Os adolescentes andam falando cada vez mais de sexo, mas praticando cada vez menos. Trocam nudes sem parar, expressando escasso propósito de manter relacionamentos que exijam intimidade. Entende-se: é complicado aproximar-se de desconhecidos, ir tateando no escuro até estabelecer uma conexão. Porém, é o único jeito de sair do mundinho próprio e alcançar a necessária alteridade. A despeito dessas constatações nada animadoras, tenho a impressão que não estamos reinventando a roda. Apenas usa-se recursos diferentes, tentando driblar as dificuldades inerentes a todo contato. Em algum momento esse esforço em evitar os desafios de construção da vida a dois costuma ceder. Ainda é cedo para fazermos um diagnóstico definitivo. Prefiro ficar olhando em respeitoso distanciamento, fugindo dos julgamentos morais. Durante séculos o conceito de amor romântico inexistiu. Firmava-se contrato com as famílias e pronto. Se, apelando para a sorte, os casais se dessem bem, ótimo. Caso contrário, permaneciam presos em silenciosa aceitação, pois se esperava deles exatamente isso. Enfim, chegamos aqui, e talvez com os traumas amortecidos, como constatamos nas novas gerações, impregnadas de resíduos de idealização.
Faço as considerações acima depois de ouvir várias conversas enfatizando a importância da separação entre afeto e desejo. É uma conquista da qual muitos se orgulham. Pressuposto claramente masculino, vemos agora as mulheres reivindicando paridade. Parabéns. Há custos embutidos nessa visão, no entanto. Carrego comigo o anacrônico sentimento de que a noção de vínculo está sempre presente, apesar de tantos a substituírem pela palavra diversão. Ambos têm o seu lugar no abrigo da subjetividade e do emaranhado das emoções. Esquecemos o fato da demonstração do erotismo ser também um ato espiritual. Mesmo na banalidade dos encontros fortuitos, o corpo é somente parte desse milagre envolvendo a mais fascinante das sensações: a de quebrar a casca do eu, entrando num outro universo. Você pode conhecer uma pessoa na balada e, no final da noite, envolver-se fisicamente com ela. Leviandade? Não. De toda maneira, o impulso sexual carrega em si a manifestação da fome atávica de romper a solidão. Se disso derivar aproximação posterior e a vontade de conjugar o pronome “nós”, será maravilhoso. Porém, continua valendo, como um exercício, a satisfação a curto prazo.
Portanto, é bom suspender certos juízos e tratar de aproveitar o que nos é oferecido. Tudo se ajusta. Quem sabe os filhos dos nossos filhos voltarão a cultivar determinados ideais perdidos. Mantenho meu olhar positivo sobre o futuro. Aposto na sabedoria das escolhas que passam primeiro por adequações, até se firmarem solidamente. O princípio do prazer físico transcende a perpetuação da espécie: ele nos joga num tipo de eternidade. Embora, enganosamente, pareça durar tão pouco.