A cada nova reunião de apresentação do Desempenho da Economia de Caxias do Sul, com dados compilados pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC) e Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), é visível a apreensão dos participantes. Por mais que ocorra o tradicional "quebra-gelo", com as triviais conversas antes do anúncio oficial, não há como esconder o clima de insegurança quanto ao futuro da economia local.
Mesmo que o encontro desta quinta-feira (8/4) tenha sido para apresentar os dados de fevereiro, com leve queda de 0,6%, o tom de preocupação dos participantes apontava para a próxima reunião, quando será tratado do desempenho de março. É que, na avaliação dos empresários e economistas presentes, março foi o mês em que a bandeira preta foi decretada pelo governador Eduardo Leite (PSDB) com a justificativa de restringir a circulação das pessoas para forçar a diminuição do contágio do coronavírus.
Mesmo em um período com menores restrições por causa do decreto em bandeira vermelha, já que se tratam dos dados do mês de fevereiro, o recuo se deve sobretudo aos setores de Comércio (-5,9%) e Serviços (-2,1%). A Indústria, positivamente impactada pelo agronegócio, mais uma vez elevou seu índice nesse período em 1,9%. No comparativo de fevereiro de 2021 contra fevereiro de 2020, em que se elimina a sazonalidade, verifica-se índice de -0,3%. Nesse recorte de tempo mais amplificado, percebe-se como a Indústria realmente desponta, atingindo marca de 17,1% de crescimento. Em contrapartida, Serviços e Comércio retraíram -21,3% e -18,5%, respectivamente, no mesmo período de 12 meses.
Após a apresentação do relatório, a primeira manifestação foi a de Carlos Alberto Cervieri, gerente administrativo-financeiro da CDL Caxias do Sul. Para ele, nessa disputa entre bandeiras, está muito clara à sociedade qual é a flâmula defendida pela entidade.
— Gostaria de ressaltar que uma das nossas bandeiras, junto ao CDL, será sempre a defesa pela abertura de todos os segmentos, claro, com os cuidados devidos. Mas temos de abrir. Sempre enfatizamos os cuidados de todas as medidas sanitárias junto aos nossos associados. Essa é uma bandeira muito forte que temos. E quero ressaltar ainda a nossa preocupação para com os dados do mês de março, do varejo dito "não-essencial", que será bastante crítico. Não sei se conseguimos trabalhar uma semana no mês todo de março. Deverá ser uma queda negativamente forte — prevê Cervieri.
A empresária Maristela Tomasi Chiappin, diretora presidente da Rede de Ensino Caminho do Saber e também vice-presidente de Serviços da CIC, reforça que, historicamente, o setor de Serviços tem uma grande importância na cadeia econômica da cidade, sobretudo na geração de empregos.
— A crise evidenciou essa importância na medida em que, ao registrar números negativos do setor, impactou no desempenho geral da economia — pondera Maristela.
Em se tratando de empregabilidade, o estudo mostra que o mercado formal apresentou aumento de 1.960 novas vagas em fevereiro, um crescimento de 1,3% no mês. O maior número de empregos ocorreu na indústria. Foram 1.052 vagas criadas em fevereiro. No município, o saldo, entre admissões e demissões é de -3.248 vagas, em 12 meses, conforme números do Caged, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, divulgado recentemente. Como tem insistentemente frisado, Astor Milton Schmitt, diretor de Economia, Finanças e Estatística da CIC, destaca que Caxias precisa encontrar uma forma de, apesar dos ciclos de crise, estimular o emprego.
— Mesmo com a conjuntura apresentada, Caxias precisa progressivamente dar uma resposta para o desafio da geração de emprego. Atualmente, temos 151.642 trabalhadores empregados. Se compararmos a 2012, quando empregávamos 179.868, temos um déficit de quase 29 mil. É um débito social dramaticamente alto e estrutural. E só vamos pagar esse débito na medida em que, principalmente, o setor de Serviços reagir melhor. Porque, ao lado da Indústria, é o grande setor gerador de emprego — observa Schmitt.
Vacinação como esperança da retomada econômica
Além do temor quanto ao futuro, sobretudo quanto ao resultado que deve ser ainda mais brusco quando o mês de março for colocado à prova, outro consenso entre os participantes é a necessidade de acelerar a vacinação. A CIC, como reforçou a vice-presidente de Serviços, Maristela Tomasi Chiappin, é a favor da compra de vacinas por parte da iniciativa privada.
— Quem sabe podemos levantar essa questão junto ao governador, que vai participar da próxima reunião-almoço (12/4), e nos colocarmos à disposição no aspecto da logística disso — avalia Maristela.
Além de um plano ainda mais arrojado de vacinação, a economista Maria Carolina Rosa Gullo, diretora de Economia, Finanças e Serviços da CIC, defende a necessidade de o governo estadual apresentar com antecedência a rotina de funcionamento dos estabelecimentos.
— A indústria mantém um aquecimento porque tem menos restrições e consegue trabalhar mesmo com um número reduzido de trabalhadores, porque, em teoria, sua rotina é mais estável. Diferentemente do que vem ocorrendo com o Comércio e Serviços, que ora abrem, ora fecham, e isso interfere, em última instância, na decisão de compra do consumidor — conclui.