Natural de Rio Grande, o pesquisador, escritor e músico José Daniel Telles dos Santos teve contato com a música de Lucio Yanel antes mesmo de saber da existência do artista. O timbre único do violão do argentino povoa as memórias de infância do autor, ressoando das ondas de um pequeno rádio a pilha que ele acompanhava ao lado do pai. Anos mais tarde, em 2007, Santos viu Yanel numa atração televisa e anotou o telefone de contato do violonista. Ligou, conversou com o próprio ídolo e marcou uma primeira entrevista. Iniciava ali, uma relação de amizade e cumplicidade que resulta agora na biografia O Violão Pampeano de Lucio Yanel: memórias de um fazer musical no sul do Brasil. A obra será lançada nesta terça (28), às 20h, por meio de live transmitida pelos perfis de Instagram @lucioyanel e @josedanielguitar.
Nestes 14 anos de contatos, o violão de Yanel inspirou outros trabalhos assinados por Santos, como uma monografia e uma dissertação de mestrado, ambas apresentadas na Universidade Federal de Pelotas. Os dois também realizaram parcerias musicais, como o I Festival Internacional de Violão do Mercosul, em 2013. Atualmente vivendo em Portugal, o autor explica que queria lançar a biografia havia pelo menos 10 anos. A oportunidade surgiu durante a pandemia, por meio do edital Criação e Formação - Diversidade das Culturas.
– O projeto foi concebido para contar a história de vida do Lucio através de várias vozes, mas em especial a partir da sua visão sobre as experiências vividas. O Lucio é protagonista, ao longo do texto. Muitas vezes é ele que nos conduz pela narrativa, em diálogo com outros músicos que nos ajudaram a reconstruir esta história – adianta o autor, que reuniu para o livro depoimentos de “discípulos” do argentino como Yamandu Costa, Thiago Colombo, Mauricio Marques e Marcello Caminha.
A biografia está dividida em duas grandes partes. Uma delas remonta a trajetória pessoal de Yanel, desde os primeiros passos na terra natal, Corrientes, até a consagração como instrumentista e os desafios do momento presente. A outra parte investiga o legado artístico do músico, responsável por criar uma escola de violão no sul do Brasil.
– Lucio Yanel é um divisor de águas. Ao mesmo tempo que seu violão é lírico, porque tem um vibrato muito especial; também é percussivo, devido a recursos como rasgueados, chasquidos e um toque especial com o polegar nas cordas graves. São elementos únicos e que foram sendo incorporados pela nova geração. Lucio se considera um autodidata, mas a verdade é que sem ter a pretensão de ser um mestre, ele mudou a história do violão no Rio Grande do Sul, no Brasil eu diria. Fez e continua fazendo escola – elogia o biógrafo.
Além da faceta artística, o livro também elenca detalhes sobre a personalidade cativante do instrumentista. Entre suas principais marcas estão a generosidade, a humildade e o bom humor.
– Lucio é alguém que entende seu papel como artista, sempre se colocando a serviço da arte, nunca a frente dela. Um virtuoso no sentido amplo da palavra, como músico e ser humano. É minha maior referência enquanto pessoa e artista – define Santos.
O valor arrecadado com as vendas do livro será destinado ao próprio Yanel. Conforme o autor, é uma maneira de pagar a dívida de gratidão por tudo o que o artista fez e faz pela cultura o Estado.