Os adolescentes andam falando cada vez mais de sexo, mas praticando cada vez menos. Trocam nudes sem parar, expressando escasso propósito de manter relacionamentos que exijam intimidade. Entende-se: é complicado aproximar-se de desconhecidos, ir tateando no escuro até estabelecer uma conexão. Porém, é o único jeito de sair do mundinho próprio e alcançar a necessária alteridade. A despeito dessas constatações nada animadoras, tenho a impressão que não estamos reinventando a roda. Apenas usa-se recursos diferentes, tentando driblar as dificuldades inerentes a todo contato. Em algum momento esse esforço em evitar os desafios de construção da vida a dois costuma ceder. Ainda é cedo para fazermos um diagnóstico definitivo. Prefiro ficar olhando em respeitoso distanciamento, fugindo dos julgamentos morais. Durante séculos o conceito de amor romântico inexistiu. Firmava-se contrato com as famílias e pronto. Se, apelando para a sorte, os casais se dessem bem, ótimo. Caso contrário, permaneciam presos em silenciosa aceitação, pois se esperava deles exatamente isso. Enfim, chegamos aqui, e talvez com os traumas amortecidos, como constatamos nas novas gerações, impregnadas de resíduos de idealização.
Ideais perdidos
Opinião
Erotismo e espiritualidade
O princípio do prazer físico transcende a perpetuação da espécie: ele nos joga num tipo de eternidade
Gilmar Marcílio
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