Não é de hoje que as paisagens dos Campos de Cima da Serra são cenários de contemplação e de rara beleza. Se nos últimos anos, o interesse pelo turismo de contemplação e aventura tem despertado a curiosidade, essa parece ser a tendência de comportamento dos visitantes, principalmente no pós-pandemia. Uma nova perspectiva, também de negócio, se amplifica a partir desse movimento do turismo. Tanto é que, em Jaquirana, município de 3,6 mil moradores, segundo estimativa do IBGE, receberá investimento de mais de R$ 50 milhões para a construção de hospedagens.
Quem vai investir são empresários paulistas que adquiriram três áreas com cascatas e paisagens naturais em Jaquirana, onde pretendem criar uma série de empreendimentos na área turística. Ao todo, mais de 100 hectares foram comprados no entorno das cascatas Princesa dos Campos, Passo do S e Passo do Junco.
Toda a região dos Campos de Cima da Serra é um destino que proporciona aventura, contato com o meio ambiente, isolamento e tranquilidade. Há roteiros para quem quer apenas contemplar as paisagens e para quem prefere cavalgadas, escaladas e aventuras. Quem procura um lugar romântico também encontra pousadas aconchegantes ou até mesmo hospedagem no estilo glamping, uma espécie de camping, mas com glamour.
Sabendo do potencial dessas experiências há tratativas para a implantação do Plano Regional de Turismo. Cambará do Sul e São José dos Ausentes já são roteiros reconhecidos pela exuberância dos cânions. Em Cambará, o Itaimbezinho e o Fortaleza atraem turistas o ano todo, e em Ausentes uma das principais atrações é o cânion Monte Negro, o ponto mais alto do Rio Grande do Sul. Já Jaquirana e Bom Jesus, que também contam com cenários de tirar o fôlego, ainda se preparam para atrair mais visitantes.
A maioria dos visitantes vai até os pontos turísticos e passa apenas o dia, e depois retornam para outros municípios onde estão hospedados. Isso acontece porque são cidades menores e que não oferecem estrutura.
Turismo regional deve ser fortalecido
Com as restrições provocados pela pandemia, as opções também são reduzidas, por isso, a consultora em Turismo, Ivane Maria Remus Fávero, ressalta que é necessário que as cidades se planejem.
– A cidade tem que entender que quando ela vai trabalhar com turismo tem que criar uma oferta completa, mesmo que com um olhar regional. Isso só ocorre com planejamento, e para isso é preciso uma construção conjunta entre setor público e privado. Primeiro, é necessário estruturar o município, depois qualificar profissionais e até mesmo a comunidade para prestar informações, aprender com melhores práticas, e depois vem a promoção da cidade, porque sem divulgação ninguém irá até lá – explica Ivane.
Ela ressalta que a pandemia fortaleceu uma tendência que veio para ficar: vivenciar as experiências ao ar livre, seja com turismo de aventura, rural ou de contemplação:
– As pessoas querem sair dos lugares fechados, sair da rotina e dessa sensação de estarem presas, e buscam liberdade e conexão com a natureza. Com a pandemia temos o escapismo de final de semana, não há mais viagens só nas férias. Há busca pelo ar livre, que é seguro, e hoje as pessoas entendem que os melhores roteiros e experiências são essas. Isso veio para ficar.
A consultora em turismo finaliza dizendo:
– O turista não tem fronteira geográfica, porque ele viaja para uma região. Nos Campos de Cima da Serra têm os cânions em dois municípios, mas é preciso pensar a região como um todo para que esses turistas fiquem por mais tempo e talvez conheçam mais lugares do entorno. Para isso é necessário estratégias, que passam pela criação de um plano regional.
Jaquirana projeta o futuro
Jaquirana recebe turistas com mais frequência no verão. No centro há apenas um hotel e uma pousada. Dentro da cidade o principal ponto é o Morro do Cristo Libertador ou da Cruz. São 167 degraus para chegar ao topo e está em andamento a pavimentação no acesso ao morro e grafitagem na escadaria. No interior, a procura por hospedagem aumenta aos finais de semana. Há pousadas e cabanas, mas com poucos quartos à disposição. Ao todo são 25 leitos e camping em uma delas, quatro cabanas em outros dois pontos, e seis quartos com mais um chalé para seis pessoas em outra área do interior.
O secretário de Turismo Rogério Almeida da Silva explica que a cidade ainda se estrutura para receber visitantes. Lá eles vão encontrar as cachoeiras dos Venâncios, Passo do S, Princesa dos Campos, do Costa e dos Irmãos Reis.
– Precisamos de novos investimentos tanto do pessoal local quanto de investidores de outros locais. Temos esses de São Paulo. Eles vão reestruturar a área existente na Princesa dos Campos e se fala em um investimento em torno de R$ 50 milhões. Esse é o começo de uma nova era em Jaquirana: o turismo será nossa principal fonte de recursos muito em breve – acredita.
São mais de 100 hectares que foram comprados no interior. Em 2017 foram adquiridos os dois primeiros lotes do Passo do Junco e depois foram adquiridas outras áreas no Passo do S e Princesa dos Campos. O primeiro projeto, com previsão de mais de R$ 20 milhões em investimentos é o da Princesa dos Campos. Inicialmente devem ser construídas entre 12 a 20 cabanas. Também estão previstas estruturas de glamping, estadia rústica que lembra acampamentos, mas com conforto de uma rede hoteleira.
– Agora o investimento será focado na Princesa dos Campos que já tem uma pequena infraestrutura e nos próximos anos vão investir nas outras áreas. Isso vai nos ajudar muito, mas ainda não é o suficiente, porque precisamos de estrutura também dentro da cidade. Temos outro investidor daqui que vai investir em cabanas no interior, mas que fica em uma cachoeira mais próxima a cerca de dez quilômetros do centro. Acredito que esses empreendimentos já comecem esse ano ainda para que em 2022 a gente já comece a ter uma estrutura melhor para o turista. Jaquirana dará um pulo grande no turismo – aposta.
Em Ausentes, os cânions são principal atrativo
São José dos Ausentes tem uma falha geológica, que é um desnível dos rios, considerada única nas Américas, segundo a secretária de Turismo, Aline Ramos. A alta temporada é nos meses de outono e inverno. Agora o município também passou a considerar os meses de verão como temporada, porque há busca por passeios nas cachoeiras. Na gastronomia, o principal destaque é o queijo artesanal serrano, considerado patrimônio cultural da cidade.
Para a secretária do TurismoAline Ramos o principal atrativo do município ainda são os cânions.
– Os cânions aliados ao frio, as cachoeiras, ao turismo histórico, tudo isso tem trazido muitos visitantes para cá. A gente tem a Cruz Missioneira que foi colocada em 1727 por jesuítas que passaram pela região e fica bem próxima do cânion Cruzinha, que dá uma visão do Monte Negro em um ângulo diferente e muito bonito, e a cruz em si é muito bonita. Temos o Museu na Vila Silveira, que é o segundo maior museu familiar da América Latina e que tem acervo interno e externo, e um pequeno cemitério indígena.
Para quem busca ainda mais aventura, tem rafting no Rio Pelotas e cavalgadas pelo interior.
– Aos finais de semana está bem difícil de conseguir vaga, porque as pessoas buscam turismo de natureza e é o que temos. O turista quer fazer trilha, estar junto a natureza, cachoeiras, rios e aos animais, e sem aglomeração de pessoas, porque os pontos são espalhados. Isso tem feito com que o nosso turismo tenha tido procura alta e acredito que isso tende a se fortalecer ainda mais, porque é o que os visitantes procuram.
Ausentes tem, ao todo, 16 opções de hospedagem, incluindo os dois hotéis localizados no centro do município.
Bom Jesus está em busca de investidores
Em Bom Jesus tem passeios para ciclistas, rapel, passeio de 4X4, redes suspensas sobre uma cachoeira, cavalgadas, trilhas e a rota das cascatas para quem quer apenas contemplar a natureza. A rede suspensa é uma experiência inédita que acontece no Cachoeirão do Rio Cerquinha.
– A cidade tem todos os atrativos para quem quer aventura, quer acampar, prefere um chalé mais confortável, uma pousada mais rústica, ou quer acampar num camping ou em motor home ou trailer. Temos as cachoeiras para quem quer apenas contemplar e também temos histórias com o museu, a igreja, o Caminho dos Tropeiros lançado agora em julho – revela a secretária do Turismo Adriana Vieira Varella.
Apesar disso, ela entende que falta visibilidade para atrair o turista. Uma das apostas é a Rota Turística e Cultural Caminhos das Tropas, que são os corredores por onde passavam os tropeiros do Cone Sul rumo ao centro do Brasil. São cerca de cinco quilômetros preservados que contam a história da cidade.
– Nosso desafio é fortalecer o empreendedor que está aqui e buscar investidores. Para isso é preciso demostrar o potencial turístico para que quem é daqui invista na cidade. Estamos buscando meios de divulgar a cidade e criar alternativas para quem é daqui empreender.
A ideia é preparar também a comunidade.
– Queremos fazer excursões com os moradores para que eles se sintam em uma cidade turística. Hoje temos como atender os turistas, em termos de estadias, com oito estabelecimentos entre pousadas e hotéis, sendo que a maioria é no interior, mas precisamos projetar o futuro– defende Adriana.
Cambará tem dois parques nacionais
Em Cambará do Sul, o principal destino são os parques nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral.
– A cidade recebeu muitos turistas pela promessa da neve (nesta semana), e especialmente com a chegada dela. A comunidade está muito contente, e estamos com 100% da ocupação, dentro dos protocolos. Hotéis, restaurantes e o comércio estão comemorando porque a chegada da neve atraiu visitantes – destaca o secretário Tiago Lima.
Ele lembra que Cambará é destaque no setor de ecoturismo, e a única cidade brasileira que tem dois parques nacionais, onde estão o Itaimbezinho e o Fortaleza.
– Nossa cidade tem por característica o turismo de aventura e nos meses de inverno a possiblidade de neve. Nosso principal atrativo são os parques. Com a concessão dos parques, e a expectativa de aumento do número de visitantes, é preciso investidores. Nosso maior desafio agora são os investimentos, porque Cambará do Sul é uma cidade pequena, e não tem infraestrutura que a concessão nos informa que é passar de 250 mil pessoas para 1 milhão de visitantes.
O secretário ressalta ainda que está em andamento um trabalho conjunto entre os municípios da Serra, Campos de Cima da Serra, região das Hortênsias e Vale dos Vinhedos:
– Está sendo feito um trabalho de sinalização turística e de integração entre os roteiros turísticos englobando toda a região.
Entre as principais atrações estão o Cânion Itaimbezinho, Trilha do Rio do Boi, Cânion Fortaleza, Borda Sul do Cânion Fortaleza, Circuito das Águas, que só pode ser feito a bordo de um 4x4. O roteiro é feito no interior do município de Jaquirana. São 100 km de estrada de terra e paradas para conhecer a Cachoeira dos Venâncios, o Passo do “S” e o Passo da Ilha.