Com o passar do tempo, aumentam minhas dúvidas. Resisto, antes de emitir conceitos definitivos, pois mudamos constantemente. Desejo manter a mente aberta e rever verdades cristalizadas. Vale lembrar: a filosofia nasce do espanto, da ruptura com o que se convencionou, até então, ser inquestionável. Inicialmente, os deuses abrigavam todas as justificativas para os nossos atos — das benesses às tragédias. Quando a racionalidade ocupou seu lugar na dimensão humana, destituindo as explicações místicas, conquistou-se um largo espaço para o entendimento. Ao longo da história, porém, os homens se colocaram no centro do universo e a arrogância revestiu o comportamento de muitos. Como é possível, hoje, encontrar o equilíbrio em um mundo de convicções inabaláveis, banalizadas pela superficialidade? Uma pequena dose de humildade nos ajuda no aprimoramento pessoal. Esperar antes de emitir sentenças acabadas, pois podem não resistir a um escrutínio apurado. Disponibilizar-se para reconhecer os erros, tantos e tão variados. Baixar o tom de voz. Só proferir algo quando se analisou a questão sob diversos ângulos. Mas devo estar pedindo demais para uma época que adora o efêmero e direciona os holofotes às opiniões, sempre elas.
Um ser preocupado com seu processo de crescimento interior pondera, analisa, reflete. E sabe que é preciso, inúmeras vezes, silenciar. Por que gritar nas redes sociais, ampliando a nossa voz para se destacar entre milhares, milhões? Tudo vira produto, como nos ensinam os analistas sobre o poder devastador do auto marketing. Tento evitar comentários sobre conteúdos que ainda não domino. Claro, depois de determinada idade, nossos arquivos internos se tornam suporte para uma compreensão apurada do que nos cerca. Para isso deve servir a tão propalada maturidade. Mas, atenção: é preciso trabalhar e trabalhar, caso contrário o cérebro atrofia, como músculos pouco utilizados.
Olho e refreio o ímpeto egocêntrico de sair por aí considerando-me uma autoridade sobre tal assunto. Como nas famosas palavras de Sócrates: “Só sei que nada sei”. Quanto mais investigo e aprendo, mais se revela a minha ignorância. A arte e a história me mostram a extensão de tudo o que foi construído pela nossa civilização. Somos grãos de areia. O mar nos é desconhecido. Gosto sobretudo de observar. Troco o impulso pela decantação, deixando que tudo vá adquirindo forma consistente no vasto campo das ações. Nossas âncoras já não são mais plantadas em terreno sólido. No superficial encontramos tábuas de salvação para encobrir a incapacidade de traduzir o que nos ultrapassa. Meu interesse vai além do abstrato, busco compreender o que acontece agora, sem ignorar o longo processo civilizatório que nos permitiu chegar até aqui. Ampliar a esfera do conhecimento. Esforçar-se em fazer e dizer melhor.
Tudo é provisório, incerto. Inclusive o que acabei de escrever agora.