Genealogista amador, pesquisador e colaborador da coluna Memória, o engenheiro Tito Armando Rossi Filho, 47 anos, recentemente teve um texto compartilhado neste espaço. O artigo "Lava bem as Munheca" aludia à trajetória da família Bocchese e ao hábito da avó, Livia Bocchese Rossi, de recomendar que as crianças sempre lavassem bem as mãos antes das refeições — uma espécie de "herança" da gripe espanhola, visto que o bisavô de Tito, Antônio Bocchese, morreu em 1919, em Antônio Prado, vítima da epidemia.
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Na coluna desta quarta-feira, publicamos outro minucioso trabalho de pesquisa de Tito, que também tem relação com a influenza de 100 anos atrás. O artigo centra-se na figura do barbeiro Pedro Flores Goyer, cuja história também já foi recontada em parte aqui, na edição de 24 de março.
"Nesses emaranhados que a história e a genética desdobram, descobri que o personagem da história (Pedro Goyer) era um parente distante da minha mãe, coisa que ninguém na família jamais imaginou. E ainda descobri que um amigo meu de Porto Alegre descende dele. Ou seja, também somos primos distantes, através desse parente da minha mãe".
Confira o texto abaixo:
História entrelaçada
“Pedro Flores Goyer, que empreendeu negócios em Caxias do Sul no início do século XX, pode-se dizer que era a mistura de um imigrante francês com uma descendente de açorianos. O pai dele, o tal imigrante francês, registrou-se no Brasil como Amaro Pedro Goyer. Este casou-se em Porto Alegre, no ano de 1854, com Felicidade de Oliveira Flores. Felicidade era bisneta de imigrantes açorianos, os quais geraram vastíssima descendência no Estado do Rio Grande do Sul. Amaro Pedro teria sido alfaiate e veio a falecer em 1893. Consta como parte do seu inventário no Arquivo Público do Rio Grande do Sul duas casas na famosa Rua Riachuelo, e outra na Rua General Salustiano; todas na região onde poucos anos depois veio a ser construída a Usina do Gasômetro. Sua esposa Felicidade, pai de Pedro, faleceu em 1901.
Pedro, nosso principal personagem, nasceu em Porto Alegre. Ainda morando na capital, ele se casou pela primeira vez em 1895 com Maria José Xavier. Pedro e Maria tiveram uma primeira filha em 1899, falecida com apenas um ano de idade. Pouco tempo depois, Pedro mudou-se com a família para Caxias, vindo a ser mais tarde o dono do famoso Salão Goyer, muito bem frequentado na cidade (na esquina da Avenida Júlio com a Rua Dr. Montaury). Em 1903, tiveram mais um filho, de nome Julio de Castilhos Goyer. O nome foi dado em homenagem ao importante político Júlio de Castilhos, falecido no mesmo ano. Sua esposa Maria, depois de algum tempo convalescendo, veio a falecer quando seu filho, Julio de Castilhos, tinha apenas 10 anos de idade.
Poucos meses depois, Pedro casou-se com Mathilde Rossi. Mathilde era a irmã mais velha do tipógrafo Armando Rossi, co-fundador da Livraria Rossi e da Gráfica Rossi. Também era irmã da professora municipal Isolina Rossi e de Victorio, Henrique, Angelo, Mario e Égida. Eles eram filhos de um dos primeiros imigrantes italianos de Caxias, o alfaiate Tito Rossi, e de dona Liberata Cassini. No ano seguinte, 1914, Pedro Goyer abre uma filial de seu salão de barbearia no prédio do seu sogro, muito bem localizado na Avenida Júlio de Castilhos, onde hoje está localizada a Livraria Rossi.
Pedro e Mathilde tiveram apenas dois filhos, Joffre Goyer, nascido em 1914, e Julitta Goyer, nascida em 1916. Ambos faleceram quando ainda eram crianças. Joffre faleceu com apenas cinco anos de idade, vítima da Gripe Espanhola. Foi uma grande tristeza na família, tanto que Mathilde evitou falar no assunto por toda a vida. Ela veio a falecer em 1973, com 87 anos. Pedro veio a falecer em 1921. Segundo relatos de um dos descendentes de seu cunhado, teria sido uma das vítimas tardias da Gripe Espanhola. A filha remanescente, Julitta, faleceu apenas cinco anos depois. Como herança, além de seus bens, ficou uma apólice de seguros no valor de 10 contos de réis.
Parte da herança de Pedro Goyer ficou para seu filho Julio de Castilhos, parte com a viúva Mathilde. No anúncio de óbito de Pedro, ele consta como tendo o posto de Capitão, tendo o Coronel Penna de Moraes presente nas cerimônias fúnebres. Pedro chegou em Caxias com a patente de alferes, sendo membro do Partido Republicano e presidente da Junta de Alistamento Militar de Caxias, além de por um tempo ter sido tesoureiro e presidente honorário do Clube Aliança. Consta em um anúncio de jornal de 1922 que o proprietário do Salão Goyer era Angelo Rossi, seu cunhado, de onde se supõe que o mesmo seguiu administrando a barbearia por mais alguns anos”.
Descendentes de Pedro Goyer
O pesquisador Tito Armando Rossi Filho também destacou no artigo a trajetória da família Goyer a partir da morte de Pedro:
“A descendência de Pedro Goyer veio através de seu único filho remanescente, Julio de Castilhos Goyer, que na época de falecimento de seu pai já era um “homem feito”, com 18 anos de idade. Poucos anos depois, ele casou com Alayde Raupp, gerando descendência em Porto Alegre. Prestou uma bela homenagem as seus falecidos meio-irmãos, dando o nome deles a dois dos seus próprios filhos. Julitta nasceu em 1930, casou-se com João Francisco Kralik e teve cinco filhos. Já o irmão Joffre casou-se com Beverly Cordeiro e faleceu em 1977. Julio de Castilhos teria tido pelo menos mais um filho que chegou à idade adulta, Júlio Raupp Goyer, nascido em 1939 e falecido em 2000. Julio de Castilhos Goyer veio a falecer em 1958”.
Na foto abaixo, de 1969, Julitta Goyer Kralik (neta de Pedro Flores Goyer) e seus filhos. Atrás, Jorge Antonio Goyer Kralik, Jussara Maria Kralik Angelini e João Francisco Kralik. À frente, Janete Terezinha Kralik e José Luiz Kralik.