
A música Rebel Girl, entoada pela banda norte-americana Bikini Kill e hino do movimento noventista Riot Grrrl, dá tom à trama de Moxie: Quando as Garotas Vão à Luta. O filme atualiza ideias do movimento comportamental e musical (veja dicas de mais bandas Riot Grrrl abaixo) que nasceu depois da confecção de um zine, no início dos anos 1990. A partir dessa veia nostálgica, o roteiro de Moxie vai pontuando pautas feministas bem atuais, situadas no formato já batido dos filmes de high school.
Estreia da Netflix na semana passada, o longa se manteve entre os mais vistos da plataforma de streaming nos últimos dias, talvez pelo timing certeiro das celebrações à semana da mulher. Na história, a adolescente Vivian (Hadley Robinson) conhece a canção do Bikini Kill através da mãe — vivida por Amy Meredith Poehler, também diretora do filme —, que costumava repetir a ela a estrofe "Aquela garota, ela mantém sua cabeça tão erguida". Mas o clima de sororidade e empoderamento presente em Rebel Girl só é realmente compreendido pela garota a partir da chegada de uma colega nova na escola, Lucy, interpretada pela atriz de origem latina Alycia Pascual-Peña. Ao encarar o capitão do time de futebol americano, que além de superpopular é extremamente machista e abusivo, Lucy acaba por inspirar Vivian, que decide criar um zine em segredo para falar de questões que a indignam no dia-a-dia do colégio. Outro gatilho para o nascimento do zine, batizado de Moxie, é uma lista ofensiva que divide as meninas da escola em categorias como "mais pegável", "melhores peitos" e por aí vai. Com muita raiva no coração e fones de ouvido ressoando bandas feministas de hardcore, Vivian vai experimentando a rebeldia e a desobediência.
Mas esse caminho de descobertas em relação à sua identidade enquanto mulher vai testar Vivian de várias formas. Na ânsia por não fazer um recorte parcial da temática, Moxie traz à tona muitas questões, e algumas acabam até mesmo sendo menos exploradas do que poderiam. Um desses casos é a relação de Vivian com sua melhor amiga, Claudia, que tem origem asiática e abre debate sobre a importância de um discurso feminista mais inclusivo. O filme aborda ainda o caso clássico da mulher com pensamento machista, representada pela diretora da escola.
Uma das passagens interessantes do filme mostra a repressão contra uma aluna proibida de usar blusa de alcinha porque a vestimenta seria responsável por distrair os colegas meninos. O caso lembra em muito a polêmica envolvendo alunas de um colégio de Porto Alegre que, em 2016, encabeçaram mobilização pelo uso de shorts na escola. Ou seja, Moxie revela pautas atuais e relevantes, principalmente no universo adolescente com o qual se propõe a dialogar. Para as mulheres que já passaram dos 30, o filme pode funcionar como um chamado para reascender a velha chama da rebeldia tão presente no movimento Riot Grrrl.
Se liga no som
Inspirado em Moxie, separamos cinco bandas que foram importantes no cenário do movimento Riot Grrrl dos anos 1990. São formações barulhentas, protagonizadas por mulheres que usaram a música como uma ferramenta contra o patriarcado. Para além dessa pequena lista, vale acrescentar que a trilha do filme traz ainda uma representante contemporânea do movimento, a novíssima The Linda Lindas, nascida em 2018; e também contempla uma formação brasileira cheia de mulheres criativas, a banda Cansei de Ser Sexy (CSS).
1. Bikini Kill
2. Sleater-Kinney
3. Bratmobile
4. Bulimia
5. Dominatrix