Falecido em 15 de janeiro, aos 95 anos, seu Alberto Arioli notabilizou-se na história de Caxias por ter integrado a Força Expedicionária Brasileira e combatido nas batalhas de Monte Castelo e Montese, na Itália, durante a Segunda Guerra Mundial. Porém, uma de suas facetas nem sempre lembrada é a de redator e co-criador do lendário Boletim Eberle, informativo interno da metalúrgica, onde ele passou a trabalhar após seu retorno ao Brasil (leia abaixo).
Em meio às funções no departamento de compras, Arioli também respondia por diversos textos do jornalzinho, desde cerimônias internas, homenagens e competições do Grêmio Esportivo Eberle até crônicas e artigos sobre literatura, teatro e cinema. Regularmente, resenhas suas também eram publicadas pelo jornal Pioneiro. Foi na edição de 10 de setembro de 1960, por exemplo, que apareceu o texto “Hiroshima, meu Amor”, em que o ex-combatente comenta o filme homônimo e seu recorte da Segunda Guerra Mundial – tão bem conhecida por ele 15 anos antes.
Lançado em 1959, o drama do diretor Alain Resnais, com roteiro da escritora Marguerite Duras, mostra o envolvimento “sem nomes” entre uma atriz francesa e um arquiteto japonês, ambos casados. A trama se passa em Hiroshima, 14 anos após o bombardeio de 1945: enquanto trabalha em um filme sobre a paz, ela confidencia ao amante seu envolvimento com um soldado alemão durante a ocupação nazista na França – revelando, ao mesmo tempo, os traumas de uma tragédia pessoal e os de uma catástrofe coletiva.
Um filme de compreensão difícil para muitos, mesclando amor e guerra, memória e esquecimento – e que seu Alberto Arioli soube resumir à perfeição no texto original abaixo: “Não é um filme que se explique. Sente-se”.
Trajetória
Alberto Arioli nasceu em 11 de dezembro de 1925. Aos 18 anos, em 1944, foi um dos 12 caxienses que se apresentaram de forma voluntária, após convocação pública pelo governo, para integrar o grupo de brasileiros que foi lutar na Itália. Ele chegou ao campo de batalha em setembro de 1944 e retornou ao Brasil em julho de 1945. Em 15 de abril de 1950, uniu-se a jovem Zilá Polli Viero, com quem teve as filhas Maria Elisabeth e Marta Maria.
Boa parte de toda essa trajetória, assim como as homenagens recebidas no Brasil e na Itália nas últimas décadas, está registrada no livro Cabedelo - A Odisseia de uma Vida, que trata da participação dos pracinhas caxienses e da região nordeste do Rio Grande do Sul na Segunda Guerra Mundial.
Primórdios do Boletim Eberle
Alberto Arioli retornou ao Brasil em 18 de julho de 1945 e iniciou na Metalúrgica Abramo Eberle em 27 de dezembro, pois “estavam precisando de um datilógrafo com boa redação”, conforme lembrado pelo próprio em sua biografia. Dez anos depois, em junho de 1956, surgia a primeira edição do Boletim Eberle. Texto publicado naquele número destacou a ideia, lançada por Arioli e pelo colega Walter Roese ao diretor do departamento pessoal, Agostinho Focheasto, ainda em 1954. Dizia Arioli:
“A maioria das grandes firmas adotou esse sistema. Compreenderam o grande alcance que tem a imprensa, nos dias atuais, como meio de intercâmbio cultural e informativo. Com um pouco de boa vontade por parte de todos, devemos ter o nosso jornalzinho. Com o correr das edições, ele se tornará tão necessário quanto o salário que recebemos mensalmente. E se alguma vez sua saída for interrompida, imediatamente será notada e lastimada, porque nos dias em que vivemos a leitura se tornou um hábito. Todos sentem e compreendem que nem só de pão vive o homem”.
Dito e feito. O Boletim Eberle foi editado entre 1956 e 1965. Inicialmente, a supervisão e a redação eram do advogado Nestor Curra. Como colaboradores, além de Alberto Arioli, escreviam Mansueto Serafini Filho, Mário Ramos, Jimmy Rodrigues e João Spadari Adami, entre outros. A partir da segunda metade dos anos 1960, a publicação foi remodelada, ficou maior e passou a se chamar Informativo Eberle, agora sob a supervisão do senhor João Gabriel Brunelli, auxiliado por Agostinho Fochesato.
Na reprodução abaixo, o texto original do primeiro exemplar.