Uma recente publicação, destacando um resumo da trajetória do fotógrafo Giacomo Geremia (1880- 1966), contribuiu para uma informação extra, desconhecida pelo colunista e, provavelmente, por muita gente que passou pelo antigo Studio Geremia: a“ grife” Geremia segue até hoje, porém, com sede em Porto Alegre e focada em ensaios, publicidade, books e gastronomia.
O texto a seguir foi enviado por Luiz Geremia no dia posterior à publicação:
“Boa tarde, Rodrigo. Meus primos de Caxias do Sul enviaram uma matéria sobre o nosso avô Giacomo Geremia, o primeiro fotógrafo na família. Depois, o meu tio Ulysses. E eu segui como a terceira geração de fotógrafos, desde 1980 até hoje. São mais de 125 anos de fotografia sem parar. Estou escrevendo para você saber que a arte de fotografar da família Geremia não acabou”.
Não só não acabou como recentemente virou filme. O início do imigrante italiano na arte da fotografia – entre 1898 e o início do século 20 – foi o recorte de tempo escolhido para o curta- metragem “As Mil Palavras de Giacomo Geremia”, escrito e dirigido em parceria por Edison Rodrigues e Stefania Curti, sobrinha de Luiz e bisneta de Giacomo.
– A ideia foi eternizar a história do Giacomo através do cinema, fazer uma homenagem ao trabalho dele e ao legado que deixou para Caxias do Sul. Quisemos mostrar a vida de um homem que virou um marco ao eternizar, em registros fotográficos, os aspectos sociais e históricos da região – resume Stefania.
NETO E AVÔ
A produção, rodada em 2021 e finalizada no início deste ano, traz no elenco os atores Rodrigo Teixeira, Carolina Repenning e Alexandre Cardoso (in memoriam), respectivamente Giacomo; sua futura esposa, Ângela Ida Zacchera; e Zacchera, tio de Angela.
Luiz Geremia, que seguiu o ofício do avô Giacomo e do tio Ulysses, também participa do filme. Registrou os bastidores da produção e deu vida a um dos tantos moradores da Serra que posaram para as lentes do jovem Giacomo naqueles primórdios do século 20.
– Foi uma honra participar da história de meu avô. Giacomo se tornou uma lenda, seguido pelo meu tio Ulysses. Agora tenho a responsabilidade de manter um nome de três gerações – comenta.
Nas imagens desta página, alguns registros das filmagens, ocorridas em Bento Gonçalves, Taquari, Garibaldi e Monte Belo do Sul. Em Bento, um dos cenários escolhidos foi o casarão de pedra da Cantina Strapazzon.
Detalhe: o nome do filme, “As Mil Palavras de Giacomo Geremia”, faz uma alusão à expressão“ Uma imagem vale mais que mil palavras” (Confúcio).
PRODUÇÃO
O filme foi realizado com recursos do Governo do Estado do Rio Grande do Sul por meio do Pró- Cultura RS FAC – Fundo de Apoio à Cultura. Conforme a diretora Stefania Curti, houve apenas uma sessão de lançamento no youtube em março. Atualmente, o filme está circulando por diversos festivais, ainda sem data definida de estreia.
Em Caxias do Sul, a ideia dos produtores seria lançá-lo exatamente no espaço que leva o nome da família, a Sala de Cinema Ulysses Geremia, junto ao Centro Municipal de Cultura Henrique Ordovás Filho.
Início em Antônio Prado
Giacomo Geremia chegou ao Brasil em 1892, aos 12 anos, instalando- se em Antônio Prado. Ainda adolescente, deixou a casa dos pais para tentar a sorte em Porto Alegre.
Porém, ao apresentar sintomas de bronquite asmática, foi orientado a buscar“ o ar da Serra” para se curar. Deixou a Capital e foi para Vacaria, onde conheceu um italiano que andava pelos povoados “ tirando retratos de pessoas”.
Observando como Giacomo se deixava seduzir pela magia de fotografar, o mestre transmitiu o ofício ao jovem aprendiz. Giacomo iniciava aí sua trajetória como fotógrafo itinerante, percorrendo os Campos de Cima da Serra, registrando a vida estancieira, fazendo retratos individuais e de famílias, enfim, eternizando o processo de transformação das colônias italianas desde seus primórdios.
Um século de história
Giacomo Geremia abriu seu primeiro estúdio em 1905, em Antônio Prado. A chegada a Caxias deu-se em 1910, quando instalou- se provisoriamente na Av. Júlio de Castilhos, entre a Dr. Montaury e a Visconde de Pelotas.
O ponto definitivo (Av. Júlio, 1.872) chegou em 1913, exatamente onde o Studio Geremia, posteriormente sob o comando do filho Ulysses, permaneceu até o encerramento de suas atividades, em 1997.