Autor do livro O Outro Lado da Júlio: Histórias e Memórias de uma Avenida, o arquiteto e urbanista Roberto Filippini destacou as características e inovações de diversos prédios icônicos surgidos na via entre os anos 1940 e 1960. Entraram aí, entre outros, o Banco do Estado do Rio Grande do Sul, as sedes da Brasdiesel e do Recreio Guarany e os edifícios Pompéia e Brazex - marcos da esquina da Júlio com a Alfredo Chaves.
As inovações de cada um foram detalhadas por Filippini na publicação:
“Na esquina da Júlio com a Alfredo Chaves, Caxias recebeu, no final dos anos 1940, mais uma construção ilustre: o Edifício Pompéia (de Luiz Pizzamiglio). Com a configuração que antecedeu o estilo moderno, ainda que trazendo impressões em art déco, postou-se, com seus quatro andares, como uma novidade arquitetônica. O formato prismático expressou um padrão compositivo inspirado nos prédios de médio e grande porte das capitais. As fachadas, voltadas para os logradouros, repetiam a distribuição uniforme de janelas retangulares. A diferença entre as fachadas estava no lado que faz frente com a Av. Júlio. Nela, existem preservados os elementos originais da composição geometrizada, como, por exemplo, a platibanda escalonada e os panos verticais de vidro como recurso para a iluminação da escada interna. A marcação da base é formada por elementos que deram identidade ao prédio, como o marquise em curva do canto do edifício e o mármore de revestimento da parede do térreo. A linguagem pré-moderna deste prédio foi encerrada com a presença da vitrine na parede em curva”.
Conforme destacado por Filippini, uma novidade tecnológica do edifício foi a implantação do elevador. O Pompéia e o prédio da Metalúrgica Abramo Eberle, a duas quadras dali, passaram a ser os “distintos edifícios com o uso de equipamentos considerados avançados”. Prossegue o autor:
“Anos após, acompanhado do prédio da Brazex, na esquina oposta, o Edifício Pompéia, com suas vitrines iluminadas, atraía o interesse do público para aquele setor da cidade, tornando a Júlio um espaço glamouroso e convidativo aos passeios noturnos”.
Na foto abaixo, o Edifício Pompéia (de Luiz Pizzamiglio) no início dos anos 1950, quando abrigava no térreo, entre outros serviços, o consultório do dr. Jorge Sehbe, a Óptica Caxiense e a clínica dentária de Paulo Marcon de Andrade.
Gruber & Bornheim
No térreo do Edifício Pompéia (onde hoje localiza-se o Sebo Só Ler) funcionou também a loja Gruber & Bornheim Ltda (conforme lê-se na placa, à esquerda da foto acima, e no anúncio abaixo).
Foi o comércio que, a partir dos anos 1950, sucedeu a firma “Eletricidade e Bazar Bornheim”. Ela pertencia à família dos imigrantes alemães Hermann Bornheim e Ida Marie Minna Kruse, pais de Helmut Bornheim e avós do filósofo Gerd Bornheim e das professoras Irmgard Cecília e Amália Marie (Gerda). Mas essa é uma história que você confere nas próximas colunas.
Metalúrgica Gazola e os quebra-sóis do Brazex
Entre os anos 1950 e 1980, a “esquina da Brazex” foi ponto de referência para os milhares de consumidores dos utensílios de cozinha produzidos pela Metalúrgica Gazola. Mas o Edifício Brazex, inaugurado em 10 de janeiro de 1953, ficou famoso também por sua inovação arquitetônica, conforme destacou Roberto Filippini no livro:
"Pertencia à Metalúrgica Gazola, que sediava seus escritórios nos andares superiores e loja no térreo (atual Quero Quero e Coworking Brazex no primeiro andar). Foi construído com três pavimentos. Posteriormente, com as reformas, foram adicionados mais dois andares e retirados os quebra-sóis (brises), que tinham a interface para a Rua Alfredo Chaves. Por ser moderno, estreava em Caxias, junto com o Palácio da Polícia (antigo Banco do Brasil, na esquina da Sinimbu com Dr. Montaury), o repertório da funcionalidade do estilo e suprimia qualquer forma decorativa na fachada. O vocabulário simplificado do momento foram as grandes vitrines junto à rua, ladrilhos na parede, janelas em fita e os quebra-sóis no lado oeste”