O amigo me surpreende com a expressão perfeita para definir muitos dos relacionamentos atuais: a prática da performance da indiferença. Você faz de conta que não quer, mesmo sendo o contrário. Ok, essa é uma tática antiga e sempre obteve excelentes resultados. Mas era pontual, digamos assim: arma utilizada pelos mais seguros, já sabedores da vitória antecipada. Hoje se disseminou - é uma espécie de epidemia ganhando status elevado entre os casais. Será bom ou ruim? O jogo amoroso é fruto do seu tempo, precisa ser visto sob o viés histórico. As pessoas namoravam e se uniam em obediência aos códigos vigentes, atrelados sobretudo a negócios, manutenção ou ampliação da fortuna entre famílias. Somos animais adaptando-se conforme os interesses postos diante da grande tabuleta de xadrez chamada vida. Pensando na flexibilização dos manuais de comportamento entre os parceiros, procuro suspender meu julgamento nesta questão. Sem, no entanto, deixar de me posicionar, emitindo opinião. O tema é inesgotável e tantas manifestações afetivas haverá quanto seres humanos habitando o planeta.
Vamos ao que nos toca particularmente. Arriscaria dar um palpite. Estamos imersos em uma abundância de ofertas, ampliada pela internet. Meia dúzia de fracassos não nos desestabilizam como antes. Então, fingimos que nem estamos aí. Bem semelhante com o olhar blasé. Posso estar “cobiçando” muito fulano ou sicrana, porém, sigo em frente, com ar de desdém. Isso engata nos outros a ponto de fazer aumentar o desejo por nós. De fato, funciona. Derramar-se em palavras, sem contenção, costuma trazer resultados insatisfatórios. Conheci seres adoráveis, gentis e educados, mas que iam somando frustrações ao longo dos anos. Eles deveriam ter vivido na época do amor romântico, entregues à poesia e o cancioneiro que faziam parte da nobre arte da conquista. Pois ficou quase fácil demais. Evito simplificar o mundo dos sentimentos, porém percebe-se a mudança radical desse complexo processo. Tem o seu charme, evidente. Contudo, é uma pedagogia para a qual tenho escassa paciência. Quando vejo acontecer ao meu redor, tenho a impressão de me deparar com um ator em cena, com questionáveis dotes de representação. As redes sociais ampliaram essas estratégias. É só sumir por alguns dias da tela (ou horas, seria correto dizer) para potencializar o apetite alheio.
Se estamos numa relação estável, é curioso colocar a lupa sobre determinados “truques” utilizados na dança de acasalamento. Anda-se trocando o contato real por simulacros de presença. E parece bastar. Simula-se, e nisto está a satisfação. Tranquilizemo-nos: daqui a pouco inventaremos algo novo. O que se vê agora é apenas mais uma carta posta à mesa. Ou a vontade de se divertir antes da sisudez reservada à maioria dos casamentos. Se é que eles vão continuar existindo, ao menos no modelo tradicional.