Abastecer os veículos e comprar gás de cozinha tem ficado mais caro em Caxias do Sul, após o reajuste de preços da semana passada. Nas bombas dos postos de combustíveis, os preços variam de R$ 6,59 ultrapassando a faixa dos R$ 7, conforme a condição de pagamento.
Com relação ao botijão de gás de 13kg, conforme pesquisa da reportagem em oito revendas da cidade, na última quarta-feira, o valor máximo encontrado foi de R$ 125, com opção de entregar em casa. Já quem consegue retirar no local, está encontrando o produto com valores entre R$ 110 e R$ 115. Em junho do ano passado, o valor mais alto encontrado pela reportagem havia sido de R$ 105 e, o mais baixo, R$ 95. O que demonstra que o produto sofreu uma série de reajustes nos últimos meses, sendo o último aplicado em outubro de 2021.
O presidente do Sindicato das Empresas Distribuidoras, Comercializadoras e Revendedoras de Gases em Geral no Estado do Rio Grande do Sul (Singasul), José Ronaldo Tonet, não acredita em novos ajustes em um espaço tão curto de tempo, como vinha ocorrendo no final do ano passado.
— Acho que a política atual é de espaçar mais os aumentos. Antigamente, estávamos com uma periodicidade de três em três meses. O último aumento foi há cinco meses. Não acho, particularmente, que teremos reajustes antes das eleições, seria um impacto eleitoral muito forte. Acredito também que com uma solução mais próxima do conflito na Europa, o preço do Petróleo tende a recuar e, se nosso real não se depreciar frente ao dólar, poderá ter um viés de baixa até, e não de alta. Na pior das hipóteses, pode se manter como está —analisa o representando do Singasul.
Ele também aponta que o setor tem observado uma diminuição do consumo do gás de cozinha:
— De um ano pra cá, é uma queda média de 20% na venda do produto. Porque as pessoas economizaram, começaram a usar mais forno elétrico, mais micro-ondas. E alguns até a usarem outras alternativas, como lenha e carvão. Mas, para uma grande maioria da população, o gás de cozinha não tem substituto — reconhece.
Segurar o preço para não perder o cliente
O aumento do preço do gás de cozinha afeta diretamente quem precisa do produto para tocar o seu negócio. É o caso da microempreendedora e estudante de Direito Rafaela Mathias Saraiva, 21 anos, que, junto com a mãe, o padrasto e um casal de tios, mantém uma empresa de comidas caseiras congeladas em Caxias do Sul.
Ela conta que, em média, a microempresa utiliza de três e quatro botijões de gás por mês. Na última compra antes do reajuste, na semana passada, Rafaela conseguiu negociar cada botijão por R$ 100, mas já prevê um preço maior nas próximas semanas. Ela ainda relata que no início de março houve reajuste no valor das marmitas congeladas, em função do preço da carne e dos legumes, os quais sofreram impactos pela estiagem.
Agora, o negócio familiar, que surgiu em plena pandemia, em 2020, terá que segurar as pontas para não repassar mais um aumento consecutivo aos clientes.
— Vamos segurar um pouco por enquanto. Porque se aumentarmos de novo, acabamos perdendo cliente — avalia.
Contudo, a preocupação aumenta com a chegada do frio, quando um dos pratos preferidos dos clientes, o mondongo, acaba exigindo mais tempo de cozimento e, consequentemente, mais gasto de gás:
— Por enquanto, não vamos tirar nada do cardápio. Mas posso dizer que o mondongo provavelmente terá aumento. É um produto que já vem para mim mais caro no inverno por causa da demanda. E é um prato que precisa de um dia inteiro de cozimento. Por exemplo, se começamos 10h vamos até 18h, 19h, cozinhando — comenta.
Além do gasto no gás, a microempresa lida com outro recente aumento no dia a dia: o valor do litro do combustível, que teve acréscimo de 18% na semana passada. A gasolina é parte fundamental no processo de entrega, que é feito por um motoboy terceirizado. Para diminuir os custos dos clientes, a empresa absorve 20% no valor das entregas:
— O cliente paga R$ 8, mas nós pagamos R$ 10 ao motoboy. Mas, daqui a pouco, com o aumento da gasolina, o motoboy vai me cobrar um pouco a mais e eu vou ter que repassar — prospecta Rafaela.
"Vou dançando conforme a música", brinca confeiteira
A confeiteira e microempreendedora Vanessa Pereira Barbatto, 31 anos, trabalha há oito anos no ramo. Com experiência na oscilação de valores dos insumos, ela diz que também tentará absorver os gastos com o gás de cozinha para não repassar um novo aumento de preços aos clientes. A confeiteira conta que atualizou o catálogo no início de 2022, após mais de um ano sem alterar os preços. Para não "assustar" os clientes, o jeito será não repassar os novos gastos tão em breve.
— Como é algo novo, vou levando até onde dá. Está difícil para todo mundo. E não é só o gás, teremos o aumento da farinha, provavelmente do leite condensado também. Vamos esperar para fazer um reajuste só, e vou dançando conforme a música— brinca.
No dia a dia, pequenas mudanças também serão aplicadas com o objetivo de economizar. Vanessa diz que optará pelo forno elétrico sempre que for possível e otimizará o cronograma de pedidos. Além disso, ela dá outra dica prática que serve para o cotidiano das famílias que cozinham em casa:
— Toda vez que você abre o forno entra ar frio, o que deixa o processo de assar o bolo mais lento. Além de correr o risco de a massa dar errado, vai aumentar o tempo no forno. Não é bom abrir o tempo todo — ensina.
Miniloja dentro de um carro
Motorista por dois sistemas de aplicativo (Uber e Mobile Táxi) em Caxias do Sul, Rosângela Vasconcelos Almeron, 41 anos, relata que está conseguindo manter o trabalho mesmo com o último aumento no preço dos combustíveis repassados aos consumidores na sexta-feira (11). Ela conta que está pagando R$ 6,59 o litro da gasolina comum.
— Por enquanto, ainda não sofri muito, meu carro é econômico. Já tivemos a gasolina acima de R$ 7 há um tempo atrás. Desde que a gasolina não chegue a R$ 8, R$ 9, dá sim para nos mantermos como motoristas de aplicativo — justifica ela, que atua na função desde 2017.
Formada em Ciências Contábeis, ela encontrou uma forma de aumentar a renda nas viagens e oferecer uma possibilidade a mais de negócio para quem entra no seu carro. Trata-se de uma miniloja móvel, onde os clientes podem ter acesso a cosméticos de duas marcas, além de tapetes de crochê produzidos pela irmã dela.
— Está sendo bem aceito — resume Rosângela.
"Tenho buscado outras alternativas"
Já Guilherme Spiandorello, que é motorista de aplicativo há quase três anos, está menos otimista com o cenário da profissão e pretende deixar a função em breve. Ele argumenta que há uma série de gastos, os quais vão além do preço do combustível, que ainda serão aplicados de forma secundária aos consumidores.
— Vai aumentar o valor do frete, para trazer o pneu, o óleo, enfim, todos os insumos básicos de um veículo. Fora o custo de alimentação e outras coisas. Já tenho buscado outras alternativas de trabalho, porque como motorista de aplicativo não há futuro, infelizmente — relata.