Prosseguimos com a abordagem histórica sobre o prédio da antiga sede social do Círculo Operário Ismael Chaves Barcellos, atrelado ao Lanifício São Pedro, em Galópolis. A partir do pedido de tombamento pelo Patrimônio Histórico do Município, encaminhado pela Associação de Moradores de Galópolis em novembro, a comunidade busca recuperar o espaço que abrigou as mais variadas atividades culturais, desportivas, filantrópicas e de entretenimento a partir do início dos anos 1960.
Um recorte dessa importância para a comunidade local foi recordado pelas irmãs Vera Vial Rosso e Regina Maria Vial Felippi (in memoriam) no podcast Memórias de Galópolis, conduzido pela historiadora Geovana Erlo. Vera e Regina são netas de Angelo Vial - ecônomo que residia nos cômodos do último pavimento da sede social do Círculo Operário - e de Amábile Cesa Vial, responsável pelo zelo do restaurante e do prédio - tarefa assumida posteriormente pela filha Aurora, mãe de Vera e Regina.
O depoimento traz algumas características das atividades realizadas pelo Círculo, sobretudo em relação aos antigos festejos:
“A cozinha era adequada para até 100 pessoas ou menos. Quando tínhamos festas grandes, trabalhava-se em um galpão, apenas com telhado e uma churrasqueira de tijolos. Se a festa fosse no sábado, na quinta-feira matavam-se os frangos e as galinhas. Estas aves vinham de aviários e eram colocadas amarradas pelas penas em um pau comprido e mortas pela boca. Após, lavadas com mangueira, retirados os miúdos e, por fim, refrigeradas. Isto tudo na quinta-feira. Na sexta-feira, à tarde, eram convidados amigos e vizinhos para fazer os agnolines. Uma tia de meu pai, Nona Regina, é que fazia todos os cálculos para a comida. Exemplo: quanto de batata, frango, arroz, sopa para cada pessoa. Para cada cinco pessoas, uma travessa de maionese de batata e uma travessa de salada. Um punhado graúdo de arroz por pessoa etc. Tudo de cabeça. O caldo e arroz e o galeto eram cozidos embaixo do barracão, fizesse chuva ou frio, e após eram levados à cozinha para colocar nas travessas. Era comida feita como em acampamento, com os panelões pretos de ferro e lenha queimando. Após, era colocada água para ferver e lavar a louça. Trabalho tortuoso, difícil, mas a comida era muito saborosa”.
Riqueza arquitetônica
Integrante do antigo patrimônio do Lanifício São Pedro, o prédio do Círculo Operário Ismael Chaves Barcellos - posteriormente escritório central do Lanifício Sehbe - integra-se ao rico conjunto arquitetônico da chamada Vila Operária - inspirada na arquitetura das vilas operárias inglesas, com casas geminadas em tijolo aparente.
Também estão presentes na edificação uma série de elementos de valor arquitetônico inquestionável: o revestimento de cirex da fachada, os cobogós (elementos vazados), o forro, o lambril, as cerâmicas e ladrilhos hidráulicos, as escadarias em madeira, os parquets e os azulejos. Sem falar nas pinturas psicodélicas da antiga boate - feitas por Mário Basso e Zecão Fontana (fotos abaixo).
Foi lá, por exemplo, que Magda Comerlatto Fontana celebrou seus 15 anos, em 3 de junho de 1973. O agito reuniu familiares, convidados e o então namorado, Paulo Roberto Fontana – com quem a jovem casou em 9 de maio de 1980. Na imagem abaixo, Magda aparece com os amigos José Carlos Nicoletti ( à esquerda), Mauro Basso, Rapone, Lino Uez e Luis Antonio Fontana.
Centro cultural
Conforme o laudo que acompanha o projeto de tombamento do prédio, elaborado pela Associação de Moradores de Galópolis (AMOG), várias entidades e uma série de atividades devem contribuir para movimentar o espaço após a revitalização. Tudo por meio do Centro Comunitário e Cultural Galópolis.
Entram aí as sedes da AMOG, do Ponto de Cultura Fortalecendo Laços, da Amigópolis, do Clube de Mães La Mamma, do Grupo de Artesanato Galoarte, da Biblioteca Comunitária, do segundo núcleo expográfico do Museu de Território de Galópolis e das atividades do pacto de amizade entre Galópolis e a cidade italiana de Córbola.
Outras atividades seriam cursos profissionalizantes nas áreas de gastronomia, têxtil (costura) e de formação de mediadores para o patrimônio cultural do bairro, além de um núcleo de gestão, pesquisa e preservação patrimonial.
Inventário participativo
Visando despertar o interesse da comunidade para a importância do patrimônio material e imaterial do bairro, a historiadora Geovana Erlo, com o apoio da comissão do Centro Comunitário e Cultural Galópolis, fará a mediação do Inventário Participativo. O encontro ocorre dia 8 de março, das 16h às 19h, em frente à Igreja Matriz. Mais informações pelo (54) 99696.0634 ou pelo www.projetocccg.com.
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