Se o recente furto do busto do Duque de Caxias em pleno coração da cidade, a Praça Dante Alighieri, motivou uma ampla discussão sobre segurança pública e monitoramento, o assunto poderia avançar também para a questão da educação patrimonial, o “conhecer para preservar e proteger”. Afinal, não são poucos os bustos, placas, hermas, esculturas, monumentos e homenagens que praticamente “passam batido” entre a população que transita pela área central.
Aproveitamos para destacar dois obeliscos que boa parte dos passantes sequer tem noção do real significado, vide a ausência de placas e informações históricas há pelo menos duas décadas: o que homenageia os viticultores, na Praça da Bandeira; e o monumento alusivo à passagem do presidente italiano Giovanni Gronchi por Caxias do Sul em 1958 – não a famosa “bota” de São Pelegrino, mas a estrutura em pedra localizada junto ao Largo do Centro Administrativo Municipal (prefeitura).
O Obelisco ao Viticultor
Inaugurado em 22 de março de 1969, o Monumento ao Viticultor presta uma homenagem aos fundadores da Associação Caxiense de Viticultores e aos primeiros expositores de uvas. Porém, quem passa pelo meio da Praça da Bandeira (Dante Marcucci) depara com um estrutura abandonada, pichada, suja, em estado de semi-abandono e sem informação alguma – furtada há anos e nunca reposta, a placa em bronze trazia os nomes de mais de 40 viticultores, muitos deles hoje também batizando ruas de Caxias.
A solenidade de entrega da estrutura ocorreu no encerramento da Festa da Uva de 1969, quando a cidade recebeu a visita do então presidente Arthur da Costa e Silva – impossibilitado de vir na abertura, o marechal chegou a Caxias três semanas depois, inaugurou o obelisco e ainda visitou o Monumento Nacional ao Imigrante e o Rincão da Lealdade, acompanhado do prefeito Victório Trez e do presidente da festa, Lívio César Gazzola.
Expositores de uvas e fundadores
As antigas placas de bronze junto ao Monumento ao Viticultor traziam os seguintes textos:
“Inaugurado por S. Exa. o Sr. Presidente da República Mal. Arthur da Costa e Silva, em 22.03.1969. Ao viticultor caxiense, nas pessoas dos primeiros expositores de uvas e dos fundadores da Associação de Cultivadores de Viníferas.
Primeiros expositores: Antonio Pieruccini, Alberto Rech, Ludovico Cavinato, Cyrilo Ruzzarin, Antonio Bonan, João Sonego, Angelo Bianchi, Henrique Cassini, Irmãos Turra, Irmãos Barazzeti, Casemiro Scur, João Scopel, Cesar Cambruzzi, João Tedesco, Rodolfo Schio, Giocondo Lazzareto, Serafin Tomazzini, Benvenuto Zorzi, Victório Demori.
Fundadores da A.C.V. (Associação de Cultivadores de Viníferas): Mariano Mazzochi, Cesar Cambruzzi, Jacinto Madalosso, Vitale Scur, Alberto Tedesco, João Gardin, Elígio Portolan, Henrique Comerlato, Romano Facchin, Ricardo Pedroni, João Mariani, Antônio Susin, João Florian, José Formolo, José Giacobo, Luiz Salvador, Dante Salvador, Giacomo Salvador, Antonio Ghioto, Victorio Demori, Antonio Madalosso, Ludovico Cavinato, João Ruaro, Ernesto Casara, Padres Josefinos, Alexandre Baraselti, José Spadari.
Homenagem do povo de Caxias do Sul. Prefeito Municipal Victório Trez. Presidente da Festa da Uva. Dr. Lívio C. Gazzola.
Caxias do Sul, 1º de março de 1969”.
Blocos de pedra em 1958
Embora a “bota” da Itália, em São Pelegrino, seja a escultura mais lembrada quando se fala na visita do presidente italiano Giovanni Gronchi a Caxias, em setembro de 1958, o obelisco junto ao antigo Parque da Festa da Uva, na Rua Alfredo Chaves, também foi instalado em sua homenagem.
Mas nada disso é informado a quem passa por ali. Com o furto da placa de bronze, poucos sabem que cada uma das pedras representa uma cidade da região.
Segue o texto original:
“Cada pedra deste monumento é uma parcela dos municípios que construíram o alicerce da colonização italiana no Rio Grande do Sul. Homenagem ao Exmo. Sr. Giovanni Gronchi, Presidente da República da Itália, por ocasião de sua visita a esta região. 13-9-1958. Antônio Prado, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Encantado, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Guaporé, Nova Prata, Veranópolis”.
No Parque Cinquentenário em 1925
Além dos citados, outro obelisco “obscuro” e carente de informações é o localizado nos fundos do Parque Cinquentenário. Inaugurado junto com o parque em 24 de dezembro de 1925, por ocasião do cinquentenário da colonização italiana, o monumento trazia uma placa em bronze com os dísticos “Stirpe Latina, Virtu Italica 1875-1925” – mensagem que resumia a epopéia iniciada pelos primeiros colonizadores e seus descendentes.
O obelisco também era circundado por dois leões de concreto, esculpidos por Michelangelo Zambelli – os exemplares que, posteriormente, foram deslocados para o pórtico. Já a placa, era uma vez...
Livro de Guiomar Chies
Hoje apenas na lembrança, os textos originais de cada placa de bronze constam na publicação “Os Poderes Fazem História”, lançada pelo jornalista Guiomar Chies em 1999.
Além de um detalhado histórico sobre os marcos e monumentos de Caxias do Sul, Chies enumerou informações sobre o Legislativo e o Executivo, com dados históricos do município desde os seus primórdios, em finais do século 19.
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