A recente doação do acervo fotográfico da família Bornheim ao Arquivo Histórico Municipal João Spadari Adami disponibilizou centenas de retratos à consulta pública. Entre tantos registros, chama a atenção uma série de imagens captadas pela professora Irmgard Cecília Bornheim.
Tratam-se de flagrantes curiosos da área central e do bairro Lourdes entre 1979 e 1980, capturados durante seus passeios e afazeres profissionais. Aparentemente banais, os registros ganham outras nuances com a mudança verificada no cenário urbano nas últimas quatro décadas – principalmente em relação ao que não existe mais. É o caso da antiga residência de número 730 da Avenida Júlio de Castilhos, em Lourdes (abaixo).
Conforme depoimento de Neda Ungaretti Triches ao Banco de Memória Oral do Arquivo Histórico, a casa foi construída pelo imigrante italiano Tarquínio Zambelli para o filho Michelangelo Zambelli – do lendário Atelier Zambelli – e teve também a família do médico Romulo Carbone como moradora.
Ainda segundo dona Neda, atualmente com 97 anos, a residência foi vendida para o pai, o empresário Júlio Ungaretti, após a Revolução de 1923, quando serviu de quartel general – demolido em meados dos anos 1980, o casarão, lógico, acabou cedendo espaço a um prédio.
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No apartamento
Na sequência baixo, outros flagrantes de "Emy", como era carinhosamente chamada por familiares e amigos, para a Caxias de 40 anos atrás.
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Trajetória
Nascida em 22 de outubro de 1930, Irmgard era filha de Helmut e Amélia Bornheim e irmã do meio do filósofo Gerd e da professora e poetisa Amália Marie (Gerda). Conforme informações repassadas pelo Arquivo Histórico Municipal, a jovem estudou na Escola Complementar Duque de Caxias e completou o ginasial no Colégio São Carlos em 1948. Foi lá também que, em 1951, graduou-se na Escola de Comércio.
Irmgard teve sua vida dedicada à cultura e à educação. Antes de formar-se em História, trabalhou como professora nos colégios São José e Santa Catarina, além de auxiliar no atendimento aos alunos do Ginásio Noturno para Trabalhadores.
A partir de 1965, começou a lecionar no Cristóvão de Mendoza, onde, de 1969 a 1972 foi assistente do diretor Romano Lunardi. No ano seguinte, 1973, assumiu o cargo ao lado de Nilton Scotti, um de seus grandes amigos – com quem costumava frequentar o Atelier de Teatro da Aliança Francesa nos anos 1960.
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Em vários registros pela cidade, Irmgard eternizou a mãe, dona Amélia Cecília Brentano Bornheim (1908-1994). Na foto que abre a matéria, Amélia aparece nas escadarias do Museu Municipal. Abaixo, defronte ao antigo Hospital Carbone, atual sede do Arquivo Histórico Municipal.
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Curiosidade
O acervo doado ao Arquivo Histórico Municipal traz ainda uma curiosa sequência, registrada com temporizador pela própria Irmgard na cozinha de seu apartamento, na esquina das ruas Dr. Montaury e Hércules Galló (abaixo). Detalhe: numa das fotos, ela captou o cão de estimação Eros sobre a cadeira.
Homenagem na UCS
A partir dos anos 1970, Irmgard atuou como diretora do Centro de Humanidades e Artes da UCS, órgão que congregava quatro departamentos: Artes, Letras, História e Geografia, e Filosofia, Psicologia e Sociologia. Também atuou junto ao lendário Atelier Livre, um dos celeiros da produção artística caxiense nos anos 1970 e 1980, e coordenou as promoções culturais alusivas ao 10º aniversário da instituição, em 1977.
Toda essa dedicação foi reconhecida. Em 1984, Irmgard recebeu da UCS a "Medalha do Mérito Universitário" e, em dezembro de 2003, a distinção acadêmica de "Professora Emérita". Já em 2010, pouco antes de morrer, "Emy" foi laureada com a medalha "Homenagem à Docência Acadêmica" por parte da Associação dos Docentes da Universidade de Caxias do Sul (Aducs).
Irmgard Cecília Bornheim faleceu em 22 de julho de 2013. Ela tinha 82 anos.
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