O caxiense Alberto Arioli, 95 anos, era o único pracinha ainda vivo da cidade. Ele morreu na sexta-feira em Caxias do Sul. O corpo será cremado às 16h deste sábado (16). Não haverá cerimônia de despedida e nem velório.
O prefeito de Caxias do Sul, Adiló Didomenico (PSDB), decretou luto de um dia pela morte. Ao lamentar o falecimento de Arioli, o prefeito destacou que o veterano não era apenas um ex-combatente, mas a representação da resistência contra governos tiranos e a quebra da democracia. Para o prefeito, Arioli deixa o legado de alguém que saiu do país onde nasceu para, no outro lado do oceano, lutar pelos direitos humanos, pela liberdade e democracia, buscando restabelecer a paz mundial. As bandeiras instaladas no Centro Administrativo foram hasteadas a meio mastro para homenagear Arioli.
O ex-pracinha nasceu em 11 de dezembro de 1925. Arioli integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial. Ele era da Infantaria, que é a tropa de combate a pé. Aos 18 anos, ele foi um dos 12 caxienses que se apresentaram de forma voluntária, após convocação pública pelo governo, para integrar o grupo de brasileiros que foi lutar na Itália, especificamente nas batalhas de Monte Castelo e Montese. Ele chegou ao campo de batalha em setembro de 1944. O retorno ao Brasil ocorreu em julho de 1945.
Em 14 de dezembro de 2020, foi homenageado pelo 3° Grupo de Artilharia Antiaérea pelo aniversário. A homenagem foi uma das últimas aparições públicas do ex-combatente.
História
Em fevereiro de 2005, o Exército Brasileiro, por meio do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea (3º GAAAe), de Caxias, começou uma série de homenagens aos expedicionários, com missa e solenidade militar. Na ocasião, 18 homens que participaram da luta contra fascistas e nazistas ainda estavam vivos, mas pouco menos de 10 foram à homenagem devido à idade avançada. Arioli, que presidia a Regional da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira, compareceu à solenidade. Em conversa com a reportagem do Pioneiro, mostrou que, aos 78 anos, tinha uma memória invejável. A homenagem era em comemoração aos 60 anos da tomada de Monte Castelo, conquista que encaminhou a vitória dos aliados na Segunda Guerra.
Na Guerra, o caxiense viajou como cabo e voltou com a patente de sargento. A arma que usava era uma metralhadora Thompson de 22 tiros.
— Era pesada, mas indispensável. É importante contar a história enquanto posso, senão tudo irá se perder. A história não é antiga. Lembro como se fosse ontem —declarou então Arioli à reportagem.
O desembarque em Nápoles, localizado no centro-sul do país, foi seguido de intenso treinamento, instrução com militares americanos e recebimento de pesados fardamentos — entre 1944 e 1945, o frio foi de -14º C na Europa —, bem como armas e munição. Depois, foi deslocado para a região da Toscana.
A cada dia que passava, o medo era o principal companheiro de Arioli:
— Fui encaminhado direto para o campo de batalha, no fogo cruzado mesmo. Nunca me esqueço que as casas nas localidades do interior da Itália são idênticas às da área rural de Caxias — especifica.
Ele preferia não falar sobre detalhes da guerra, mas lamentou a falta de reconhecimento do governo brasileiro aos pracinhas. Ressaltou que na Itália existem inúmeros monumentos aos pracinhas da FEB e lembrou que o único país que trouxe os corpos dos militares mortos em combate foi o Brasil. Eles foram sepultados num cemitério no Rio de Janeiro, em 1955.
Em Caxias, há um monumento erguido no Largo de São Pelegrino, onde constam os nomes dos caxienses que participaram da Segunda Guerra Mundial. Na cidade, também existe o Museu dos Ex-combatentes da Força Expedicionária Brasileira na II Guerra Mundial. Arioli foi um dos fundadores do espaço.
Em 1995, ele foi convidado pelo governo italiano para visitar os locais onde combateu. No final da viagem, cada homem recebeu um envelope fechado. Como ele era sargento, no dele tinha US$ 1,5 mil. O dinheiro foi usado em uma viagem para a Grécia. Em outubro de 2004, o caxiense retornou à região de Monte Castelo, onde visitou inúmeros museus e monumentos. Arioli também escreveu um livro, intitulado Cabedelo - A Odisseia de uma Vida, que trata da participação dos pracinhas caxienses e da região nordeste do Rio Grande do Sul na Segunda Guerra Mundial.