Os Racionais Mc’s cantaram muito antes da minha mínima compreensão de existência que a vida é diferente da ponte pra cá. Eu nasci do lado de cá e, pela força descomunal da minha mãe, pude conhecer o lado de lá.
Nunca fui aceita deveras nesse outro lado, mas tinha bases sólidas. Eles não tinham opção: choraram e me pagaram um bom salário. Eu não ri, nem chorei. Nunca comemorei. Do alto dos meus bons apartamentos alugados Brasil afora, desenvolvi insônia.
Ali por 2013, comecei a examinar a existência antes de dormir e nunca mais tive uma noite de sono decente. É que aprendemos o ofício, mas não o bem-viver.
Desde então, mil coaches, mil coisas. Tanto passou pela Câmara dos Deputados, não passou pelo Senado, morreu no STF. A democracia do Brasil é um alvo, igual ao pobre com poder de consumo. Igual a mim.
Temos poder, mas não afeto. Fazemos parte da estatística, mas não da consideração. Somos a munição, mas não nos dão o direito ao estouro. Acertamos em silêncio.
Eu tô aqui, ainda atravessando pontes, ainda lutando para ser vista e ouvida. A vida me moldou dessa forma, ensinou-me a não esperar nada além do que eu mesma posso conquistar. Aprendi a confiar apenas em mim mesma, a encontrar forças nas minhas raízes, mesmo quando o mundo tenta me derrubar.
Compreendi que a vida é diferente da ponte pra cá. Aqui, somos forjados na adversidade, aprendemos a sobreviver com pouco, a valorizar o que importa. Mesmo que o outro lado pareça mais glamouroso, a verdade é que a essência do que somos está enraizada neste lado. Aqui, encontramos nossa verdadeira força, construímos nossa identidade.
No fim, percebi que não importa quantas pontes eu atravesse, sempre serei do lado de cá. Isso não é uma limitação, é uma honra. É prova da minha resiliência, da minha capacidade de superar qualquer desafio. Sigo em frente, com insônia e tudo, carregando comigo as lições aprendidas e a certeza de que, independentemente de onde eu esteja, sou e sempre serei uma sobrevivente.
Os desafios continuam, assim como minha determinação. Cada passo dado é uma prova de que, apesar das adversidades, é possível vencer. O outro lado da ponte nunca vai entender completamente o que é ser do lado de cá. Eles veem as nossas conquistas, mas não sabem o peso das batalhas diárias, das noites sem sono, das lágrimas não derramadas. Somos invisíveis na nossa luta, mas nossa força é palpável para aqueles que sabem onde procurar.
E assim, permaneço firme, desbravando caminhos, construindo minha história. A vida pode ser diferente da ponte pra cá, mas é essa diferença que me define, que me fortalece e que me faz única. Sou fruto da resistência, da perseverança, e nada pode mudar isso. Então, sigo em frente, carregando comigo a certeza de que, não importa quantas pontes eu cruze, meu coração sempre estará do lado de cá, onde tudo começou.