Fala-se muito na sociedade do cansaço. A nossa. Exemplifico: uma amiga de dezenove anos colocou como frase de destaque em seu Whats: “Constantemente exausta”. Veja só, nesta idade! Porém, deve ser a expressão exata para definir o seu sentimento. A inserção no mundo adulto passou a significar, para a maioria, essa certeza: tudo é pesado, greve. Inúmeras obrigações, demandas em excesso, necessidade de estar sempre se atualizando. Sinto pena, pois ao se desviar desse roteiro estão fora do mercado de trabalho. E tem gente estranhando os surtos de ansiedade e depressão que os acomete. Sintomas desconhecidos de outras gerações, pelo menos com esta intensidade. Em meu diagnóstico de psicólogo amador estamos, sem exceção, recebendo demasiados estímulos. E eles vêm de variadas maneiras. Aparelhos constantemente ligados, conexão em redes sociais, opiniões emitidas a granel. O cérebro tem dificuldade em assimilar tanto material. Aliás, li um estudo mostrando a incapacidade de absorver essa overdose de dados. O resultado é o caos mental, seguido de doenças de toda ordem.
Sou um devoto fervoroso do silêncio e da calma interior. Gosto do contato com múltiplas pessoas, mas preciso me aquietar e não entrar em colapso. Confesso já ter tido problemas em me desconectar. Sem perceber, comecei a responder mensagens antes de dormir e mesmo a acessar sites com conteúdos atraentes. Depois de alguns meses passei a fazer um considerável esforço para me concentrar na leitura, sobretudo em textos longos. Uma luz vermelha acendeu dentro de mim e comecei a me dar conta do perigoso caminho que estava trilhando. Gradativamente, iniciei um processo de desintoxicação. Está sendo complicado, mas aposto na habilidade humana de mudar hábitos. É uma sucessão de pequenas vitórias e inevitáveis frustrações. Quando se pensa na partida como ganha, voltam os tais dos impulsos e precisamos nos empenhar de novo. Permanecer inerte diante deste estado emocional pode ser tóxico, pois vamos desaprendendo a encontrar satisfação só com a própria companhia, por exemplo. E o risco está também no fato de inexistir um limite de satisfação. Queremos (é urgente!) cada vez mais. O que ontem me tornava feliz, hoje carece de uma dose maior. É uma escalada sem fim.
Acredito que chegaremos à saturação. Iremos até determinado limite, seguido de recuo. Nossa raça não se autodestruirá. No entanto, se continuarmos assim, deixaremos de viver algo primordial à condição de seres pensantes e de ação: a possibilidade do descanso. Ele será privilégio de poucos. Perseverarei na minha terapia de contenção. Internalizo em quantidade moderada o que o mundo despeja sobre mim. Meus antídotos estão na arte e na capacidade de ficar sem fazer nada. Estou reaprendendo a apagar as luzes cedo para observar o clarão das estrelas. Talvez eu ainda tenha salvação.