As três senhoras sentaram-se uma ao lado da outra e, a todo momento trocavam olhares emocionados, cúmplices de um momento histórico de suma importância para Caxias do Sul, porém, ainda mais precioso para a história pessoal da família delas. Jovelina, Aracilda e Alzira são irmãs de Anoema da Costa Lima, a oitava vítima da trágica explosão da Metalúrgica Gazola, cuja biografia permaneceu desconhecida até janeiro deste ano, quando uma matéria publicada pelo jornal Pioneiro jogou luz sobre a memória da jovem — que morreu um ano e cinco meses após a tragédia, em decorrência dos ferimentos adquiridos durante a explosão.
Na tarde ensolarada deste sábado, ao lado de familiares das outras sete vítimas da explosão, Jovelina, Aracilda e Alzira puderam conferir uma retratação histórica à irmã: o descerramento de uma placa extra com o nome de Anoema no obelisco que homenageia as demais jovens mortas em 1943. A celebração do sábado marcou ainda os 75 anos da explosão da Gazola, completados oficialmente neste domingo.
— Fiquei feliz e fiquei triste, porque a gente lembra de tudo né? Mas fico feliz que tenham lembrado dela, agora ficou para a história — disse Jovelina da Costa Lima Bueno, 80 anos, que tinha apenas cinco anos quando ouviu, do pátio de casa, à explosão que mataria a irmã Anoema um ano e meio depois.
A emoção deu tom à toda celebração, que reuniu dezenas de pessoas no obelisco que fica em frente ao Memorial Gazola. O jornalista e pesquisador Rodrigo Lopes, autor da reportagem que jogou luzes sobre a história de Anoema, contou como chegou ao nome da vítima e lembrou ainda de outras personagens esquecidas da explosão, que renderam reportagem publicada na edição do último fim de semana do Almanaque.
— A história me fascina e sei que o historiador tem como lema fazer as pessoas lembrarem daquilo que, de repente, elas querem esquecer. Esse momento é para lembrar de uma tragédia que abalou a cidade e que até hoje continua mexendo com a emoção das pessoas. E, mesmo que traga lembranças negativas e doloridas, essa história tem que continuar — pontuou o jornalista.
Parentes das vítimas da explosão e de personagens importantes nessa história foram convidados a depositar uma rosa branca no obelisco, logo abaixo da placa que agora marca o nome da "última" vítima da explosão, Anoema da Costa Lima. A celebração contou ainda com uma bênção do frei Jaime Bettega ao monumento. O religioso deixou uma forte mensagem aos presentes:
— Bem aventurados são aqueles que não esquecem de seus antepassados.