Às vésperas das festas de final de ano, recordamos de um dos estabelecimentos comerciais mais procurados pelos consumidores de Caxias em épocas de Natal de outrora: a Casa Saldanha – ou Livraria Saldanha, como também é lembrada. Sim, por cerca de 70 anos o estabelecimento foi ponto de referência na esquina da Av. Júlio de Castilhos com a Visconde de Pelotas – e segue bem vivo na memória de quem trabalhou, comprou ou "namorou" algum dos itens de suas charmosas vitrines.
Toda essa história teve início em 1916, quando Henrique Saldanha de Figueiredo e os filhos deixaram o município de Rio Pardo para estabelecer-se em uma Caxias em franco processo de desenvolvimento – impulsionado pela chegada do trem, em 1910. Inicialmente instalada em uma construção de madeira, a edificação tal qual conhecemos hoje surgiu em 1932 e logo impôs-se no cenário urbano das modernas casas "de material".
Primeiro imóvel tombado pelo Patrimônio Histórico do Município, em 1988, o prédio foi destacado na publicação Memórias de Caxias do Sul pelo Viés do Patrimônio Tombado, lançada em 2008 pela autora Heloisa Mezzalira:
"As vitrines ao estilo dos grandes bazares europeus que exibiam bolinhas de gude e bonecas de pano, mas também brinquedos vindos da Alemanha e do Japão, rádios, livros, santinhos e outros artigos sacros deram lugar a outros negócios do intenso comércio da Av. Júlio e suas transversais. A figura de Henrique Saldanha atrás do balcão, as aulas das irmãs Saldanha, o cheiro de tinta e o som das máquinas da tipografia instalada nos fundos da loja ficaram apenas na memória. As três musas colocadas no alto do prédio, por ocasião da sua construção, no entanto, permanecem em seus postos: a pintura e a música, sentadas, ladeiam a literatura que, de pé, lê para a cidade".
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Os primeiros postais
A publicação de 2008 também destacou a atuação discreta e o perfil intelectualizado da família Saldanha:
"Nos altos da livraria, as irmãs Nieta e Nininha Saldanha fundaram o Colégio Lisboa Saldanha, onde reuniam pequenos grupos de crianças para alfabetização. As irmãs destacaram-se também como escritoras, nas áreas de literatura, rádio-novela e teatro. Promoviam bailes, organizavam festas com motivações específicas, como a italiana e a portuguesa, bem como concursos fotográficos. Na parte térrea, funcionava a livraria e bazar, com a tipografia nos fundos, onde foram impressos os primeiros cartões-postais da cidade. As vitrines da Av. Júlio de Castilhos eram dedicadas aos livros e aos brinquedos, enquanto as da Visconde de Pelotas mostravam arte sacra e bolas coloridas. Entre uma vitrina e outra, aparelhos de rádios sempre ligados davam as últimas notícias aos clientes e passantes".
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Tombamento em 1988
Inscrito no Livro Tombo do Município de Caxias do Sul em 14 de abril de 1988, o prédio da antiga livraria foi adquirido pelo empresário Lourenço Castellan diretamente do espólio da família Saldanha.
Conforme a autora Heloisa Mezzalira, "o local manteve sua função comercial, mas foi adaptado para negócios menores. O novo uso eliminou as amplas vitrines da Saldanha, mas manteve as características da parte superior da fachada".
Exposição no Arquivo Histórico
O prédio é um dos integrantes da exposição Bens Tombados – Patrimônio Histórico e Cultural de Caxias do Sul, em cartaz no Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami. Um mapa com a localização dos imóveis e a data de tombamento proporciona ao visitante vislumbrar como os bens culturais estão integrados na paisagem da cidade.
Na foto acima, um registro do dia da inauguração, em 1932. Destacam-se os proprietários Henrique Saldanha de Figueiredo (à direita, na porta da esquina) e Henrique Saldanha Filho (à esquerda, de paletó branco). Detalhe: a inscrição em latim Labor Improbus Omnia Vincit (o trabalho persistente vence tudo), no topo da portal principal, na esquina.
Abaixo, outro registro dos dois naquele mesmo dia.
Agende-se
:: O que: exposição Bens Tombados – Patrimônio Histórico e Cultural de Caxias do Sul
:: Quando: até o final de dezembro, de segunda a sexta das 10h às 16h
:: Onde: Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami (Av. Júlio de Castilhos, 318 - Lourdes)
:: Quanto: entrada franca
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