Dia desses, conversando com um amigo, acabamos falando sobre o tempo, “um senhor tão bonito”, como versou Caetano Veloso. No caso, o tempo que dispomos e que destinamos aos outros.
Ele falava com empolgação de um ótimo momento profissional cheio de desafios (para usar uma expressão corporativa), de como estava focado no trabalho, em como precisava se dedicar a atividades diversas que dependiam essencialmente dele e em como priorizava isso em detrimento a outras áreas da vida. Tentava me explicar por que não conseguia manter algumas relações pessoais mais próximas e, embora determinado, queria me convencer que esse era apenas um processo transitório. Depois, à medida em que relatava suas experiências, acabou percebendo — e revelando — que se tratava de uma condição mais ou menos sistemática e que já tinha, inclusive, atrapalhado outros momentos da vida dele.
Escutei com atenção, tentando empatizar (sempre tento!), mesmo pensando bem diferente. Tentei entender, mas, quando percebi, já estava recitando aquela fala clássica do ex-presidente uruguaio José Mujica, no documentário Human (procurem!), que em 47 segundos reflete que “quando compramos algo, não o compramos com dinheiro, pagamos com o tempo de vida que tivemos de gastar para ter esse dinheiro”. E, na maioria das vezes, essa troca não costuma ser justa: o preço é muito alto. O tempo só acaba, ele não volta mais e não existe como aproveitar o que passou.
Observando um monte de gente reclamar que mal tem tempo para outras atividades que não sejam tarefas estritamente funcionais, percebi que o melhor que temos a oferecer a alguém é nosso tempo. E disponibilizar tempo para alguém é uma forma de expressão real de afeto e serve para demonstrar a importância do outro nos nossos dias. Não adianta só falar e não estar presente, né?
Tempo é, também, o que de melhor podemos desejar às pessoas. Literal e metaforicamente: que todos tenham consciência sobre a importância e a preciosidade dele. E que, assim, consigam colocar em prática os benefícios que pode trazer: que dê tempo de perdoar, de começar de novo, de olhar para si e de fazer melhores escolhas. Que nunca falte tempo para as reconciliações, para perseguir os sonhos, para mudar de ideia, para caminhar em busca da felicidade.
E, especialmente, que dê tempo de reconhecer isso. Repetimos desde a infância “o tempo tem tanto tempo quanto o tempo tempo tem”. Que o tempo seja o presente.