Se uma pessoa está depressiva, uma das frases recorrentes que ouve é esta: “Você precisa se ajudar.” Na maioria das vezes, ela intensifica o sentimento de culpa de quem está neste estado emocional. Acreditamos, enganosamente, bastar somente o empenho para alguém sobrepor a alegria à tristeza. À luz de recentes estudos da neurociência, essa afirmação cai por terra. Segundo descobertas, vale bem mais a mudança de ambiente, o deslocamento espacial. Claro, a disciplina e a determinação têm um papel importante na construção de uma existência plena, mas inúmeros elementos igualmente essenciais participam. Vai aqui um exemplo: continuo me perguntando o que mantém dois seres atrelados numa relação amorosa tóxica, provocando a deterioração de sua liberdade e o gosto pela vida. É uma questão complexa, nem sempre a disponibilidade de ferramentas internas é capaz de romper as amarras causadoras da dor. Afastar-se, eis a única solução. Essa mecânica vale para quase tudo. Desde pequenos e prosaicos atos dos quais participamos com discreta disposição, até a manutenção de vícios responsáveis pela incapacidade de fazermos opções autônomas, pois viramos reféns dessa servidão.
Romper com hábitos é muito difícil. Viver sem... quem consegue?. No máximo, os substituímos por outros. E aí está a chave para abrir múltiplas portas. Repetir comportamentos não é necessariamente ruim, desde que promovam conforto e bem-estar. E isso se dá através da expansão da consciência. As recompensas advindas do uso indiscriminado de bebidas, cigarros, drogas, jogos ou sexo, nos faz retomar o desejo de consumi-los novamente. O cérebro nos reconecta com aquilo que dá prazer, evitando julgar moralmente se é bom ou ruim. Ficamos dependentes da dopamina gerada e a razão conta pouco nesta equação. Diante de tais situações, e de forma leviana, passamos a exercer a tarefa de acusadores, esquecendo a fragilidade de quem sucumbe a algo fora de seu controle. É comum nos sentirmos impotentes diante do que nos fere. Aí fica complicado expulsá-lo de dentro de nós.
Um amigo me conta ter passado dias visitando sites eróticos com o único propósito de marcar encontros sexuais. As ofertas vinham a granel. Mas quando se via sozinho sentia um profundo vazio na alma. Depois de refletir, deletou tudo do seu celular e começou a caminhar num parque no final da tarde. Sente-se pleno, em suas palavras. Agora quase nem pensa sobre isso, me diz. Ele se esforçou, claro, mas o determinante foi ter trocado um ambiente interior nocivo por um exterior saudável.
Acompanhar um processo de transformação é instigante. Ele exige perseverança e paciência. Na base de tudo está o tempo e a consequente capacidade de saber esperar. Para quem pretende se tornar um ser humano melhor, estão postas as cartas sobre a mesa. Precisamos escolher as melhores. Caso contrário, corremos o risco de sermos vencidos por nós mesmos.