O título de Cidadão Benemérito de Flores da Cunha concedido ao ex-vereador Hilário Sgarioni, 83 anos, no último dia 30, traz as lembranças de um dos tantos empreendimentos comandados por ele nas décadas de 1970 e 1980. Falamos do Cine Central, espaço que atraiu diversas gerações de florenses à Rua Borges de Medeiros, 1.530, defronte à Praça da Bandeira (atual Bradesco).
Conforme destacado pelas professoras Loraine Slomp Giron e Kênia Pozenato, autoras do livro Cinemas: Lembranças (2007), a história do lugar remete ainda à década de 1940, quando a sala de projeção funcionava em um antigo barracão de madeira.
“Orestes Pradella comprou o cinema da Sociedade Pró-Trento, em 1949. Anos mais tarde, em 1969, vendeu-o para seu genro, Hilário Sgarioni. Este foi seu último proprietário e, ao assumi-lo, reformou o prédio, modernizando-o com camarotes laterais, cortina vermelha aveludada e poltronas estofadas”.
A sala de cinema do novo prédio tinha capacidade para 500 pessoas sentadas. As antigas cadeiras de palha foram substituídas por poltronas de madeira vergada, e um palco foi construído. Conforme destacado no livro, tudo isso melhorou as condições de projeção dos filmes, permitindo também seu aproveitamento como teatro. A partir daí, o Central passou a sediar solenidades, peças escolares e apresentações cênicas diversas.
As sessões
De 1969 em diante, as sessões ocorriam aos finais de semana, inclusive com matinês aos domingos, às 14h. Segundo as autoras, “quando o filme era muito bom, havia uma sessão especial às quartas”.
Naqueles tempos, os cartazes de divulgação eram afixados nos postes das ruas centrais de Flores, principalmente em frente à rodoviária, considerada um lugar estratégico para atrair o público. Já a “chamada” costumava ser feita por meio de uma sirene, que podia ser ouvida em quase toda a cidade. Primeiro, três toques, depois, dois. Quando faltavam cinco minutos para a sessão, um toque apenas – e iniciava-se o filme.
Curiosidades
:: Os filmes projetados no Cine Central de Flores da Cunha vinham de Caxias do Sul. Para diminuir custos, havia um acordo com o Imperial e o Guarany, que cediam as películas para exibição na cidade vizinha.
:: Ao lado do cinema funcionava uma bomboniere, ligada ao prédio. Mesmo aberta ao público em geral, não vendia bebidas alcoólicas, apenas refrigerantes, balas, bombons e sorvetes.
:: Trabalharam no cinema nomes como Carlinhos Martins, Matias Zucco, Garlesso, Lino De Bortoli, Andreazza, Edite Pradella e Corradi. Havia ainda o senhor Bonetto, técnico responsável pela manutenção das máquinas. Ele vinha de Taubaté (SP) para verificar os cinemas de Caxias e “atendia” também a sala de Flores da Cunha.
Fechamento nos anos 1980
O Cine Central fez parceria com diversos colégios da rede municipal, época em que as despesas de projeção eram custeadas pela prefeitura de Flores da Cunha. Nas sessões gratuitas, compareciam até mil alunos, especialmente em datas como este 12 de outubro, Dia da Criança.
Tudo isso durou até a segunda metade dos anos 1980. No livro, Hilário Sgarioni revelou que o cinema fechou devido a problemas financeiros – e sem aviso prévio à comunidade. A última sessão ocorreu entre 1988 e 1989, em data que seu Hilário não soube informar com precisão. O filme? "O Dia Seguinte".
Ironias à parte, na segunda-feira posterior, logo cedo, o espaço começou a ser desativado. As máquinas de projeção foram vendidas para um colégio de Novo Hamburgo, e as poltronas, levadas para a Câmara de Vereadores de Flores da Cunha.
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