Quem já não ouviu falar dos onipresentes algoritmos? Muitos veem nesse invento tecnológico uma revolução do conhecimento humano. Você digita no Google a palavra “gastronomia”, por exemplo, e daquele momento em diante passará a receber inúmeros links relacionados ao assunto. É uma maravilha e uma chatice. Ok, um bom tempo foi economizado, porém seu interesse não se restringe unicamente a isso. Mas o danado insiste: tudo passa a girar sobre o seu universo alimentar. E aí está o grande problema, haveremos de concordar. Se, por um lado, essa ferramenta é um facilitador, reduzindo drasticamente a busca em um universo de informações que se multiplica exponencialmente, por outro, termina nos direcionando para um mundo monolítico, criando uma espécie de bolha, um casulo. O encantamento passa e é rapidamente substituído pela irritação, pois mesmo variando seu cardápio, ele insistirá em lhe mostrar algo análogo. Os serviços de streaming são campeões nisso. Basta ter assistido a meia dúzia de filmes e séries de suspense e você jamais se livrará de uma penca de sugestões semelhantes. Como se pretendesse passar seus próximos dez anos apreciando exclusivamente esse gênero cinematográfico.
Tornaram-se também armas potentes na divulgação das fake news. Disparadas continuamente para um mesmo grupo, reforçam ideias costumeiramente destinadas a maus propósitos. Sabe-se de diversas eleições ganhas nesta base. E, uma vez instalados no poder, os novos líderes poderão contar com uma força avassaladora na disseminação de seus nefastos projetos. Nada mais eficiente para dominar e converter séquitos de pessoas, perpetuando o que deveria pertencer à ordem apenas do pontual. De minha parte, procuro “enganar”, se posso assim dizer, esse sistema tão incensado. Como o faço? Diversificando tanto quanto possível. Ao menos serei contemplado com indicações múltiplas, extrapolando o conteúdo acessado em determinada ocasião. Tenhamos cuidado para não nos transformarmos em seres preguiçosos, desejando encontrar o que queremos com um simples click. Sempre considerei a dificuldade um instrumento potente na formação do caráter. O que chega fácil, acaba se desvalorizando por sua própria natureza. Desafiar e sentir-se desafiado é um excelente recurso para escapar disso.
Esse avanço (alguns analistas consideram um retrocesso) parece ter chegado para ficar, afetando praticamente todos, indiscriminadamente. Ele se infiltrou na educação, economia, arte e em áreas bem prosaicas da existência. O que fazer? Usufruir com moderação e consciência, sabendo de seus riscos e benefícios. Afinal, situamo-nos além dessa reduzida paleta de gostos apregoada pelas máquinas. Variedade e diferença – uma boa receita para manter intacto o sabor da vida.