A liberdade não é uma condição natural do ser humano. Ela precisa ser conquistada. Desde a infância sofremos sucessivos condicionamentos que nos induzem à tomada de decisões, levando-nos a construir o pensamento sobre a realidade a partir do senso comum. A dificuldade em desenvolver noções críticas pode nos incitar a reproduzir de maneira quase inconsciente uma sucessão de posturas equivocadas. A passagem do tempo nem sempre nos torna automaticamente mais sábios. É necessário atenção e vigilância. Esse projeto, que deve ser iniciado bem cedo, pressupõe o estudo de si mesmo e das circunstâncias ao nosso redor. Autoanálise e reflexão costumam ser bons caminhos. Vamos nos desvencilhando de preconceitos e colorindo a existência com matizes próprios, acrescidos de vontade e empenho para chegar aos anos finais libertos de tantas amarras. Costumo dialogar bastante comigo e coloco uma lupa nos comportamentos que me norteiam. Considero importante não ser somente um homem de ação. É pouco significativo, em termos de crescimento interno, ser guiado só pelo fazer. A ampliação da consciência passa pelo escrutínio das verdades estabelecidas, tantas vezes distantes da razão.
Desde o iluminismo, nos indagamos a respeito da pertinência das crenças e superstições. Até então, a maioria das sociedades era regida por estreitos códigos morais ditados pela religião, rivalizando na criação de leis ou regras tanto ou mais do que o estado. Pensadores como Voltaire e Diderot, ao custo de severas punições impostas pelos detentores do poder, partilharam com o povo submetido aos ditames de pequenos grupos de mandatários a possibilidade da autonomia nas escolhas. O conceito de interdito predominava então. Hoje, depois da ciência ter rompido com uma série de dogmas, temos à disposição arsenais de conhecimento para nos conduzir a um modo de vida autônomo. Não se pretende aqui minimizar a pertinência da fé como elemento valioso a nos consolar quando nos deparamos com o mistério de uma possível transcendência. Ruim é depositar nas mãos dos outros essa dádiva recebida: a capacidade de discernimento. Claro, evitar questionar-se é uma opção segura e âncora para muitos, mas traz consigo inúmeras limitações para alcançarmos a plenitude e a felicidade. Valho-me dos grandes mestres para encontrar a retidão. Alguns deles repousam nas prateleiras da minha biblioteca.
Combato a ignorância visitando, através da arte, outros séculos. Tento entender a maneira como encararam os desafios de sua época. Também são pilares valiosos para as pessoas de convivência próxima. Observo, interessado, seus pontos de vista. Sou o resultado dessas relações. Medito, refaço roteiros interiores para usufruir desse presente da natureza. Reconhecer os erros é o melhor dos acertos. Nada é mais relevante do que manter os olhos abertos, atento às aprendizagens posteriormente transformadas em atos.