As filas que se formaram nos postos de Porto Alegre na tarde desta quinta-feira (10) refletem a apreensão causada na população pelos reajustes nos preços dos combustíveis anunciados pela Petrobras. Nesta sexta-feira (11), após 57 dias de preços praticamente congelados, a gasolina vai aumentar em 18,77% e o diesel em 24,93% nas refinarias. Na esteira dessas altas, o Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) também será impactado e estará 16,06% mais caro.
O preço médio de venda da gasolina da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 3,25 para R$ 3,86 por litro, uma diferença de R$ 0,61. Considerando a mistura obrigatória de 27% de etanol anidro e 73% de gasolina A para a composição do combustível comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 2,37, em média, para R$ 2,81 a cada litro vendido na bomba. Uma variação de R$ 0,44 por litro.
Para o diesel, o preço médio de venda da Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 3,61 para R$ 4,51 por litro, uma diferença de R$ 0,90. Considerando a mistura obrigatória de 10% de biodiesel e 90% de diesel A para a sua composição, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 3,25, em média, para R$ 4,06 a cada litro vendido na bomba. A variação é de R$ 0,81 por litro.
Para o GLP, o último ajuste de preços ocorreu em 9 de outubro de 2021. Nesta sexta-feira, o preço médio de venda do gás processado pela Petrobras para as distribuidoras passará de R$ 3,86 para R$ 4,48 por quilo, equivalente a R$ 58,21 por 13 quilos, refletindo reajuste médio de R$ 0,62 por quilo. Neste caso, a diferença em um botijão de 13 quilos vai custar R$ 9,31 a mais.
As causas do reajuste
A Petrobras explica que o reajuste vai no mesmo sentido de outros fornecedores de combustíveis no Brasil que já promoveram ajustes nos seus preços de venda. A companhia informou que, mesmo com a disparada dos preços do petróleo e seus derivados em todo o mundo, nas últimas semanas, como decorrência da guerra entre Rússia e Ucrânia, foi decidido não repassar a volatilidade do mercado de imediato, realizando um monitoramento diário dos preços de petróleo.
Inflação deve "explodir"
André Braz, coordenador de índices de preços do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV), opinou sobre o que vai ocorrer com a inflação a partir desses aumentos.
— Vai explodir — foi a resposta.
Braz projetou que o aumento da gasolina vai gerar alta de 1,24 ponto percentual, e o diesel, de forma direta, 0,06 ponto no IPCA. Somados, vão somar uma carga extra de 1,3 ponto, dos quais dois terços ainda neste mês e um terço em abril. Isso vai fazer também com que o Banco Central (BC) tenha de recalcular a necessidade de alta do juro ao longo deste ano.
A gasolina é o item que mais pesa no cálculo do índice oficial da inflação, o IPCA: responde por cerca de 6% do indicador. Mas o diesel é o responsável por inflamar todos os demais preços, pelo mecanismo do frete: todos os produtos precisam chegar aos clientes, e a grande maioria desse transporte é rodoviário. O custo da guerra chegou nosso bolso do brasileiro.
Câmara aprova projeto
Algumas medidas estão sendo tomadas para tentar amaciar os aumentos. A Câmara dos Deputados aprovou, na madrugada desta sexta-feira (11), o projeto que altera o modelo de cobrança do ICMS, imposto arrecadado pelos Estados, sobre os combustíveis e isenta a aplicação do PIS e a da Cofins, tributos federais, sobre o diesel e o gás de cozinha até o fim do ano. A Casa, no entanto, rejeitou um dispositivo aprovado pelo Senado, chamado de "gatilho", que permitia que Estados ajustassem o ICMS, para baixo ou para cima, conforme a oscilação dos preços, desidratando o modelo instituído pelo projeto. O texto segue para sanção presidencial.
Filas e preços nas alturas
O aumento no preço do litro da gasolina já chegou nesta quinta-feira aos postos de combustíveis de Porto Alegre. Além de longas filas registradas em postos, a reportagem de GZH localizou estabelecimentos na Avenida Cavalhada, na Zona Sul, oferecendo a gasolina a quase R$ 7 já na tarde desta quinta-feira.
No começo da tarde, sabendo da previsão de reajuste nas refinarias, os motoristas buscavam os estabelecimentos que estavam vendendo a gasolina a R$ 5,99, conforme relatos nas filas. À noite, com a alta acelerada nos postos, os que estavam comercializando o produto abaixo de R$ 6,40 passaram a receber muitos clientes.