A Serra gaúcha ganha mais um espaço que dialoga com memória, turismo e preservação do patrimônio histórico. Após 10 meses de restauração, será inaugurada nesta sexta-feira (29), em Garibaldi, a Casa de Pedra Família Cercato. Tombado pelo Município devido à sua relevância histórico-cultural, o casarão localizado no bairro Borghetto data de 1880 e constitui-se em um símbolo da colonização italiana na região do Vale dos Vinhedos.
Toda essa história remete à trajetória do imigrante João Baptista Cercato. Nascido na comuna de Martellago, província de Veneza, Cercato desembarcou no Brasil no início do século 20. Em 1919, casou-se com Maria da Gloria Dal Vecchio, passando a morar na propriedade. Ali, o casal criou os quatro filhos: Vitório, Armelindo, Elda e Genny.
Conforme informações repassadas pela família, coube a Armelindo - o “Neném” - permanecer na casa e cuidar dos pais - posteriormente, ele adquiriu as partes devidas por herança dos irmãos, ficando com toda a área.
Unindo gerações
Seu Armelindo Nicola Cercato (1922-1989) tinha como principal atividade o cultivo de parreirais. A venda de uvas a vinícolas era a principal fonte de renda da família - completada pela esposa Maria Theresina Salvagni Cercato, com quem ele casou em 1955, e pelos três filhos: Vanio, Vanderlei e Adriana.
Vanio e Vanderlei nunca abandonaram a propriedade. Tinham, em primeiro lugar, a obrigação da formação escolar, porém, sempre auxiliando o pai nas lidas agrícolas. Com o passar dos anos e o adoecimento de Armelindo, a propriedade ficou sob a responsabilidade de ambos, que mantiveram o cultivo da uva e o plantio de outras culturas.
— A casa de pedra sempre foi o ponto de encontro da família. As crianças cresceram juntas brincando na “Casa Velha”, transformando-a em castelos, esconderijos e tudo mais que a imaginação alcançasse. Cultivaram, assim, o amor pela propriedade e o desejo de preservar o patrimônio — comenta Adriana Cercato, filha de Armelindo e neta de João Baptista.
Com esse objetivo, em 2015, Igor e Vinicius, respectivamente filhos de Vanio e Vanderlei e netos de Armelindo e Maria, iniciaram um movimento na família para restaurar a Casa de Pedra. Uma iniciativa exemplar, que passa a dialogar, a partir de agora, com a comunidade e o turismo da região…
As obras
Conforme os arquitetos Lucas Volpatto e Patrícia Pasini, responsáveis pelo processo de restauro, a edificação apresenta uma tipologia recorrente na arquitetura vernacular, obra dos imigrantes oriundos da região do Vêneto. E todo o trabalho foi marcado pelo uso dessas técnicas, em especial para a estabilização das paredes.
— Evidentemente, utilizamos recursos contemporâneos em diversas situações, como a inserção de uma subcobertura. No entanto, o uso de argamassa de barro, mucilagem vegetal e cal para a estabilização da mais que centenária alvenaria de pedra é o que mais se destaca. Tivemos de tratar a pedra antes de tudo — ressalta Volpatto.
A obra incluiu também a restauração do telhado, com a troca de madeiras deterioradas e limpeza das telhas e a recuperação de esquadrias, as partes elétrica e hidráulica, soalho, além da instalação do deck e de rampas de acessibilidade.
Memorial
A edificação passa a abrigar o Memorial da Casa da Família Cercato, cuja expografia apresenta as memórias afetivas, como fotos e objetos que remetem à trajetória da família e da imigração italiana.
Haverá também um espaço enogastronômico, com a abertura de uma osteria para degustação de vinhos e espumantes. A cerimônia de “entrega” da casa ocorre a partir das 14h30min desta sexta, quando será lançado o espumante e vinho Casa Cercato, idealizado pelo enólogo Vinicius Bortolini Cercato.
Investimento
A recuperação do espaço contou com um investimento de R$ 652 mil, por meio do financiamento da Lei de Incentivo à Cultura Estadual e patrocínio de M.A. Silva, Medlive, Madesa e Sul Nativa Transportes.