Um dos perfilados no livro O Instante e o Tempo - A Fotografia em Caxias do Sul (1885-1960), lançado pelo Arquivo Histórico Municipal em 2016, Jacob Kappes (1900-1980) figura no rol dos fotógrafos que mesclaram o hobby de captar imagens à sua atividade principal, no caso dele a alfaiataria.
Natural do vilarejo de colonização alemã Walachay, então pertencente ao município de Dois Irmãos, Kappes migrou para Caxias em meados da década de 1920, muito em função da falta de perspectivas do antigo vale, até hoje identificado como "perdido no tempo". Trazendo na bagagem o ofício de alfaiate, o jovem foi contratado pela Alfaiataria Sanvitto, onde atuou por mais de 30 anos. Em meio às fitas, dedais, tesouras e linhas do ateliê caseiro, acabou transformando o porão da residência também em um laboratório fotográfico. Era onde, nas horas de folga da alfaiataria, dedicava-se a confeccionar paletós ou registrar o casamento de algum amigo.
Conforme destacado no livro, a aparência alinhada, a polidez no trato com as pessoas e o gosto pelo convívio social contribuíram para integrá-lo ainda mais ao cotidiano urbano de uma cidade em rápido processo de modernização. Entre os anos 1930 e 1950, por exemplo, Kappes integrou o conselho de diretores do Clube Juvenil, do Recreio Guarany, do Sport Club Juvenil e do Grêmio Esportivo Flamengo (SER Caxias).
Já o aparente amadorismo para a fotografia foi sendo superado com a presença cada vez mais constante da bolsa de couro com a câmera, os filmes e as lentes por onde quer que o alfaiate fosse. Não raro, gostava de fotografar e ver-se nos mesmos registros, como percebemos nas duas imagens abaixo:
"Nas coberturas de eventos ou simplesmente nas confraternizações familiares, acionava o obturador e corria para a frente da câmera, misturando-se entre os fotografados", destaca o livro, completando que Kappes não era adepto de poses compostas, preferindo a espontaneidade das cenas.
Com informações e pesquisa de Sonia Storchi Fries, Susana Storchi e Elenira Prux, do Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami.
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O ocaso
A fotografia de Jacob Kappes mesclava momentos em família, casamentos, primeiras comunhões e piqueniques com solenidades festivas, jogos de futebol e eventos públicos, conforme vemos na seleção de imagens ao lado. A partir dos anos 1960, o fotógrafo abandonou o trabalho no laboratório, confiando o processo de revelação e impressão ao amigo e colega Antonio Beux.
A família
Jacob Kappes casou-se com Joana Franzoi, com quem teve o único filho, Jacob Willy. Após a morte da esposa, em 1972, ele contraiu segundas núpcias com Carolina Franken, em 1974. Kappes faleceu repentinamente em 13 de abril de 1980, pouco antes de completar 80 anos. Ele deixou os netos Eduardo, Daniela e Vinícius, filhos de Jacob Willy com Vera Sebben Kappes.
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Colaboração
Parte das informações desta coluna foi reproduzida do livro O Instante e o Tempo - A Fotografia em Caxias do Sul (1885-1960), lançada pelo Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami, em 2016.
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