Dias de reflexão. Por onde passo, me deparo com seres apáticos ou raivosos. Nas ruas, as conversas giram em torno de política, religião e crise. Salvo-me dessa saraivada de sentimentos nefastos consumindo arte. Filmes e livros reavivam em mim a sensação de ainda ser possível seguir acreditando no ser humano. A história é feita de ciclos de apogeu e declínio. Se o momento é complexo, mais uma razão para ir em busca de saídas que fortifiquem a saúde emocional, evitando medicar-se para conseguir ir adiante sem desmoronar. Cada um procura seus recursos de sobrevivência, pois há um limite para suportar a dor sem anestesia. Nunca se deve julgar o mundo interior de ninguém. Felizmente, também esbarro em pessoas que estão convictas de continuar vendo o melhor do que é oferecido na vida. Rasgam, com sua sensibilidade, a espessa parede a separá-las do sol, exultantes pelo fato de estarem saudáveis, manifestando-se com entusiasmo. Acolhendo com otimismo. Se me perguntam como estou, minha resposta costuma ser: muito bem. Parece despertar no interlocutor o desejo de copiar o exemplo. Não quero ser como uma amiga que, ao ouvir o relato de algum fato ruim, responde: “E eu, então, tu nem fazes ideia pelo que passei”. Sua aflição é incomensurável, preferindo encarnar o papel de vítima, alguém destinado a sofrer pela eternidade afora.
Folheio uma obra do filósofo Espinosa e me deparo com uma proposição fundamental para o entendimento da nossa condição. Para ele, são de duas ordens as paixões: as alegres (nascidas no nosso íntimo) e as tristes (nascidas de uma causa exterior). As primeiras aumentam a potência, promovendo o bem-estar físico e espiritual. As segundas resultam dos encontros responsáveis pelo enfraquecimento da alma, diminuindo a capacidade de usufruir o que é oferecido. Ofuscam, dessa forma, o prazer gerado pelas atitudes frente aos desafios. Ao fim, conclui: o valor está mesmo nas ações, na interferência real. Sempre acreditei nisso, sendo este o caminho para nos salvarmos, pois, sem perceber, podemos virar nossos maiores inimigos. É premente tomar decisões corretas, transformando os alimentos afetivos em um remédio para a alma. Tenho tentado escapar dos extremismos, mantendo-me sadio em meio a esse caos testemunhado cotidianamente. A ansiedade e a depressão rondam. Talvez por necessitarmos escolher o tempo todo, ao contrário das gerações anteriores, estabilizadas em juízos de valor perpassando os séculos. É bom e ruim. Por um lado, aquieta a mente, fazendo-nos habitar terrenos já conhecidos. Por outro, há pouca evolução na maneira de erradicar os preconceitos passados de pais para filhos. É nesse pêndulo que precisamos nos equilibrar. Difícil, mas necessário.
Sigo por aqui observando com gosto renovado tudo o que me cerca. Sou a mistura fascinante de impulsos positivos e negativos. Sinto-me disposto a olhá-los e detectar os frutos das boas e das más escolhas, separando as ilusões da sabedoria.