As origens de Caxias do Sul sempre estiveram em evidência na Festa da Uva. No retorno do evento ao calendário festivo da cidade em 1950, após o hiato de 13 anos decorrente da Segunda Guerra Mundial, foi a vez de o trabalho artesanal das pioneiras imigrantes italianas ser reverenciado.
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Idealizado pelo religioso Irmão Roberto, mais conhecido por Irmão Robertão, o Pavilhão Histórico-Cultural de 65 anos atrás abrigou um grupo de senhoras demonstrando a arte da tecelagem.
Fiando em antigas rocas e fusos e entoando melodias em dialeto vêneto, Maria Casal, então com 64 anos, Antonia Lusa, 80, Joana De Carli, 60, Angela Cassol, 77, Carolina Pegiorin, 74, e Ermenegilda Tonielo, 66, se transformaram em uma espécie de testemunho vivo da edição que homenageava os 75 anos da colonização italiana na Serra.
Festa da Uva de 1950: fiandeiras eram uma das atrações do Pavilhão Histórico-Cultural. (Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso/ Divulgação)O lugar também chamou a atenção do presidente Eurico Gaspar Dutra. Durante a visita, o general recebeu um pulôver de dona Carolina, uma filha de imigrantes nascida no Travessão Monte Bérico da 9ª Légua, em 1876.
A peça foi fiada da lã bruta e tricotada especialmente para o político, que em 1950 inaugurava a tradição de um presidente da República abrir a Festa da Uva.
Presidente Eurico Gaspar Dutra visita a Festa da Uva de 1950
Na Madeireira Caxiense
A Festa da Uva de 1950 ocorreu na área da antiga Cooperativa Madeireira Caxiense, no quarteirão onde hoje localizam-se os hipermercados Big e Zaffari.
Às vésperas do encerramento, um incêndio destruiu quase todo o Palácio de Festas, junto ao recinto da Exposição Agro-Industrial. O Pavilhão Histórico-Cultural, no entanto, foi salvo a tempo pelos bombeiros.
Festa da Uva: um parque e um incêndio em 1950
Na edição seguinte, em 1954, a festa ganhava sua sede própria, na Rua Alfredo Chaves (prédio da atual prefeitura).
1972: o último ano do Pavilhão da Festa da Uva
Heitor Celli
O Pavilhão Histórico-Cultural abrigava também móveis, objetos e utensílios dos primórdios da imigração e uma exposição de telas do pintor Heitor Celli. O artista, inclusive, retratou o governador Walter Jobim, outro visitante da festa.
Pavilhão Histórico-Cultural localizava-se na área da antiga Cooperativa Madeireira Caxiense. (Foto: Reno Mancuso, acervo pessoal de Renan Carlos Mancuso/ Divulgação)