Neste Dia Internacional da Mulher, duas leitoras auxiliaram a recontar a história de uma personagem de atuação marcante no comércio da área central de Caxias do Sul. Falamos de dona Silla Mariani Santini, a responsável por fidelizar os milhares de clientes da lendária Mercearia Caxiense entre os anos 1950 e 1960. E coube à filha Therezinha Lourdes Santini Meneghetti e à nora Ruth Santini trazerem de volta essa rica trajetória.
Nascida em 1910, na Terceira Légua, Silla migrou para a cidade em 1922, aos 12 anos. Foi quando passou a auxiliar o irmão Attílio Mariani no balcão do não menos icônico Mercadinho do Povo, na Av. Júlio de Castilhos, ao lado do Prataviera. Começava a se desenhar ali o perfil que "Ciccila" levaria para o resto da vida: o de uma comerciante que sempre privilegiava o cliente e o bom atendimento, muito antes de qualquer manual de marketing.
No Mercadinho do Povo, Silla permaneceu “full time” até casar com Faustino Ulderico Santini, em 1935. Auxiliou no velho secos & molhados da Júlio de forma esporádica até 1947. Foi quando, junto com o marido, o irmão Adão Mariani e o casal Avelino Kahler e Argia Kahler Mariani, passou a trabalhar no Armazém Mariani & Kahler Ltda , na esquina da Av. Rio Branco com a Rua Dr. Augusto Pestana.
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O negócio próprio
Cinco anos depois, Faustino e Silla criavam o próprio negócio. A Mercearia Caxiense abria as portas em 1952, em um sobrado ao lado da antiga Farmácia D’ Arrigo, na Júlio, entre a Visconde e a Dr. Montaury. Era o início de um tipo de comércio ainda inédito na cidade: mais sofisticado, com bebidas importadas, enlatados finos e especialidades para datas específicas, como Natal e Páscoa. Em resumo, uma delicatessen, onde eram encontradas nozes, alcaparras, damascos, tâmaras, avelãs, castanhas, chocolates de marcas famosas e frios cortados na hora.
Mas a consagração do espaço viria mesmo com a mudança para o outro lado da rua, no térreo do sobrado onde hoje funciona a Padaria Central. Foi lá que Silla e Faustino eternizaram uma época e um estilo: ela, no atendimento e na venda direta ao consumidor; ele, nas compras, estoques e, principalmente, na decoração e disposição dos produtos.
Sim, enquanto dona Silla fidelizava o público no balcão, na compra "a caderno", um dos trunfos de seu Faustino era saber organizar as mercadorias de forma a chamar a atenção da clientela. Enlatados dispostos em formato de pirâmide, por exemplo, só eram vistos lá. Vitrines ricamente adornadas e sacos de produtos na calçada, para atrair a freguesia, também.
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Exímia vendedora
Conforme a filha Therezinha e a nora Ruth Santini, dona Silla era uma vendedora "nata". Sabia desde sempre que nenhum estabelecimento sobrevivia sem um bom atendimento e uma relação de proximidade com o consumidor. Tanto que Silla era procurada até em domingos e feriados, quando clientes fiéis necessitavam de produtos especiais para alguma visita de última hora - principalmente as famílias moradoras do Centro e arredores, como os Brugger, Eberle, Peroni, De Carli, Pezzi e Beretta, entre outros.
Com a morte de Faustino, em 1959, Silla seguiu na mercearia até por volta de 1961, quando o negócio foi vendido. Na sequência, a comerciante montou um pequeno armazém na Rua Marquês do Herval, entre a Júlio e a Pinheiro. Após o fechamento deste, Silla atuou por anos como caixa no Mariani Artefatos de Couro, sempre mantendo uma relação de proximidade com o consumidor.
Dona Silla faleceu em 1974, aos 63 anos.
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A família
Da união de Silla Mariani e Faustino Ulderico Santini, em 1º de junho de 1935, nasceram três filhos: Zilmar Renato Santini, Therezinha Lourdes Santini Meneghetti e Sarita Maria Santini. Na imagem acima, o casal em um registro de 1942, no antigo Studio Geremia, com Therezinha ainda bebê e o menino Zilmar.
Mais abaixo, Therezinha, Zilmar e a esposa Ruth Santini conferem uma das raridades sobreviventes dos tempos da Mercearia Caxiense: o livro de registro dos empregados. Lá estão fotos e dados pessoais de antigos funcionários, como Iradi Therezinha Della Giustina, Remo Giacomelli, Sergio Hermenegildo Mariani, Valter Giacomelli, Luiz da Silva, Eloá Bottini e Ivo Andrade dos Santos.
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