O mundo avança e retrocede, num eterno ir e vir de progresso e resistência às mudanças. Corroboro essa afirmação ao ler as intenções de um movimento de dimensões planetárias chamado Red Pill (pílula vermelha, referência ao filme Matrix)), pregando a supremacia do homem em relação à mulher. E onde isso começou? Nas redes sociais, claro. E não parece uma modinha passageira, dessas vistas todo dia nesse espaço democrático e tão afeito a revelar como os humanos podem ser tão... imbecis. Pois bem, o que pregam seus representantes? A superioridade do macho, obra-prima da criação. E a gente acreditando que certos conceitos estão definitivamente enterrados no passado. Tudo isso seria algo próximo do curioso, mas tem encontrado continuamente mais adeptos, gerando um engajamento de pessoas cada vez maior, com milhões de visualizações. O inominável se torna perigoso, enfim. A seguir, frases do catecismo dos seguidores: “O polo natural é o homem como líder e a mulher como liderada. Exerça uma autoridade protetora sobre elas e comande”. É possível produzir essas pérolas da misoginia e ganhar tanta ressonância? Se compararmos com exemplos do universo da política, para ficarmos no campo mais evidente, a resposta é sim.
Machismo, preconceito, onipotência. Palavras grifadas na mente desses seres obviamente afeitos a dominar, afastando a ideia de relacionamento saudável e paritário. A noção de igualdade passa ao largo de seus cérebros. Ou da falta de. Para alguns soa simplesmente ridículo; a mim, ameaçador. Por analogia, vale lembrar: muitos líderes populistas e autocratas, num primeiro momento, passam uma sensação de patético. Instaurados no poder, mostram sua força e eliminam todos os que se atrevam a pensar diferente. Prefiro permanecer de prontidão, pois nunca se sabe quando o ovo da serpente vai irromper. Após décadas de luta evidenciando o óbvio – gênero não define nada, é só uma condição biológica – eis a tal da masculinidade tóxica mostrando suas garras e pretendendo se tornar uma espécie de religião com mandamentos próprios.
É necessário manter-se atento à eclosão desse tipo de manifestação, evitando, assim, o retrocesso das conquistas civilacionais. Será preciso sempre buscar alguém para subjugar? Tanto tempo depois do início da revolução feminista ainda e estamos às voltas com falas que parecem ter sido extraídas da época medieval. Logo, logo esses “líderes” se sentirão autorizados a colocar em suas cartilhas o exercício da violência física. Em suas falas, dizem desejar apenas apossar-se de um lugar de direito, que lhe está sendo roubado. Da caricatura ao modus operandi, avança-se à galope.
Aos entusiasmados adeptos, eu diria: silenciem suas vozes, recolham-se. Mas é um desejo ingênuo, eu sei. O estopim da bomba já foi retirado. A estupidez se dissemina bem mais rápido do que a inteligência.