O som com fôlego de liberdade
O instrumentista caxiense Vinicius Netto, filho de Itamar Machado da Silva e Silvia Corrêa Netto, é um virtuose da música. Nascido por estas plagas, em setembro de 1977, e radicado na capital gaúcha, é bacharel em Saxofone pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e um artista de grande expressão, que com seu talento até já abriu o show do ex-Beatle, Paul McCartney e se apresenta nos mais diversos tipos de eventos. Nestes tempos de recesso social, Vini aproveita os dias para realinhar novos rumos. Ele tem projetos que já começam a sair do papel, novo show, músicas autorais e um espetáculo para teatro. Nesta entrevista, conta que está vivendo o período mais produtivo de sua carreira. Virginiano, minucioso, pensa em viver no campo, no futuro. Confessa que possui uma conexão muito forte com a natureza.
Qual a canção que remonta a sua infância? São muitas, mas me recordo de uma em especial Bohemian Rapsody, do Queen. Essa foi a música que acendeu o meu coração, lá pelos cinco ou seis anos.
Qual é a sua história com a música? Venho de uma família de músicos, da parte da minha mãe, uma família com fortes raízes na igreja evangélica, onde todos cantavam ou tocavam em corais ou orquestras de sopros. Meu pai, trompetista do exército por muito tempo. Aos nove anos ingressei na escolinha de música da igreja onde minha família congregava. Aos 12, ganhei meu primeiro saxofone. Acredito que não segui esse caminho, a música que me capturou para cumprir um propósito.
E quais são as músicas que não saem da sua playlist? É muito variada. Vai do rock ao jazz e passa por diversas épocas e vertentes. Ultimamente um artista que não sai da minha playlist é o The Weeknd.
Se pudesse voltar à vida na pele de outra pessoa, quem seria? O CEO da Tesla, Elon Musk.
Qual a passagem mais importante da tua biografia e que título teria se fosse publicada? Enfrentar a resistência da família, largar quatro anos de curso técnico - que estava prestes a concluir - e me jogar de cabeça no sonho de ser artista. Um título? Eu vivi meu sonho.
Quais são as suas referências na área musical? Sempre ouvi muita coisa, desde pequeno minhas referências foram muito variadas: Rock, soul, a Black Music dos anos 1970, jazz e música instrumental quando o saxofone entrou na minha vida e, por último, a eletrônica, que abriu novas possibilidades na minha carreira e performances ao vivo.
Música boa é aquela que… toma o controle dos teus sentimentos e te leva a outro plano.
Quais conselhos dá para quem deseja investir na carreira artística? Dedicação. Existe um ditado que diz que “Talento é 1% inspiração e 99% transpiração”. Verdade. Busque referências, estude e para transformar talento em carreira, tenha bons relacionamentos. Hoje e sempre, um bom network é fundamental para que se cresça e apareça independente da área.
Como lidar com bloqueios e se manter criativo na atual situação mundial? Lido com otimismo. Cedo ou tarde essa situação vai acabar. Antes reclamávamos da falta de tempo; hoje, principalmente no meu setor, o tempo tornou-se muito mais disponível para criar e executar ideias que antes eram atropeladas pela agenda de viagens, shows e compromissos.
O que considera mitos da profissão? Acho que ser artista é uma profissão repleta de mitos e também preconceitos. Sabe aquela frase inglória que se ouvia tempos atrás? “Ah, tu é músico, mas tu trabalha com o que?”. Penso que isso vem mudando nos últimos tempos. As pessoas começam a ver onde a música te leva, que teus objetivos são claros e isso muda a visão de quem está de fora.
Dos artistas com quem dividiu o palco, quem é o virtuose? Dividi o palco com músicos incríveis ao longo da minha carreira. Quando era bem jovem me recordo da oportunidade de uma “canja” ao lado do grande “Guitar Hero”, o caxiense Rafael Schüler, que na época, era guitarrista da Lucille Band.
Quem é o ícone da música? Qual sua grande obra e por quê? A música é tão vasta. Acho impossível determinar um único nome ou obra. Para mim, Adolphe Sax, por transformar metal em música ao criar o saxofone.
Tocar um instrumento é um ato sagrado? O saxofone faz parte da minha vida há tanto tempo. Devo a ele tudo que conquistei e algumas das melhores lembranças que guardo no coração. Sem dúvida, é sagrado.
Qual canção mais reverbera dentro de ti? Atualmente, Going To California, do Led Zeppelin. Era a música que tocava quando minha filha nasceu e será para sempre a “nossa música”.
Fale sobre sons e silêncio: a estrutura básica da música. Som e silêncio não vivem um sem o outro e tem a mesma importância no contexto musical.
Em que tom observa o momento atual do mundo? Vivemos um divisor de águas, uma oportunidade pra revermos nossa maneira de viver, de amar o próximo e também tratarmos nosso planeta. Hora de olhar pra dentro e refletirmos no mundo que estamos construindo e o que deixaremos para as próximas gerações.
Um momento inesquecível de alguma apresentação? Fazer a abertura do show da lenda Paul McCartney, em 2010, para um público de 50 mil pessoas.
A melhor invenção da humanidade? O saxofone.
Gostaria de ter sabido antes… que o tempo passa rápido demais e devemos vivê-lo, intensamente.
Uma qualidade: a paixão com que vivo.
Um defeito: meu perfeccionismo.
Uma palavra chave: audácia.
Reflexão de cabeceira? “O que não é tração, é distração”.
Um hábito que não abre mão? Um bom café da manhã. Sem ele meu dia não existe.
Quais são os seus planos para o futuro? Estou há alguns meses com uma nova equipe de produção. Justamente a pandemia me deu o tempo necessário para parar e realinhar meus rumos. Alguns projetos começam a sair do papel, novo show, músicas autorais e um espetáculo para teatro. Estou no período mais produtivo da minha carreira e quero aproveitar isso. Para um futuro mais distante? Viver no campo. Tenho uma ligação muito forte com a natureza e acho que é uma tendência para quem tem uma vida tão agitada como a minha.
A grande música de todos os tempos? Difícil escolha. Acho que é um contexto tão particular. Deixamos essa para reflexão dos leitores: “Qual a grande música da sua vida?”.