Uma moradora de Otávio Rocha, em Flores da Cunha, contatou a reportagem para relatar demora para obter o resultado da perícia após passar por consulta médica na agência do INSS de Caxias do Sul. O nome dela será preservado porque ela teme represálias por questionar a demora e a decisão do INSS, que negou a concessão da licença.
Ela está grávida de sete meses e trabalha com carteira assinada na zona rural da cidade serrana. Em novembro, o médico que atua na Unidade de Pronto Atendimento do município a afastou do trabalho. A empresa onde ela atua marcou a perícia no dia 24 de novembro de 2020 e a consulta foi agendada para o dia 7 de dezembro do ano passado. O resultado sairia no mesmo dia, sendo que o prazo era a partir das 21h pelo app Meu INSS ou pelo 135.
— Dali em diante nada aconteceu. Eu tive que ir até a agência em Caxias do Sul e um jogava para o outro. No 135 eles falaram que era o pessoal de Caxias que estava demorando para enviar o laudo para eles. Na agência do INSS falei com várias pessoas que estavam passando pela mesma situação que eu — conta ela.
A resposta ao pedido de licença chegou na última segunda-feira (4), após uma espera de quase um mês. Contudo, o problema está longe de ser resolvido: pelo laudo, o afastamento do trabalho foi concedido de 26 de novembro a 7 de dezembro, data da perícia, sendo que o documento só chegou recentemente às mãos da requerente:
— Eu tenho três filhos e não ganho ajuda do governo como bolsa família ou benefícios. Não tenho condições financeiras e preciso desse salário. Fiquei quase um mês esperando o resultado e o afastamento seguiu até o dia 7/12. Algo está errado nesta decisão. Eles me entregaram o laudo no dia 4 de janeiro, sendo que era válido até o dia 7 do mês anterior. Estou indignada porque não fui eu que pedi para não trabalhar. Estou com sete meses de gestação e o médico pediu afastamento devido a minha falta de ar.
Ela conta que os problemas respiratórios têm sido frequentes com o uso contínuo da máscara devido à pandemia de coronavírus:
— O médico me pediu até o teste de covid-19 porque estou com dificuldade para respirar. Ele me deu vários tratamentos e eu não melhoro porque preciso usar a máscara o tempo todo. Ele disse que não adianta medicação e fazer bombinha se eu seguir usando máscara. Estou emagrecendo durante a gestação, e já emagreci muito.
A mulher, de 40 anos, questiona como irá se manter, sendo mãe de três filhos e com um a caminho se o INSS negou o benefício:
— Eu preciso receber. Como vou voltar a trabalhar se estou há mais de um mês afastada e o resultado saiu quase um mês depois? Eu vou recorrer judicialmente até porque o médico com o qual tive consulta nesta quarta-feira (6) me disse que eu tenho que seguir afastada. Ele pediu afastamento das atividades laborais até o final da gestação. Estão negando o auxilio com CID a uma gestante de alto risco, com o vírus circulando cada vez mais por aí _ desabafa ela.
Demora que provoca angústia
O pedreiro Osvaldo de Oliveira Costa, 59 anos, também reclama da demora. Ele fez a perícia em 2 de dezembro, mas apenas nesta semana o INSS entrou em contato para informar que faltava um documento. Com sérios problemas de pulmão, ele precisa do afastamento.
— Em fevereiro do ano passado precisei ser intubado. Fiquei no hospital um tempo e tenho problemas graves no pulmão. Estamos tentando o afastamento, mas está demorado para conseguir o resultado. Estive aqui no dia 2 e agora voltei porque avisaram que faltou uns documentos. Demoraram para avisar. É um descaso com quem precisa — lamenta ele, que paga o INSS particular para garantir a aposentadoria.
CONTRAPONTO
Desde a última segunda-feira (4) a reportagem tenta contatar a agência do INSS de Caxias do Sul pelo telefone, sem obter retorno. Também tentou contato com a gerência da agência do INSS pelo celular, mas ela não atendeu as ligações e nem retornou a mensagem encaminhada por aplicativo de conversa.
Nesta quinta-feira (7), a reportagem esteve na agência e foi informada que a gerente está de férias e, ao solicitar informações e se alguém poderia falar sobre o assunto, foi encaminhada para a gerência executiva e atendida por uma segurança, que retornou com um papel com dois números de telefone com código 48. Um deles não atende e o outro não completa ligações ou consta como inexistente.