Nunca levei muito a sério quem se leva a sério demais. É ótimo conviver com gente que ri de si próprio e olha com certa graça para as situações enfrentadas, considerando os inescapáveis eventos dramáticos. Poucas situações realmente devem nos tirar do prumo. Esse olhar leve, ligeiro, precisa ser aplicado nas relações amorosas. Casais que escrutinam cada dito ou gesto estão fadados a passar grande parte da relação colocando na balança qualquer pequeno ato vivenciado. É inegável a importância de falarmos sobre os nossos sentimentos, mas em demasia acaba desfocando o essencial: a convivência, o abraço, a cumplicidade. Colocar uma lupa sobre cada miudeza atrasa a possibilidade de usufruir da companhia, da partilha dos afetos. O melhor remédio sempre será o de relativizar o que nos acontece. Procuro praticar o princípio estoico de ver a realidade do alto e com distanciamento. Num átimo de segundo a gravidade é substituída pela insignificância. A novela mexicana se transforma em um folhetim. É aconselhável essa habilidade quando estamos entre amigos também. Relevar é a palavra mágica, abdicando de ter razão. Deixar passar, eis uma nobre intenção.
Já fui o mais sisudo dos seres humanos. Um chato. Tudo me feria. Excesso de sensibilidade trava a vida. Na juventude era sério e cheio de verdades. Com o tempo, percebi estar me tornando um homem triste e afastando as pessoas de mim. Um bom encontro me fez mudar de perspectiva. O meu mérito foi ter aderido a esse convite. Comecei a ficar parecido com o ser que admirava, ao invés de convertê-lo à minha religião. É uma questão de hábito. Repetir até ser natural. Hoje saio discretamente de cena ao me deparar com alguém propenso a escurecer o dia. Evito emprestar um minuto sequer da existência para quem se compraz em trair o propósito de ser feliz. Ressalve-se: é diferente de ser o que nega o lado sombrio da existência. Só procuro não retroalimentar algo que potencializa as dificuldades inerentes ao processo de estar no mundo, com seus reveses e contentamentos.
Tudo passa e bem mais rápido do imaginado. Se hoje despendemos uma energia imensa para alimentar o sofrimento, amanhã ela servirá de adubo para o esquecimento. Ao estar diante de uma criatura com ares de autoridade manifesta em cada discurso, lembre-o dessas verdades absolutas. Desenvolver um pensamento solar, positivo, não nos torna rasos, como se pode acreditar. Jamais dispenso comentários espirituosos. Aliás, provocar o riso é revolucionário. Por essa razão, os ditadores o excluem de sua cartilha repressora. É mais fácil dominar um bando de infelizes do que os de bem consigo. Um presumível tratado de Aristóteles (considerado perdido) versava sobre o tema.
Autoritários gostam de controle. Esquecem de dominar a si mesmos, caminho para a liberdade interior, como nos ensinaram os mestres da filosofia antiga. Pense nas imagens de Buda, do Dalai Lama, e de tantos seres iluminados. Lembramos deles pela sua benevolência e sorriso constante. Jesus deve ter sido assim. Com quem você deseja se assemelhar?
Senso aguçado de humor desarma, amacia a rigidez. O maior aprendizado nos chega pela alegria.