldi produzindo nesse sistema. No total, são 180 mil quilos de uva destinados aos biodinâmicos. Os produtores são beneficiados com uma remuneração melhor, mas Lara aponta que o envolvimento deles com essa produção está mais relacionada com a compreensão da filosofia por trás desse formato.
— A razão não é só econômica. Tem a questão do meio ambiente, melhora a propriedade dele — assinala.
Os agricultores também trabalham em grupos, porque há a necessidade de dividir tarefas.
— A cooperativa consegue formar esses grupos, justamente por ser uma cooperativa e promover esse envolvimento — comenta a agrônoma.
Saiba mais
::: As cooperativas de crédito abriram 32 novos postos de atendimento na Serra em 2021. Atualmente, as instituições financeiras cooperativas estão presentes nos 32 municípios considerados pela Ocergs como pertencentes à região. São, no total, 106 postos de atendimento cooperativos distribuídos pelas cidades.
::: Uma cooperativa é uma associação de pessoas com interesses comuns, economicamente organizadas de forma democrática. Isso significa que há a participação livre de todos e o respeito aos direitos e deveres de cada um dos cooperados. Os princípios do cooperativismo envolvem a adesão voluntária e livre, a gestão democrática, a participação econômica dos associados, a preservação da autonomia e independência em relação a outros parceiros, a educação, a formação e a informação sobre a natureza e os benefícios da cooperação, o trabalho conjunto para fortalecimento do cooperativismo e o trabalho pelo desenvolvimento sustentável das comunidades em que estão inseridas.