O que você prefere: viver mais ou melhor? Uma ampla pesquisa realizada no país recentemente revelou dados preciosos que nos ajudam a entender a mecânica da nossa época. A conclusão: os ricos optam por prolongar a sua vida até o derradeiro limite e os pobres optam por priorizar a sua qualidade. Realidades que implicam em escolhas diferentes. Para os primeiros, boa conta bancária costuma facilitar o acesso a quase tudo, incluindo aí conforto e plano de saúde. Consequência: a possibilidade de ter uma velhice agradável aumenta exponencialmente. O enfoque direciona-se a questões diversas, como retardar ao máximo as doenças inerentes a esse período. Assim, apesar de seus reveses, pode ser altamente gratificante. Ao contrário, pessoas com carência material colocam em sua lista boas condições financeiras, passando seus últimos anos de forma aprazível, no afã de finalmente poder deixar de lado alguns tormentos, devolvendo-lhes a tranquilidade tão sonhada. Opções opostas, mas em comum o desejo de encerrar a estadia por aqui libertos de tantas amarras.
Quem é abastado acaba por privilegiar o tempo, talvez por ter passado sua juventude e maturidade correndo compulsivamente atrás de dinheiro. Assim, o luxo supremo passa a ser a disponibilidade para, enfim, desfrutar a existência. Bem no fundo querem tudo, sem se dar conta ser altamente improvável de alcançar. Quando percebem, já pode ser tarde demais. No outro extremo, os que passaram a quase totalidade de seus dias simplesmente tentando sobreviver, colocam na base da pirâmide a vontade de conseguir, enfim, o tão sonhado relaxamento. A consciência da finitude pode ser um balizador do modo de pensar. Em ambos os casos, a juventude significa eterna disponibilidade, procrastinando os questionamentos. Natural ser assim, pois a própria biologia se sobrepõe a qualquer cuidado acerca de um futuro tão longínquo, distante do real. Apesar da divergência das respostas em relação às posses, é preciso levar em conta alguns valores imperativos dos nossos dias. Entre eles, sobrepõe-se a pretensão de certa imortalidade: a ciência como um deus absoluto, curando-nos dos malefícios físicos. Mesmo os bem carentes não negam o seu desejo de chegar aos 120, 150 anos - expectativa com a qual os cientistas já trabalham.
Qual é o seu horizonte, afinal? Pergunta que deveria nortear a filosofia de todos. O foco maciço na preservação do corpo a custo geralmente altíssimo pode representar um dos equívocos da mentalidade contemporânea. A morte parece ter sido expulsa do cotidiano, tornando-se acanhada. É um engano, cobrando alto preço. De pouco vale adiar a partida sem usufruir com qualidade esse milagre que nos foi dado. Somos seres ávidos, tantas vezes esquecidos do essencial: vale mesmo é a capacidade de fazer de cada etapa um projeto de felicidade.