Numa aprazível tarde de primavera recepciono dois jovens em visita à galeria de arte onde trabalho. Simpáticos, atêm-se às informações que lhes forneço sobre a artista em exposição. Percebo atenção genuína pela minha fala. Fazem perguntas e mostram ótimo conhecimento sobre as técnicas utilizadas nas obras. Entusiasmado, indago-os sobre seu interesse pela cultura em geral. Um é apaixonado por cinema, especialmente filmes clássicos. O segundo se diz atraído por textos mais reflexivos. No momento está fascinado pelas Meditações, livro do imperador e filósofo Marco Aurélio — a propósito, minha Bíblia filosófica, relido com constância. O monitoramento que fazemos costuma se dar em poucos minutos, permitindo aos visitantes uma apreciação a partir de um olhar particular. Nessa ocasião, sem ter me dado conta, falamos aproximadamente por uma hora. O tempo realmente ganha um caráter subjetivo dentro de nós. Convido Rafael e Augusto — são os seus nomes — para outra conversa futura e eles aceitam prontamente. O dia termina de maneira agradável e sigo para casa feliz.
No início da noite dou-me conta do equivocado conceito atribuído aos jovens como sendo alienados e revelando escasso apetite pelo conhecimento. Pois ele parece se esfacelar à luz de alguns encontros. Ainda é possível nos depararmos com uma gurizada que se sente atraída por criações de alto teor artístico. Leem, frequentam salas de espetáculos, se deliciam com música de qualidade. Claro, é provável serem minoria. Mesmo assim, representam um sopro de esperança nesses nossos dias impregnados de redes sociais e obsessão por celulares. Manter boa relação entre o mundo real e o virtual pode ser a solução, evitando extremismos. Não são excludentes, apenas se movem em direções contrárias para, no final, convergirem num mesmo ponto. Esses jovens revelam-se bastante críticos, tornando horizontais os relacionamentos antes baseados na autoridade definida prioritariamente pela faixa etária. As pessoas da geração anterior os olham com certo desdém, por se considerarem detentoras de sabedoria, sempre prontas a lhes dar lições de como devem agir. Recuso-me a fazer parte dessa turma. Adoro, por exemplo, dialogar com meus estagiários. O fosso geracional se transforma num exercício de aprendizagem. Evito julgar, apenas ouço. Mantenho um contato baseado no prazer recíproco de estarmos juntos.
Costumo esquecer com frequência a idade que tenho, mas distanciado do desejo de voltar a ser moço. Apenas me apraz estar próximo de pessoas de todas as faixas etárias. Escuto com real disposição suas histórias e experiências. E guardo essa certeza: são mais livres e libertos de inúmeros preconceitos. Ensinam-nos a viver com leveza, longe das amarras das ideias fixas, inquestionáveis. A isso se chama evolução. A natureza humana agradece.